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EDUCAR É, ANTES, SENTIR... E TODOS SÃO CAPAZES DISSO.

sábado, 27 de abril de 2013

APOLOGIA À GREVE DOS PROFESSORES



Lamentável ter de concordar com a afirmação de Jô Soares. Contudo, a prova é a GREVE, a mobilização que continua, apesar de ineficiente, ser uma das poucas “ARMAS” que o professor dispõe. Explico. Já participei de muitas greves. E, se tem uma coisa que constatei é que a CLASSE DOS PROFESSORES É DESUNIDA; sobretudo quando se trata de greve, cada um olha para seu próprio umbigo e pronto. As escolas continuam funcionando parcialmente, algumas de forma integral. Cadê o desejo de LUTAR? Cadê a INDIGNAÇÃO? Cadê o exemplo de CIDADANIA que devemos deixar para nossos alunos?

Não adianta ficar SOMENTE NO DISCURSO, reclamando em corredores e em sala de professores. É preciso ação. Estou fazendo apologia à greve dos professores sim. Tenho orgulho de quem “perde” um dia inteiro, enfrenta polícia, fica extenuado nas paralisações para, depois, TODOS OS ACOMODADOS, receberem as migalhas que o Governo nos oferece à custa daqueles que foram pras ruas e, por isso,  terão descontos em seus salários. Certamente a greve seria mais curta e eficiente se contasse com apoio de todos; ou seja, ESCOLAS FECHADAS. Por que o metrô para por algumas horas e o Governo resolve e negocia tão rapidamente? UNIÃO. E, com certeza, ele (o Governo) entende que o transporte é muito mais importante que a educação de qualidade...

O mais contraditório é que até os usuários de maconha conseguem ser mais unidos na marcha pela liberação da droga...  Em outros países, um número cinco vezes maior de estudantes se une e vai para as ruas reivindicar ensino de qualidade.  A copa de 2014 mobilizará o país inteiro, em detrimento da fome e da miséria, e a EDUCAÇÃO continua relegada a segundo, terceiro... Planos (se é que está nos planos de alguma autoridade). 

Mas, como diria Renato Russo: “VAMOS CELEBRAR COMO IDIOTAS A CADA FEVEREIRO E FERIADO (...)”. Todos tem o direito de discordar da minha posição. Porém, então, apresentem uma solução mais eficiente, pois, historicamente, todas as parcas conquistas do professorado foram por conta das greves bem sucedidas... Isso há muito tempo atrás, num reino tão, tão distante...

quarta-feira, 24 de abril de 2013

(IN) SATISFAÇÃO DOCENTE

Por Mari Monteiro

Vivemos um paradoxo. Por um lado, a maioria de nós (quero crer) gosta do que faz e, portanto, está SATISFEITA. Por outro, somos mal remunerados, trabalhamos em mais de um emprego por dia, enfrentamos a pressão constante do “sistema” para aprovar alunos que mal sabem ler e escrever - trabalhamos com classes superlotadas e mais uma série de fatos que ESTAMOS CANSADOS DE SABER.


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Inegavelmente, esta é uma situação perturbadora para um profissional que, minimamente, precisa de tranquilidade e de equilíbrio para exercer suas funções. Estamos na contramão das empresas do Primeiro Mundo, que se preocupam com o bem estar físico e mental de seus funcionários, tais empresas costumam investir em “descansos” remunerados e intercalados em horário de trabalho, ginástica laboral e até em massagens expressas ao longo do período (conheço alguns bancos aqui em São Paulo que já fazem isso).

Durante o período em que estamos com os alunos ocorrem as mais diversas situações. O que é normal (e até encantador a meu ver – não há monotonia!); porém, lidar com tantas situações e dificuldades adversas causa um desgaste que, gradativamente, mina nossa resistência, nossa satisfação e nosso prazer em ensinar. Há alguns anos, observando os colegas de profissão num apalestra, percebi que quase todos tinham uma fisionomia muito parecida: a testa tensa e franzida, lábios “duros” e inclinados para baixo (denotando uma expressão triste) e olhos opacos. Neste dia, fiz um pacto com uma amiga (até hoje falamos sobre isso e reparamos uma na outra). Prometemos que quando começássemos a perceber estes sinais de INSATISFAÇÃO uma na outra, no sentido de nos tornarmos carrancudas e amargas, imediatamente, comunicaríamos o fato.

