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EDUCAR É, ANTES, SENTIR... E TODOS SÃO CAPAZES DISSO.

domingo, 30 de março de 2014

A FALTA DE EDUCAÇÃO NA EDUCAÇÃO (EDUCATION OF MISSING IN EDUCATION)

POR MARI MONTEIRO


Notícias e bibliografias sobre a indisciplina e a falta de educação dos alunos não faltam. Contudo, me surpreendi quando procurei algo relacionado à FALTA DE EDUCAÇÃO e à INDISCIPLINA DO PROFESSOR em relação aos alunos; aos  seus pares e aos seus superiores. Supostamente, adultos que somos, deveríamos ser mais contidos; falar baixo; pregar a tal “ESCUTÓRIA” (termo este que credito a Rubem Alves); manter o respeito... bla, bla, blá...  Isso, na prática, não acontece. E, pior, aumenta com o tempo. Tenho medo que seja contagioso. 


Infelizmente, pude presenciar esse tipo de comportamento em TODOS os lugares em que me relacionei com professores na vida. Em todos os locais e situações, a MINORIA é educada. E a maioria não aprendeu ou não tem paciência para ouvir. Só quer falar (ou gritar...). Não é fácil constatar isso; bem como, não é fácil EXPRESSAR esta situação.  Além disso, estou ciente de que essa minha assunção desagradará muitas pessoas. Porém, tenho certeza, não será ninguém que me conheça de fato. Porque quem me conhece sabe que o que para na garganta me adoece. Então eu digo. Então eu pago o preço.

Contudo, tenho plena tranquilidade no que se refere a minha CONDUTA DOCENTE. Por muitas vezes, meus alunos me viram triste; calada; indignada... E, na maioria das vezes, tratavam-se de coisas que pude dividir com eles... Logo, sabiam que não eram eles os "causadores" do meu  estado. Agora, gritar com alunos; colegas professores e superiores é algo que NUNCA EXPERIMENTEI. E isso é algo que me confere certo crédito para tocar neste assunto...

Sei que o título, a princípio, pode parecer AGRESSIVO. É intencional.  A “agressividade” contida no título não chega a representar legitimamente a sensação de ser agredido (a) no meio educacional. Não que em outros ambientes a falta de educação seja aceitável; mas, no meio educacional, é DESCABIDA e VERGONHOSA!



De agora em diante, esclareço: FALO POR MIM. TÃO SOMENTE POR MIM. Minha fundamentação? Anos a fio frequentando ambientes educacionais (escolas privadas; universidades; escolas estaduais; escolas municipais; reuniões pedagógicas; cursos de formação etc.) Esclareço também que – em nenhum momento – minha intenção é generalizar. Por outro lado, também não serei tão pontual assim. Desnecessário. O teor deste artigo é INQUIETANTE por si só. Cada leitor, com base na sua vivência profissional e com um OLHAR CRÍTICO, poderá autenticar ou não minhas constatações e considerações.


Falo especificamente da EDUCAÇÃO (ou da falta dela) DO EDUCADOR. É necessário, antes, observar a distinção entre TOM DE VOZ e GRITOS. Há professores que possuem, naturalmente, um tom de voz alto. E, justamente por ser natural, não agride. A voz é alta, forte e firme, mas não é agressiva. Apenas este fator não caracteriza um professor mal educado.

Por outro lado, o professor mal educado é aquele que grita. Uma característica marcante deste professor é o fato de ele confundir INDISCIPLINA com LIBERDADE DE EXPRESSÃO ou com a alegria do aluno. Percebo que, nestes casos, o descontentamento (no sentido mais amplo  da palavra) está muito relacionado à falta de educação e, consequentemente, aos gritos. Isso porque distanciar-se da vida pessoal e trabalhar com seres humanos, com diferente shistórias, diferentes perfis... E não “misturar” as coisas, são ações extremamente difíceis. Não esqueçamos aqui que, antes de ser professores, SOMOS HUMANOS: sentimos dores, frio, frustrações, medo, raiva, insegurança...

O ato de “falar alto” em sala de aula se torna uma espécie de circulo vicioso: o professor fala alto porque o aluno fala alto e cada vez mais alto. SE O PROFESSOR GRITA, O ALUNO NÃO PRECISA “SE ESFORÇAR” PARA OUVI-LO. Soma-se a isso uma troca de energia muito ruim. Entre os gritos de todos, que – em determinado ponto – nem “sentem” que gritam, cria-se uma atmosfera DENSA e TENSA.

E as FISIONOMIAS? Observem. Existe um grande número de professores que já possui o rosto moldado pela “BRABEZA” (como diria minha avozinha). Já cheguei a fazer um teste comigo mesma e sugiro que façam. Fiquei em frente a um espelho e fiz de conta que estava dando uma bronca daquelas nos meus alunos. Fiz, inclusive, aquela famosa pose (a propósito viciante, chega a virar TOC!) de tentar, EM VÃO, claro, controlar uma situação de indisciplina apenas com expressões faciais. Meu Deus! Pensei: “QUE PESSOA HORRÍVEL EU SOU! QUANTAS RUGAS!”.


