Lamentável
ter de concordar com a afirmação de Jô Soares. Contudo, a prova é a GREVE, a mobilização que continua, apesar de ineficiente, ser uma das poucas “ARMAS” que
o professor dispõe. Explico. Já participei de muitas greves. E, se tem uma coisa
que constatei é que a CLASSE DOS PROFESSORES É DESUNIDA; sobretudo quando se
trata de greve, cada um olha para seu próprio umbigo e pronto. As escolas
continuam funcionando parcialmente, algumas de forma integral. Cadê o desejo de
LUTAR? Cadê a INDIGNAÇÃO? Cadê o exemplo de CIDADANIA que devemos deixar para nossos alunos?
Não adianta
ficar SOMENTE NO DISCURSO, reclamando em corredores e em sala de professores. É
preciso ação. Estou fazendo apologia à greve dos professores sim. Tenho orgulho
de quem “perde” um dia inteiro, enfrenta polícia, fica extenuado nas
paralisações para, depois, TODOS OS ACOMODADOS, receberem as migalhas que o Governo
nos oferece à custa daqueles que foram pras ruas e, por isso, terão descontos em seus
salários. Certamente a greve seria mais curta e eficiente se contasse com apoio
de todos; ou seja, ESCOLAS FECHADAS. Por que o metrô para por algumas horas e o
Governo resolve e negocia tão rapidamente? UNIÃO. E, com certeza, ele (o
Governo) entende que o transporte é muito mais importante que a educação de
qualidade...
O mais
contraditório é que até os usuários de maconha conseguem ser mais unidos na marcha
pela liberação da droga... Em outros
países, um número cinco vezes maior de estudantes se une e vai para as ruas reivindicar
ensino de qualidade. A copa de 2014
mobilizará o país inteiro, em detrimento da fome e da miséria, e a EDUCAÇÃO
continua relegada a segundo, terceiro... Planos (se é que está nos planos de alguma
autoridade). Mas, como diria Renato Russo: “VAMOS CELEBRAR COMO IDIOTAS A CADA
FEVEREIRO E FERIADO (...)”. Todos tem o direito de discordar da minha posição.
Porém, então, apresentem uma solução mais eficiente, pois, historicamente,
todas as parcas conquistas do professorado foram por conta das greves bem sucedidas... Isso há muito tempo atrás, num reino tão, tão distante...
Vivemos
um paradoxo. Por um lado, a maioria de nós (quero crer) gosta do que faz e,
portanto, está SATISFEITA. Por outro, somos mal
remunerados, trabalhamos em mais de um emprego por dia, enfrentamos a pressão
constante do “sistema” para aprovar alunos que mal sabem ler e escrever - trabalhamos
com classes superlotadas e mais uma série de fatos que ESTAMOS
CANSADOS DE SABER.
........
Inegavelmente, esta é uma
situação perturbadora para um profissional que, minimamente, precisa de
tranquilidade e de equilíbrio para exercer suas funções. Estamos na contramão
das empresas do Primeiro Mundo, que se preocupam com o bem estar físico e mental
de seus funcionários, tais empresas costumam investir em “descansos”
remunerados e intercalados em horário de trabalho, ginástica laboral e até em
massagens expressas ao longo do período (conheço alguns bancos aqui em São
Paulo que já fazem isso).
Durante o período em que
estamos com os alunos ocorrem as mais diversas situações. O que é normal (e até
encantador a meu ver – não há monotonia!); porém, lidar com tantas situações e
dificuldades adversas causa um desgaste que, gradativamente, mina nossa resistência,
nossa satisfação e nosso prazer em ensinar. Há alguns anos, observando os
colegas de profissão num apalestra, percebi que quase todos tinham uma
fisionomia muito parecida: a testa tensa e franzida, lábios “duros” e
inclinados para baixo (denotando uma expressão triste) e olhos opacos. Neste
dia, fiz um pacto com uma amiga (até hoje falamos sobre isso e reparamos uma na
outra). Prometemos que quando começássemos a perceber estes sinais de INSATISFAÇÃO uma na outra, no sentido de nos tornarmos
carrancudas e amargas, imediatamente, comunicaríamos o fato.