Diante disso; ou seja, dos problemas e das consequências advindas da insatisfação docente, costumo optar por uma decisão muito particular e radical: ou trabalho feliz ou me afasto. O que não pode acontecer é descontar nos colegas de trabalho, na equipe gestora e muito menos nos alunos, as nossas frustrações profissionais (e PESSOAIS; sim, porque PROFESSOR TEM VIDA PESSOAL!). E isso ocorre com muita frequência. Não vou mentir. Sempre senti um certo “desprezo” (raiva até) pelos docentes que berram (o que  é diferente daqueles cujo tom de voz é naturalmente alto) com seus alunos. AS PALAVRAS PESAM de acordo com os sentimentos contidos nas falas. Então, o problema não é exatamente o tom de voz, que é peculiar de cada professor, mas a carga emocional que é somada à palavra. E, neste caso, um berro ou um cochicho ameaçador ao pé do ouvido podem machucar  na mesma proporção.

Neste instante me vêm à mente os versos de Cecília Meireles, interpretados por Fagner na música “canteiros”:



“(...) E eu ainda sou bem moço pra tanta tristeza.
E deixemos de coisa, cuidemos da vida,
Pois se não chega a morte ou coisa parecida
E nos arrasta moço sem ter visto a vida. (...)”








Isso nos remete à constatação de que docentes insatisfeitos envelhecem muito mais rapidamente. Observem. SOMOS MUITO JOVENS, como diz o verso de Cecilia Meireles, pra tanta tristeza. E, o convite pra cuidar da vida, não quer dizer: “vamos deixar de lecionar” e sim “VAMOS LECIONAR COM A DIGNIDADE QUE MERECEMOS!”; no sentido de ter VIDA PRÓPRIA. Sei bem a diferença entre lecionar para 10-12 alunos e lecionar para 35-40. A qualidade de ensino e de vida é outra. Merecemos atuar com satisfação. Não reivindicar isso é o mesmo que se AUTO VILIPENDIAR. E a primeira vítima será o aluno e, depois, nós mesmo, geralmente de forma tardia, quando já estamos nos privando de uma série de atitudes que nos tornam melhores (passeios em família, namoro, cinema, boas leituras etc.). A propósito, já repararam na quantidade de docentes que estão “sozinhos” (divorciados, solteiros)... Isso me ocorreu porque pessoas insatisfeitas, via de regra, são MUITO CHATAS.

Enfim, a satisfação é essencial. A alegria é essencial. O desejo é essencial. NOSSA VIDA É ESSENCIAL. Estar com quem amamos é essencial. Fazer o que amamos (no caso lecionar) é essencial. E isso tudo não pode “se perder” sob uma pilha de provas pra corrigir no final de semana; numa dor de cabeça que senti durante o trabalho e, que piorou ao chegar em casa; nos gritos que não se ouvia até bem pouco tempo atrás... Então, reivindiquemos salário, jornada menor, menor número de alunos por sala; mas, sobretudo, MAIS QUALIDADE DE VIDA PARA O DOCENTE, esta espécie em extinção.

terça-feira, 23 de abril de 2013

Filme: COMO ESTRELAS NA TERRA - TODA CRIANÇA É ESPECIAL

Belo, sensível, impactante...

Taare Zameen Par – Every Child is Special, com tradução de " Como Estrelas na Terra - Toda Criança é Especial" é um filme de produção indiana  e uma obra prima do até então ator e produtor Aamir Khan, que no filme assume o papel do professor Ram Shankar Nikumbh.
O filme é o relato da história de Ishaan Awasthi, um garoto de nove anos, disléxico, que é incompreendido pela escola e sofre pelo desconhecimento e abandono dos pais, que se preocupam apenas em torná-lo produtivo, competente para o trabalho e apto à concorrência.