Neste dia, TIVE MEDO DE MIM... Quero “desmanchar” a cara fechada; descontrair lábios e olhos; falar manso. Quero CONVERSAR com meus alunos, com meus pares, com meus superiores... E, claro, isso refletirá na minha vida pessoal e vice-versa.

VISÃO ROMANTIZADA A MINHA SOBRE EDUCAÇÃO? Sim. Eu sou romântica. Não quero me tornar pedra. Não tenho no meu guarda- roupa uma máscara para cada situação. Além disso, penso que ficar "trocando de máscaras" dá muito trabalho. Resta, então, vigiar. Sorrir deve ser um hábito e não uma exceção. Quero cumprimentar e ser cumprimentada. Pense. Não é pedir muito. Basta um ESPELHO e uma boa dose de CORAGEM para ser PROFESSOR sem se deixar contaminar pelo “vírus” do mal humor... Quero um rosto e não uma carranca.

NESTE CASO, ENTENDAMOS A EDUCAÇÃO, NO SENTIDO MAIS AMPLO DA PALAVRA: NAS ESCOLAS; NAS REPARTIÇÕES PÚBLICAS EM GERAL; NO ÔNIBUS; NAS FILAS; NAS RELAÇÕES MÉDICO - PACIENTE... ENFIM, SOMENTE UMA EDUCAÇÃO "GERAL" MUDA AS CIRCUNSTÂNCIAS.



quarta-feira, 26 de março de 2014

MUSILHANDO: RELATO DE EXPERIÊNCIA SOBRE MÚSICA E INTERPRETAÇÃO

POR MARI MONTEIRO

Truman Capote (1924-1984): escritor norte americano que escreveu seu primeiro conto aos dez anos de idade; aos onze, começou a escrever durante três horas continuamente.

“Para que o aluno elabore boas respostas, as questões devem ser provocadoras.” (Mari Monteiro).


Para obter uma participação significativa dos alunos e respostas bem elaboradas, é preciso fazer boas perguntas; é preciso contar com um bom “conteúdo” e/ou recurso. Há tempos uso LETRAS DE MÚSICA para ensinar e para aprender. E como aprendo! Meu principal objetivo é, através de determinadas letras, PROVOCAR o aluno; chamá-lo para a “briga”, no sentido de fazer com que ele argumente e exponha seus sentimentos e seus pontos de vista.

Neste caso específico, o contexto se refere à análise e audição de três letras de músicas da banda Legião Urbana, previamente selecionadas de acordo com o suposto nível de maturidade de cada turma. Considerando que as composições de Renato Russo são atemporais, outro critério de seleção foi o grau de intensidade de cada letra. Diante disso, as letras trabalhadas foram: “TEMPO PERDIDO” (1º EM); “TEATRO DOS VAMPIROS” (2º EM) e “METAL CONTRA AS NUVENS” (3º EM).

Impressionante como cada turma apresentou diferentes reações às músicas e às questões propostas. No 1º ano do Ensino Médio, por exemplo, os alunos quiseram manusear a capa do CD para ver os títulos das demais músicas. Pediram para ouvir faixas que alguns já conheciam e acabaram ouvindo parcialmente todas as músicas do CD. Particularmente, considerei este momento um aprova do quanto a GERAÇÃO DIGITAL está carente de boas composições.

No 2º ano do Ensino Médio, a maioria dos alunos demonstrou uma grande preocupação com o ENTENDIMENTO DOS ENUNCIADOS; provavelmente porque tivemos apenas uma aula e; por isso, pedi que concluíssem em casa.

No 3º ano do Ensino Médio, os alunos quiseram ouvir os dois CDs inteiros e – como perceberam que não daria tempo – resolveram “pular” alguns trechos. O interesse demonstrado foi gratificante. A maioria dos alunos quis conversar mais profundamente sobre determinadas questões.


Mas nada. ABSOLUTAMENTE NADA, se compara ao fato mais marcante deste dia. Um dos meus alunos do Ensino Médio (obviamente, preservarei sua identidade) me parou no corredor e disse: “Professora, posso te dar um abraço?”. Foi um abraço fraternal. A princípio, não associei o abraço às atividades com música. Foi quando a pessoa me disse que era incrível como eu conseguia (ATRAVÉS DA MÚSICA) “tirar” as coisas de dentro dela. Nesse momento, houve choro. Um choro de alívio. E abraço, agora em forma de gratidão, é parte das coisas MAIS SIGNIFICATIVAS que já aconteceram na minha carreira. Fiquei feliz por mim, atingi meu objetivo. E, mais feliz ainda, pela pessoa que, tenho certeza, se “LIBERTOU” de algumas amarras invisíveis que a prendiam.