Diante disso; ou seja, dos
problemas e das consequências advindas da insatisfação docente, costumo optar
por uma decisão muito particular e radical: ou trabalho feliz ou me afasto. O
que não pode acontecer é descontar nos colegas de trabalho, na equipe gestora e
muito menos nos alunos, as nossas frustrações profissionais (e PESSOAIS; sim,
porque PROFESSOR TEM VIDA PESSOAL!). E isso
ocorre com muita frequência. Não vou mentir. Sempre senti um certo “desprezo”
(raiva até) pelos docentes que berram (o que
é diferente daqueles cujo tom de voz é naturalmente alto) com seus
alunos. AS PALAVRAS PESAM de acordo com os
sentimentos contidos nas falas. Então, o problema não é exatamente o tom de
voz, que é peculiar de cada professor, mas a carga emocional que é somada à
palavra. E, neste caso, um berro ou um cochicho ameaçador ao pé do ouvido podem
machucar na mesma proporção.
Neste
instante me vêm à mente os versos de Cecília Meireles, interpretados por Fagner
na música “canteiros”:
“(...) E eu ainda sou bem moço pra
tanta tristeza.
E deixemos de coisa, cuidemos da
vida,
Pois se não chega a morte ou coisa
parecida
E nos arrasta moço sem ter visto a
vida. (...)”
Isso nos remete à constatação
de que docentes insatisfeitos envelhecem muito mais rapidamente. Observem. SOMOS MUITO JOVENS, como diz o verso de Cecilia
Meireles, pra tanta tristeza. E, o convite pra cuidar da vida, não quer dizer:
“vamos deixar de lecionar” e sim “VAMOS LECIONAR COM A
DIGNIDADE QUE MERECEMOS!”; no sentido de ter VIDA
PRÓPRIA. Sei bem a diferença entre lecionar para 10-12 alunos e lecionar
para 35-40. A qualidade de ensino e de vida é outra. Merecemos atuar com
satisfação. Não reivindicar isso é o mesmo que se AUTO
VILIPENDIAR. E a primeira vítima será o aluno e, depois, nós mesmo, geralmente
de forma tardia, quando já estamos nos privando de uma série de atitudes que
nos tornam melhores (passeios em família,
namoro, cinema, boas leituras etc.). A propósito, já repararam na
quantidade de docentes que estão “sozinhos” (divorciados, solteiros)... Isso me ocorreu porque pessoas
insatisfeitas, via de regra, são MUITO CHATAS.
Enfim, a satisfação é
essencial. A alegria é essencial. O desejo é essencial. NOSSA VIDA É ESSENCIAL. Estar com quem amamos é essencial. Fazer o
que amamos (no caso lecionar) é
essencial. E isso tudo não pode “se perder” sob uma pilha de provas pra
corrigir no final de semana; numa dor de cabeça que senti durante o trabalho e,
que piorou ao chegar em casa; nos gritos que não se ouvia até bem pouco tempo
atrás... Então, reivindiquemos salário, jornada menor, menor número de alunos
por sala; mas, sobretudo, MAIS QUALIDADE DE VIDA PARA O
DOCENTE, esta espécie em extinção.
Taare Zameen Par – Every Child is Special, com tradução de " Como Estrelas na Terra - Toda Criança é Especial" é um filme de produção indiana e uma obra prima do até então ator e produtor Aamir Khan, que no filme assume o papel do professor Ram Shankar Nikumbh.
O filme é o relato da história de Ishaan Awasthi, um garoto de nove anos, disléxico, que é incompreendido pela escola e sofre pelo desconhecimento e abandono dos pais, que se preocupam apenas em torná-lo produtivo, competente para o trabalho e apto à concorrência.
Na escola, Ishaan é dispersivo e encanta-se com um mundo que só ele vê. A mente criativa e prodigiosa do menino é ignorada pelos professores. Na sala de aula, os algarismos da prova adquirem vida e travam com ele, uma incrível batalha intergalática. Ishaan ignora os significados dos códigos, para ele o mundo é de um colorido e de um ritmo bastante diferente do que vive na sala de aula. Ele se encanta com o vôo das borboletas, com os pássaros que alimentam os filhotes e com os pingos da chuva nas poças d'água. As nuvens são seu chão firme. O menino sonha e seus sonhos não cabem no currículo escolar.
Diferente dos outros, Ishaan sofre. Rotulado e estigmatizado, se isola. Reprova de ano e é encaminhado pelos pais a um internato que costuma usar como marketing institucional explicar aos pais que são os melhores domadores de cavalos selvagens. Ishaan é entregue e própria sorte, abandonado intelectual e emocionalmente, tido como preguiçoso, relapso, desorganizado. Nada mais faria sentido pra ele, se Ram Shankar Nikumbh, um professor substituto não cruzasse seu caminho e o resgatasse desta triste história.