Na escola, Ishaan é dispersivo e encanta-se com um mundo que só ele vê. A mente criativa e prodigiosa do menino é ignorada pelos professores. Na sala de aula, os algarismos da prova adquirem vida e travam com ele, uma incrível batalha intergalática. Ishaan ignora os significados dos códigos, para ele o  mundo é de um colorido e de um ritmo bastante diferente do que vive na sala de aula. Ele se encanta com o vôo das borboletas, com os pássaros que alimentam os filhotes  e com os pingos da chuva nas poças d'água.  As nuvens são seu chão firme. O menino sonha e seus sonhos não cabem no currículo escolar.

Diferente dos outros, Ishaan  sofre. Rotulado e estigmatizado, se isola.  Reprova de ano e é encaminhado pelos pais a um internato que costuma usar como marketing institucional explicar aos pais que são os melhores domadores de cavalos selvagens. Ishaan é entregue e própria sorte, abandonado intelectual e emocionalmente, tido como preguiçoso, relapso, desorganizado. Nada mais faria sentido pra ele, se Ram Shankar Nikumbh, um professor substituto não cruzasse seu caminho e o resgatasse desta triste história.
“Taare Zameen Par – Every Child is Special" , é um filme  questionador e instigante. Nos faz pensar sobre tantos Ishaans que por nós podem ter passado, incompreendidos, encaminhados equivocadamente  à escolas especiais, excluídos, rotulados.  Nos apresenta possibilidades de repensarmos os discursos que usualmente utilizamos para constituir os sujeitos os quais denominamos não aprendentes. Surge o desafio de que  nos interroguemos sobre a educação, a escola, o currículo, as competências, os alunos e as alunas, as diferenças, os olhares, os discursos, o padrão, o normal,  o fazer e o nosso não fazer pedagógico. Desafia-nos  a desapergar-nos da ideia das correções, para pensarmos outras relações de ensino e aprendizagem a partir das diferenças e a possibilidade de uma inclusão das diferenças na escola, uma oportunidade para estudar e experimentar pedagogicamente outras representações de diferença  que  escapem ao normalmente instituído pela escola como o lugar do desvio, da anormalidade ou da deformidade. Chama a atenção para como temos olhado e significado a "falta de atenção", "os erros", o "mau comportamento", "a falta de interesse", 'a incapacidade de ler e escrever" e tantas outras  formas de interpretarmos o cotidiano de uma criança que não está aprendendo.

É um filme que emociona pela produção, pela trilha sonora, pelas imagens, pela sensibilidade com que  foi criado, mas acima de tudo, pelo sentimento de que pela educação podemos impregnar de sentido a vida das pessoas e como dizia Paulo Freire, entender que  ensinar e aprender não pode se dar fora da boniteza e da alegria.

É preciso que ensinemos os saberes do mundo, mas também, que ensinemos e aprendamos os saberes do coração.

Texto de autoria do blog: http://sobreeducacao.blogspot.com.br/

ASSISTA: FILME COMPLETO!

segunda-feira, 22 de abril de 2013

ARTIGO COMEMORATIVO: MAIS DE 5.000 ACESSOS!

Por Kássia Rocha e Mari Monteiro

Não vamos iniciar este artigo afirmando que começamos este blog despretensiosamente. Seria MENTIRA. Foi exatamente o contrário. Começamos com muita pretensão, FOME e crença de que teríamos muitos parceiros (educadores profissionais ou não os educados e educadores da VIDA!). E isso tem s e consolidado um pouco a cada dia. São mais de 5 000 acessos dos mais variados locais do Brasil e do mundo (como mostra o quadro Live Traffic Feed do blog).