“Taare Zameen Par – Every Child is Special", é um filme questionador e instigante. Nos faz pensar sobre tantos Ishaans que por nós podem ter passado, incompreendidos, encaminhados equivocadamente à escolas especiais, excluídos, rotulados. Nos apresenta possibilidades de repensarmos os discursos que usualmente utilizamos para constituir os sujeitos os quais denominamos não aprendentes. Surge o desafio de que nos interroguemos sobre a educação, a escola, o currículo, as competências, os alunos e as alunas, as diferenças, os olhares, os discursos, o padrão, o normal, o fazer e o nosso não fazer pedagógico. Desafia-nos a desapergar-nos da ideia das correções, para pensarmos outras relações de ensino e aprendizagem a partir das diferenças e a possibilidade de uma inclusão das diferenças na escola, uma oportunidade para estudar e experimentar pedagogicamente outras representações de diferença que escapem ao normalmente instituído pela escola como o lugar do desvio, da anormalidade ou da deformidade. Chama a atenção para como temos olhado e significado a "falta de atenção", "os erros", o "mau comportamento", "a falta de interesse", 'a incapacidade de ler e escrever" e tantas outras formas de interpretarmos o cotidiano de uma criança que não está aprendendo.
É um filme que emociona pela produção, pela trilha sonora, pelas imagens, pela sensibilidade com que foi criado, mas acima de tudo, pelo sentimento de que pela educação podemos impregnar de sentido a vida das pessoas e como dizia Paulo Freire, entender que ensinar e aprender não pode se dar fora da boniteza e da alegria.
É preciso que ensinemos os saberes do mundo, mas também, que ensinemos e aprendamos os saberes do coração.
Não vamos iniciar este artigo afirmando que começamos este blog despretensiosamente.
Seria MENTIRA. Foi exatamente o contrário. Começamos com muita pretensão, FOME
e crença de que teríamos muitos parceiros (educadores profissionais ou não os
educados e educadores da VIDA!). E isso tem s e consolidado um pouco a cada dia.
São mais de 5 000 acessos dos mais variados locais do Brasil e do mundo (como
mostra o quadro Live Traffic Feed do blog).
Saber que
há tantas pessoas COMPROMETIDAS com a educação e que COMPARTILHAM de nossos
ideais é intenso e gratificante. Cada
vez que dialogamos com uma pessoa que comentam os artigos, a “TEIA” se torna
mais resistente. Pois, se há uma coisa
da qual necessitamos é resistência, o que
é possível apenas quando nos unimos.
Diante
disso, nós temos a agradecer a TODOS que até agora acessaram e participaram
deste blog. Isso nos dá certeza de que a educação, mesmo capenga como está,
ainda tem jeito, que NÃO SOMOS CULPADOS pelo seu fracasso; que há muitos
interessados em melhorar a qualidade da educação e; sobretudo, a QUALIDADE DE
VIDA DOPROFESSOR. Porque posso afirmar, com toda convicção que um PROFESSOR
INFELIZ É INCAPAZDE ENSINAR. A questão é o que as autoridades fazem para que
exerçamos nossas funções felizes? E, mais, o que nos deixa felizes... De
verdade? Então, continuemos a busca pelas respostas e pelas realizações:
JUNTOS!
Gratas a
TODOS e FELIZES em reencontrá-los sempre por aqui!
-
“Na hora que começa a briga, o professor
não intervém?” (REPÓRTER)
-
“Somente após alguns minutos”.
(ALUNO)
Por Mari Monteiro
Engraçado, a pergunta deveria ter sido:
“E as autoridades educacionais não
intervém?”. Mas, agora, já é de praxe. A culpa é sempre do professor. Não
podemos esquecer que caso o professor tocasse nas alunas, as mesmas poderiam
alegar alguma forma de assédio e até agressão. E, desde quando estudamos “técnicas de MMA nos cursos normal Superior
ou nas Faculdades relacionadas à educação”?
A sala de aula há muito tempo, deixou
de ser local de respeito mútuo e de aprendizado. Na maioria dos casos, o
professor exerce múltiplos papéis e as aulas propriamente ditas ficam reduzidas
a 20 ou 30 minutos, devido às intervenções feitas: conversas solicitando
silêncio, temáticas envolvendo ética educação (aquela educação que já caberia
ao aluno trazê-la de casa, imbuída em seu comportamento...).
Contudo, cada vez que nós, professores,
fazemos tais intervenções (apagando fogueira), assumimos uma responsabilidade
que NÃO É NOSSA. Deste modo, fica bem fácil para
o governo e para a mídia (porque eu deveria poupá-la?) de colocar
a culpa no PROFESSOR, que também não passa, em
casos como este, de uma vítima da situação e que, por inúmeros motivos sente-se
“desarmado” e impotente para resolver situações de violência como esta.
Não são raros os casos em que os
professores (isso já aconteceu comigo ao
tentar separar uma briga no recreio) saem feridos. E quem lhes dá
assistência (médica ou psicológica) ou sequer razão? Não sei vocês, amigos, mas
quando vejo notícias como estas, sinto-me DESAMPARADA.
É como se os papéis tivessem sido invertidos totalmente. O professor não é mais
a autoridade (no sentido da RESPEITABILIDADE)
máxima na sala; portanto, para que prestar atenção às suas aulas, por que não
proferir palavrões em sua presença e por que não “sair na porrada”?
Por outro lado, percebo que os alunos
também estão desamparados, SEM REFERÊNCIAS.
Refiro-me às referências relacionadas aos valores à moral. Tudo em suas vidas é
muito instantâneo, imediato e efêmero. A inconsequência reina, pois eles não
possuem o hábito (assim como muitos adultos) de ponderar sobre as consequências
de seus atos.
Portanto, senhores repórteres e mídia
em geral e; sobretudo às AUTORIDADES EDUCACIONAIS
COMPETENTES (competentes?)
que, antes de perguntar se os professores não intervêm, procurem conhecer
melhor NOSSA REALIDADE e nossos limites enquanto
educadores. Somos educadores e, nosso currículo, não inclui artes marciais,
jiu-jitsu e outras modalidades. Quando conseguimos desenvolver uma boa aula na
qual somos ouvidos e conseguimos estabelecer um diálogo com nossos alunos já
nos damos por SATISFEITOS. E, da próxima vez,
não entrevistem um aluno, entrevistem um professor.
Uma nova semana se inicia. Final do 1°
bimestre letivo. Correria, cansaço, tensão, Entrega de notas, conselho de
classe. Aí alguns dirão (como já ouvi muito: “Escolheu esta profissão porque
quis!”). Sim! SOU PROFESSORA com muito orgulho. No entanto, essa escolha
não tem que ser sinônimo de Sofrimento, desgaste, estresse etc. Você já viu o
médico levar o paciente para a casa dele e passar o final de semana cuidando
dele? Agora, dirão alguns (Também como já ouvi muito, inclusive dos meus
superiores): “O Professor recebe horas atividades para trabalhar onde
quiser, inclusive, em casa”. NÃO CONCORDO. Estas
horas deveriam estar incorporadas no salário e o horário de trabalho do
professor dividido de tal forma, que ele tivesse aulas (livres
ou vagas, como queiram) dentro da escola e dentro do seu horário para os
afazeres como planejar aulas, corrigir provas e fechar notas. Todo profissional
precisa de ócio. Sem o que chamo de ÓCIO CRIATIVO,
sucumbimos a meros repetidores de afazeres... Quando percebemos, está tudo
funcionando no automático.
Todos precisam de um tempo para si
mesmo... Sobretudo, de finais de semana LEVES e LIVRES para
retomar a semana com disposição e, principalmente com BOM
HUMOR. Basta reparar na fisionomia da maioria dos professores: cansaço,
inexpressividade, olheiras... E ainda há quem ache isso louvável. “Nossa, como
fulano trabalha!”. Eu diria outra coisa: “NOSSA COMO
ESTE PROFISSIONAL ESTÁ INFELIZ E ACABADO!” E o aluno? O aluno é o primeiro a perceber isso. É o
primeiro a sentir o “azedume” do professor... Isso é patético. Deveríamos
chegar à escola; felizes, bem vestidos, sorridentes, bem dispostos e trabalhar
com prazer.
Enfim, espero, de verdade, que vocês, colegas professores, possam ter tido
seus momentos de ócio (o que inclui muitos momentos prazerosos, de risadas e
de descanso), para que amanhã possam chegar a seus locais de trabalho
sentindo uma leveza interior ímpar. Porém, observem, se isso não acontecer,
caso sinta seu corpo pesado e sua mente confusa a cansada, está faltando ÓCIO nas suas vidas e isso é essencial para continuar
trabalhando com PRAZER e, na minha concepção, NÃO É POSSÍVEL ENSINAR USANDO UMA MÁSCARA DA CARRANCA DO RIO
SÃO FRANCISCO! Boa semana de trabalho bom a todos!