Saber que há tantas pessoas COMPROMETIDAS com a educação e que COMPARTILHAM de nossos ideais é intenso  e gratificante. Cada vez que dialogamos com uma pessoa que comentam os artigos, a “TEIA” se torna mais resistente.  Pois, se há uma coisa da qual necessitamos é resistência, o que  é possível apenas quando nos unimos.

Diante disso, nós temos a agradecer a TODOS que até agora acessaram e participaram deste blog. Isso nos dá certeza de que a educação, mesmo capenga como está, ainda tem jeito, que NÃO SOMOS CULPADOS pelo seu fracasso; que há muitos interessados em melhorar a qualidade da educação e; sobretudo, a QUALIDADE DE VIDA DO PROFESSOR. Porque posso afirmar, com toda convicção que um PROFESSOR INFELIZ É INCAPAZ DE ENSINAR. A questão é o que as autoridades fazem para que exerçamos nossas funções felizes? E, mais, o que nos deixa felizes... De verdade? Então, continuemos a busca pelas respostas e pelas realizações: JUNTOS!

Gratas a TODOSFELIZES em reencontrá-los sempre por aqui!

Foto: Kássia Rocha, mimo, postei NOSSO artigo gostaria que vc revisasse e tentasse colocar nossos dois nomes em coma, só consegui colocar embaIXO (HAHHAHHA) e acrescentar esta foto  do lado do artigo (ou onde vc achar melhor...) 
Obrigadíssima Beijus!!!!!

quinta-feira, 18 de abril de 2013

A CULPABILIDADE ATRIBUÍDA AO PROFESSOR


- “Na hora que começa a briga, o professor não intervém?” (REPÓRTER)
- “Somente após alguns minutos”. (ALUNO)


Por Mari Monteiro

Engraçado, a pergunta deveria ter sido: “E as autoridades educacionais não intervém?”. Mas, agora, já é de praxe. A culpa é sempre do professor. Não podemos esquecer que caso o professor tocasse nas alunas, as mesmas poderiam alegar alguma forma de assédio e até agressão. E, desde quando estudamos “técnicas de MMA nos cursos normal Superior ou nas Faculdades relacionadas à educação”?

A sala de aula há muito tempo, deixou de ser local de respeito mútuo e de aprendizado. Na maioria dos casos, o professor exerce múltiplos papéis e as aulas propriamente ditas ficam reduzidas a 20 ou 30 minutos, devido às intervenções feitas: conversas solicitando silêncio, temáticas envolvendo ética educação (aquela educação que já caberia ao aluno trazê-la de casa, imbuída em seu comportamento...).


Contudo, cada vez que nós, professores, fazemos tais intervenções (apagando fogueira), assumimos uma responsabilidade que NÃO É NOSSA. Deste modo, fica bem fácil para o governo e para a mídia (porque eu deveria poupá-la?) de colocar a culpa no PROFESSOR, que também não passa, em casos como este, de uma vítima da situação e que, por inúmeros motivos sente-se “desarmado” e impotente para resolver situações de violência como esta.

Não são raros os casos em que os professores (isso já aconteceu comigo ao tentar separar uma briga no recreio) saem feridos. E quem lhes dá assistência (médica ou psicológica) ou sequer razão? Não sei vocês, amigos, mas quando vejo notícias como estas, sinto-me DESAMPARADA. É como se os papéis tivessem sido invertidos totalmente. O professor não é mais a autoridade (no sentido da RESPEITABILIDADE) máxima na sala; portanto, para que prestar atenção às suas aulas, por que não proferir palavrões em sua presença e por que não “sair na porrada”?

Por outro lado, percebo que os alunos também estão desamparados, SEM REFERÊNCIAS. Refiro-me às referências relacionadas aos valores à moral. Tudo em suas vidas é muito instantâneo, imediato e efêmero. A inconsequência reina, pois eles não possuem o hábito (assim como muitos adultos) de ponderar sobre as consequências de seus atos.