“En
rachâchant” é um curta-metragem francês lançado em 1982, baseado em um conto de
Margarite Duras. O conflito começa quando um menino não quer ir à escola, pois
lá ensinam coisas que ele não compreende. Esse é um cotidiano familiar comum:
em uma conversa com os pais, o menino canta docemente o seu problema. De
repente, a cena é transferida para uma sala de aula onde a família se une ao
professor – figura que, a priori, parece calmo, mas logo se revela impetuoso
diante da questão proposta pela criança. (http://jozieliwolff.blogspot.com.br/2009/08/en-rachachant-tributo-margarite-duras.html
acesso em 08/04/2013)
Muitos detalhes e falas chamam a atenção no
curta “Em Rachâchant”. Há frases fortes como: “(Na escola me ensinam coisas que
eu não sei). (...)” Além disso, o Ernesto é invisível para o professor (“uma
mosca morta, como ele diz”.).
As
fisionomias das personagens também chamam bastante atenção. São pessoas
carrancudas; sobretudo os pais e o professor. Quanto a Ernesto, ele é ENCANTADORAMENTE IMPETUOSO e CORAJOSO. Encara fixamente seu professor e lhe
responde apenas quando lhe convém e com uma certeza inquestionável.
Contudo,
Ernesto é sensível. Ao ser perguntado sobre o que era um quadro na parede com
uma borboleta emoldurada, ele responde: “UM CRIME!”. Apesar de sua inteligência
ficar comprovada em vários detalhes, sua mãe o predestina como “CRETINO”. Ele
não quer mais aprender o que já sabe... e quanto o que ainda não sabe, ele diz
ter encontrado um novo método, um método próprio: “rechachando”.(confesso não saber o que significa esta palavra, provavelmente, um verbo... o que me veio à cabeça, por mais ridículo que pareça, é que Ernesto prefere aprender "achando, reachando', no sentido de descobrir. Daí o convite-desafio, vamos desvendar o que realmente Ernesto quis dizer com o nome dado ao seu novo método.).
Quando os
pais questionam se o menino Ernesto irá aprender a ler e a escrever um dia,
independentemente da escola, o professor afirma que, infelizmente, sim. O
porquê da expressão “infelizmente”, dita pelo professor, fica a critério da
interpretação pessoal de cada leitor... Pois, é uma resposta no mínimo INTRIGANTE.
De minha parte, só posso entender que Ernesto é uma criança entediada com o
sistema escolar rígido e que prefere saber “além dos muros da escola”, através
de descobertas próprias.
No mais,
apreciem o vídeo... E, como uma humilde sugestão, coloquem-se nos papéis de
cada uma das personagens e reflitam
sobre este conflito educacional único...
Detachment,
novo filme de Tony Kaye, tem um título muito interessante e que é aberto para
várias interpretações. Em português, a palavra “detachment” significa
“desapego”, “indiferença”. Levando em consideração que o filme faz uma crônica
de alguns dias na vida de um professor substituo (Henry Bathes, interpretado
por Adrien Brody) numa infernal escola pública estadunidense, poderíamos até
dizer o filme faz reverência a um suposto desapego por parte dos professores
aos seus alunos, ou comenta e crítica tal desapego.
Porém,
se disséssemos isso, estaríamos mentindo. Detachment faz exatamente o
contrário: Ele condena quem não tem moral (ou vontade)
de encarar uma manhã e uma tarde com alunos que não estão interessados em
estudar e faz uma ode aos professores que se jogam nesse dia-a-dia. E
isto está muito claro desde o início do filme, quando somos apresentados a uma
epígrafe animada assinada pelo pensador Albert Camus (“E eu nunca me senti tão
imerso em uma pessoa ao mesmo tempo em que estou tão desapegado de mim mesmo e
tão presente no mundo”).
Portanto,
Detachment é um filme explosivo de um cineasta
explosivo. Tony Kaye, autor de dois filmes bombásticos sobre problemas sociais
urgentes (A Outra História Americana [American History X, 1998] discursa sobre
o neonazismo; Lake of Fire [idem, 2006] é um documentário que fala sobre
aborto), a partir de um roteiro assinado pelo estreante Carl Lund, tem em suas
mãos um filme em que ele pode apontar, pela primeira vez em sua carreira, sua
metralhadora não para as consequências das ações tomadas pelas vítimas do mal
abordado no longa, mas sim acusar as vítimas. Detachment não é uma investigação
sobre problemas — é um julgamento.
Uma
vez que estamos tratando das deficiências do sistema de
educação pública (mais conhecido pelo projeto “No Child Left Behind”), é
fácil traçar um paralelo com o excelente documentário Waiting for “Superman”
(idem, 2009) — afinal, Detachment adota uma mise-en-scene realista, quase
documental; ambos os filmes procuram mostrar a falácia do “No Child Left Behind”
(apesar de desviarem uma crítica direta ao seu criador, George W. Bush). Apesar
disso, as semelhanças entre os filmes param por aí. Detachment
é lírico, absurdo e gráfico; não está preocupado em fazer análises — para Kaye,
isso é perda de tempo: Ele está interessado em fazer acusações, não
ponderações. Desde o primeiro momento em que entramos na escola em que o filme
se passa, fica claro que o problema é muito mais dos alunos e da sua
diretoria do que de um hipotético despreparo dos professores (Waiting
for “Superman”, por sua vez, diz, entre outras coisas, que o problema está nos
professores que não têm qualificação suficiente).
Levando
seu espectador a lugares anaeróbicos e inóspitos, Tony Kaye mostra que continua
afiado e interessado na violência inerente no contato humano. Sua câmera é
frenética e procura causar desconforto na audiência; há pouca solenidade em sua
direção, mesmo quando a cena lhe propicia algo, digamos, mais clássico: Observe
que quase todas as cenas na escola em que Henry Bathes trabalha são filmadas
com a câmera na mão, utilizando uma lente extremamene angular e com um número
elevado de cortes. Portanto, mesmo que Detachment seja um filme que se segure
bastante nos diálogos, Kaye prova ser um diretor que tem a consciência de que a
tensão não é formada no roteiro (que é brilhante, verdade seja dita), mas sim
no conjunto da sua direção — se sua hand-held aliada a grande angular provoca
desconforto, o desenho de produção de Jade Healy aposta numa combinação de
branco e vermelho que deixa os ambientes áridos e nauseantes — vermelho este,
aliás, que está presente mesmo nas cenas que não se passam na escola, como
prova a segunda conversa que acontece entre a jovem prostituta de rua Erica
(Sami Gayle) e Bathes.(...)
Com tudo isso, deve-se levar em consideração que nem
todos estão preparados para assistir um filme de Tony Kaye — aqui está um
cineasta inovador, revolucionário; alguém que utiliza motivos clássicos num
filme e eleva-os a uma potência em que eles atingem uma nova tez. Há muita
trilha-sonora pomposa (excelente, assinada pelos Newton Brothers) e muita
câmera lenta. Falando assim, pode até parecer que Kaye é um cineasta que
simplesmente utiliza recursos clássicos a todo minuto, mas falar isso não é
nada além de preguiça intelectual. A questão é que ele é um cineasta explosivo;
alguém que não se furta a chance de utilizar os mais infinitos meios de passar
uma mensagem — às vezes, claro, você precisa gritar para se fazer ouvir, e Kaye
faz isso seja com a tal da câmera lenta, seja com música dramática ou com
animações extremamente gráficas (elas podem variar entre um fio de telefone
enforcando uma pessoa até moscas rodopiando ao redor de uma lâmpada — o que nos
revela um pouco da ótima montagem de Barry Alexander Brown e Geoffrey Richman).
No
mais, Detachment é um filme mais otimista que A Outra História Americana e mais
redondo que Lake of Fire (Tony Kaye ainda assinou Black Water Transit e Lobby
Lobster, mas esses filmes são obscuros demais e não achei para assistir).
Alguns podem achar que isso é uma tentativa de “se vender” ou de “encontrar
espaço nos estúdios” — afinal de contas, Kaye se tornou pária em Hollywood
depois de apresentar um comportamento infantil durante o processo de
pós-produção de A Outra História Americana que culminou com a sua própria
falência (e ele sabe disso).
Mas
pensar isso é baboseira. A questão é que Detachment fala sobre educação, sobre
o futuro do planeta — sobre crianças. Se não nos mantivermos otimistas sobre o
futuro delas, qual é o mundo que será habitado no futuro?
Detachment,
2011 / Dirigido por Tony Kaye. Com Adrien
Brody, Sami Gayle, Christina Hendricks, Lucy Liu, James Caan, Betty Kaye, Tim
Blake Nelson, Marcia Gay Harden, William Petersen e Brian Cranston