Portanto, senhores repórteres e mídia em geral e; sobretudo às AUTORIDADES EDUCACIONAIS COMPETENTES (competentes?) que, antes de perguntar se os professores não intervêm, procurem conhecer melhor NOSSA REALIDADE e nossos limites enquanto educadores. Somos educadores e, nosso currículo, não inclui artes marciais, jiu-jitsu e outras modalidades. Quando conseguimos desenvolver uma boa aula na qual somos ouvidos e conseguimos estabelecer um diálogo com nossos alunos já nos damos por SATISFEITOS. E, da próxima vez, não entrevistem um aluno, entrevistem um professor.




domingo, 14 de abril de 2013

O PROFESSOR E A NECESSIDADE DO ÓCIO



Por Mari Monteiro
Uma nova semana se inicia. Final do 1° bimestre letivo. Correria, cansaço, tensão, Entrega de notas, conselho de classe. Aí alguns dirão (como já ouvi muito: “Escolheu esta profissão porque quis!”). Sim!  SOU PROFESSORA com muito orgulho. No entanto, essa escolha não tem que ser sinônimo de Sofrimento, desgaste, estresse etc. Você já viu o médico levar o paciente para a casa dele e passar o final de semana cuidando dele? Agora, dirão alguns (Também como já ouvi muito, inclusive dos meus superiores): “O Professor recebe horas atividades para trabalhar onde quiser, inclusive, em casa”. NÃO CONCORDO. Estas horas deveriam estar incorporadas no salário e o horário de trabalho do professor dividido de tal forma, que ele tivesse aulas (livres ou vagas, como queiram) dentro da escola e dentro do seu horário para os afazeres como planejar aulas, corrigir provas e fechar notas. Todo profissional precisa de ócio. Sem o que chamo de ÓCIO CRIATIVO, sucumbimos a meros repetidores de afazeres... Quando percebemos, está tudo funcionando no automático.


Todos precisam de um tempo para si mesmo... Sobretudo, de finais de semana LEVES e LIVRES para retomar a semana com disposição e, principalmente com BOM HUMOR. Basta reparar na fisionomia da maioria dos professores: cansaço, inexpressividade, olheiras... E ainda há quem ache isso louvável. “Nossa, como fulano trabalha!”. Eu diria outra coisa: “NOSSA COMO ESTE PROFISSIONAL ESTÁ INFELIZ E ACABADO!” E o aluno?  O aluno é o primeiro a perceber isso. É o primeiro a sentir o “azedume” do professor... Isso é patético. Deveríamos chegar à escola; felizes, bem vestidos, sorridentes, bem dispostos e trabalhar com prazer.


Enfim, espero, de verdade, que vocês, colegas professores, possam ter tido seus momentos de ócio (o que inclui muitos momentos prazerosos, de risadas e de descanso), para que amanhã possam chegar a seus locais de trabalho sentindo uma leveza interior ímpar. Porém, observem, se isso não acontecer, caso sinta seu corpo pesado e sua mente confusa a cansada, está faltando ÓCIO nas suas vidas e isso é essencial para continuar trabalhando com PRAZER e, na minha concepção, NÃO É POSSÍVEL ENSINAR USANDO UMA MÁSCARA DA CARRANCA DO RIO SÃO FRANCISCO! Boa semana de trabalho bom a todos!





segunda-feira, 8 de abril de 2013

I - NE - VI - TA - VEL - MEN - TE

Por Mari Monteiro

En rachâchant” é um curta-metragem francês lançado em 1982, baseado em um conto de Margarite Duras. O conflito começa quando um menino não quer ir à escola, pois lá ensinam coisas que ele não compreende. Esse é um cotidiano familiar comum: em uma conversa com os pais, o menino canta docemente o seu problema. De repente, a cena é transferida para uma sala de aula onde a família se une ao professor – figura que, a priori, parece calmo, mas logo se revela impetuoso diante da questão proposta pela criança. (http://jozieliwolff.blogspot.com.br/2009/08/en-rachachant-tributo-margarite-duras.html acesso em 08/04/2013)
  
Muitos detalhes e falas chamam a atenção no curta “Em Rachâchant”. Há frases fortes como: “(Na escola me ensinam coisas que eu não sei). (...)” Além disso, o Ernesto é invisível para o professor (“uma mosca morta, como ele diz”.).
As fisionomias das personagens também chamam bastante atenção. São pessoas carrancudas; sobretudo os pais e o professor. Quanto a Ernesto, ele é ENCANTADORAMENTE IMPETUOSO e CORAJOSO. Encara fixamente seu professor e lhe responde apenas quando lhe convém e com uma certeza inquestionável.

Contudo, Ernesto é sensível. Ao ser perguntado sobre o que era um quadro na parede com uma borboleta emoldurada, ele responde: “UM CRIME!”. Apesar de sua inteligência ficar comprovada em vários detalhes, sua mãe o predestina como “CRETINO”. Ele não quer mais aprender o que já sabe... e quanto o que ainda não sabe, ele diz ter encontrado um novo método, um método próprio: “rechachando”.(confesso  não saber o que significa esta palavra, provavelmente, um verbo... o que me veio à cabeça, por mais ridículo que pareça, é que Ernesto prefere aprender "achando, reachando', no sentido de descobrir. Daí o convite-desafio, vamos desvendar o que realmente Ernesto quis dizer com o nome dado ao seu novo método.).

Quando os pais questionam se o menino Ernesto irá aprender a ler e a escrever um dia, independentemente da escola, o professor afirma que, infelizmente, sim. O porquê da expressão “infelizmente”, dita pelo professor, fica a critério da interpretação pessoal de cada leitor... Pois, é uma resposta no mínimo INTRIGANTE. De minha parte, só posso entender que Ernesto é uma criança entediada com o sistema escolar rígido e que prefere saber “além dos muros da escola”, através de descobertas próprias.

No mais, apreciem o vídeo... E, como uma humilde sugestão, coloquem-se nos papéis de cada uma das personagens  e reflitam sobre este conflito educacional único...

quarta-feira, 3 de abril de 2013

Filme recomendado: "Detachment" (Título em português: O substituto)

Por Mari Monteiro

Detachment, novo filme de Tony Kaye, tem um título muito interessante e que é aberto para várias interpretações. Em português, a palavra “detachment” significa “desapego”, “indiferença”. Levando em consideração que o filme faz uma crônica de alguns dias na vida de um professor substituo (Henry Bathes, interpretado por Adrien Brody) numa infernal escola pública estadunidense, poderíamos até dizer o filme faz reverência a um suposto desapego por parte dos professores aos seus alunos, ou comenta e crítica tal desapego.


Porém, se disséssemos isso, estaríamos mentindo. Detachment faz exatamente o contrário: Ele condena quem não tem moral (ou vontade) de encarar uma manhã e uma tarde com alunos que não estão interessados em estudar e faz uma ode aos professores que se jogam nesse dia-a-dia. E isto está muito claro desde o início do filme, quando somos apresentados a uma epígrafe animada assinada pelo pensador Albert Camus (“E eu nunca me senti tão imerso em uma pessoa ao mesmo tempo em que estou tão desapegado de mim mesmo e tão presente no mundo”).



Portanto, Detachment é um filme explosivo de um cineasta explosivo. Tony Kaye, autor de dois filmes bombásticos sobre problemas sociais urgentes (A Outra História Americana [American History X, 1998] discursa sobre o neonazismo; Lake of Fire [idem, 2006] é um documentário que fala sobre aborto), a partir de um roteiro assinado pelo estreante Carl Lund, tem em suas mãos um filme em que ele pode apontar, pela primeira vez em sua carreira, sua metralhadora não para as consequências das ações tomadas pelas vítimas do mal abordado no longa, mas sim acusar as vítimas. Detachment não é uma investigação sobre problemas — é um julgamento.

Uma vez que estamos tratando das deficiências do sistema de educação pública (mais conhecido pelo projeto “No Child Left Behind”), é fácil traçar um paralelo com o excelente documentário Waiting for “Superman” (idem, 2009) — afinal, Detachment adota uma mise-en-scene realista, quase documental; ambos os filmes procuram mostrar a falácia do “No Child Left Behind” (apesar de desviarem uma crítica direta ao seu criador, George W. Bush). Apesar disso, as semelhanças entre os filmes param por aí. Detachment é lírico, absurdo e gráfico; não está preocupado em fazer análises — para Kaye, isso é perda de tempo: Ele está interessado em fazer acusações, não ponderações. Desde o primeiro momento em que entramos na escola em que o filme se passa, fica claro que o problema é muito mais dos alunos e da sua diretoria do que de um hipotético despreparo dos professores (Waiting for “Superman”, por sua vez, diz, entre outras coisas, que o problema está nos professores que não têm qualificação suficiente).

Levando seu espectador a lugares anaeróbicos e inóspitos, Tony Kaye mostra que continua afiado e interessado na violência inerente no contato humano. Sua câmera é frenética e procura causar desconforto na audiência; há pouca solenidade em sua direção, mesmo quando a cena lhe propicia algo, digamos, mais clássico: Observe que quase todas as cenas na escola em que Henry Bathes trabalha são filmadas com a câmera na mão, utilizando uma lente extremamene angular e com um número elevado de cortes. Portanto, mesmo que Detachment seja um filme que se segure bastante nos diálogos, Kaye prova ser um diretor que tem a consciência de que a tensão não é formada no roteiro (que é brilhante, verdade seja dita), mas sim no conjunto da sua direção — se sua hand-held aliada a grande angular provoca desconforto, o desenho de produção de Jade Healy aposta numa combinação de branco e vermelho que deixa os ambientes áridos e nauseantes — vermelho este, aliás, que está presente mesmo nas cenas que não se passam na escola, como prova a segunda conversa que acontece entre a jovem prostituta de rua Erica (Sami Gayle) e Bathes.(...)


Com tudo isso, deve-se levar em consideração que nem todos estão preparados para assistir um filme de Tony Kaye — aqui está um cineasta inovador, revolucionário; alguém que utiliza motivos clássicos num filme e eleva-os a uma potência em que eles atingem uma nova tez. Há muita trilha-sonora pomposa (excelente, assinada pelos Newton Brothers) e muita câmera lenta. Falando assim, pode até parecer que Kaye é um cineasta que simplesmente utiliza recursos clássicos a todo minuto, mas falar isso não é nada além de preguiça intelectual. A questão é que ele é um cineasta explosivo; alguém que não se furta a chance de utilizar os mais infinitos meios de passar uma mensagem — às vezes, claro, você precisa gritar para se fazer ouvir, e Kaye faz isso seja com a tal da câmera lenta, seja com música dramática ou com animações extremamente gráficas (elas podem variar entre um fio de telefone enforcando uma pessoa até moscas rodopiando ao redor de uma lâmpada — o que nos revela um pouco da ótima montagem de Barry Alexander Brown e Geoffrey Richman).
                         
No mais, Detachment é um filme mais otimista que A Outra História Americana e mais redondo que Lake of Fire (Tony Kaye ainda assinou Black Water Transit e Lobby Lobster, mas esses filmes são obscuros demais e não achei para assistir). Alguns podem achar que isso é uma tentativa de “se vender” ou de “encontrar espaço nos estúdios” — afinal de contas, Kaye se tornou pária em Hollywood depois de apresentar um comportamento infantil durante o processo de pós-produção de A Outra História Americana que culminou com a sua própria falência (e ele sabe disso).

Mas pensar isso é baboseira. A questão é que Detachment fala sobre educação, sobre o futuro do planeta — sobre crianças. Se não nos mantivermos otimistas sobre o futuro delas, qual é o mundo que será habitado no futuro? 
                           
Detachment, 2011 / Dirigido por Tony Kaye. Com Adrien Brody, Sami Gayle, Christina Hendricks, Lucy Liu, James Caan, Betty Kaye, Tim Blake Nelson, Marcia Gay Harden, William Petersen e Brian Cranston




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