Enfim, diante do significado desta atividade PARA MIM E PARA OS ALUNOS (como eles me ensinam e me mantém “antenada”... Ouso dizer que, se dermos as costas para o que nossos alunos têm a dizer NOS TORNAREMOS JURÁSSICOS NA VELOCIDADE DA LUZ rsrs), seguem algumas considerações registradas por eles acerca das letras interpretadas. Ah!!! E, nos dias que se seguiram, pude ler várias postagens no Face, feitas pelos alunos, alusivas a trechos das letras trabalhadas na sala de aula... ISSO É BOM DEMAIS! Rsrsrsrs



► PRIMEIRO ANO DO ENSINO MÉDIO: “TEMPO PERDIDO” - QUESTÃO DESENVOLVIDA: De acordo com sua VIVÊNCIA, o que significa perder tempo?

- “Perder tempo, para mim, é quando você não aproveita a vida como deve ser aproveitada. E nunca se arrependa dos seus atos!” (João Leonardo)

- “Não fazer o que você deseja não se expressar, não falar, não se defender na hora necessária e, principalmente, não fazer o que deveria ser feito na hora certa.” (Mariana Alves)

- “Perder tempo é não fazer o que tem que fazer como eu que perdi um ano da escola e agora vejo o que perdi.” (Thiago Laureano)

- “Perder tempo significa que o que podemos fazer hoje, não podemos deixar para amanhã; porque amanhã é outro dia e não sabemos o que pode acontecer. Perder tempo para quê? Temos tão pouco tempo.” (Milena Caetano)



- “Eu acredito que é não fazer nada, não dedicar seu tempo a alguma coisa ou, por exemplo, perder seu tempo discutindo com alguém que não valha a pena”. (Nathalia Ramos)

- “Perder tempo significa deixar para depois, deixar de falar as coisas que estou pensando a respeito de outra pessoa. Sendo bom ou ruim, é preciso falar na hora certa”. (Victor vallim)

- “Perder tempo com algo sem importância, sem valor que não vai te acrescentar em nada. Perder tempo também pode ser não fazer nada: tempo vazio; tempo perdido. Mas sempre é tempo de mudar.” (Rafaela Cruz)

- “Perder tempo é fazer algo contra vontade, mal feito, algo desnecessário ou deixar de fazer algo e cair no arrependimento, perdendo um tempo que não volta atrás.” (Vitória Oliveira)

- “É fazer algo que não gosto de fazer e faço ou ficar parado.” (Alexandre Placido)

- “Perder tempo significa que deixei de fazer alguma coisa e até mesmo deixar de falar alguma coisa que deveria ter sido dita.” (Wellington Vieira)

- “É fazer alguma coisa que não usarei no meu futuro. Exemplo: você faz quatro anos de faculdade; mas aí você percebe que não era aquilo que você queria.” (Lucas de Góis)

- “É estar com vontade de fazer algo e não fazer por receio de alguma coisa. Não somos imortais. Então, vamos viver sem perder tempo, antes que a vida termine.” (Larissa Silva)

- “Para mim, perder tempo é ficar fazendo coisas inúteis, como passar a tarde inteira no computador ou fazer coisas que não gosto e não vão acrescentar em nada no meu futuro.” (Johnny Ayslan)

- “É lavar a louça e não ir secando e guardando; pedir pra pessoa ajudar e ela ficar enrolando... E você continua pedindo.” (Letícia Andrade)





► SEGUNDO ANO DO ENSINO MÉDIO: “TEATRO DOS VAMPIROS” - QUESTÃO DESENVOLVIDA: Releia a sétima estrofe e elabore um comentário crítico sobre o último verso: “(...) Voltamos a viver / Como a dez anos atrás / E a cada hora que passa envelhecemos dez semanas. (...)” :


“A cada dia que passa as pessoas valorizam o ‘TER’. Querem sempre algo inovador, por exemplo, comprar um celular bom. Depois de dois anos, é preciso ter um bem melhor. Por isso, estamos “envelhecendo dez semanas”, as coisas se tornam ultrapassadas rápido demais. Nunca temos o suficiente.” (Giovanna Cristina de Oliveira)

“Apesar das dificuldades, ele espera que um dia possa se encontrar e viver com quem ama... Não importando o tempo que leve para isso e o tanto que envelheça de tanto sofrer.” (Marcos Vinicius)

“O último verso trata das coisas que envelhecem rápido demais, que são ultrapassadas com frequência. O mundo está avançando tão rápido que ‘a cada hora que passa as coisas vão envelhecendo’, e as pessoas também.” (Henrique Morroni)

“Com esse verso, o autor quis dizer que temos que aproveitar a vida, amar, respeitar, conviver em harmonia, pois a vida acaba muito rapidamente, em um piscar de olhos.” (Guilherme Martins)

“O tempo está passando cada vez mais rápido e nós não estamos fazendo quase nada. O tempo é precioso em nossas vidas e o autor tinha esperança que reencontraria seu amor. Enfim, eles teriam uma vida de paz e de tranquilidade... Seriam felizes para sempre.” (Higor Augustus)


“Quando ele diz: ‘ E a cada hora que passa envelhecemos dez semanas’, ele quer dizer que o tempo não para; que quando percebemos, já passou muito mais tempo do que pensávamos. Ele está correto; afinal, a gente acaba fazendo a maioria das coisas sem perceber.” (Agatha Fernandes)

“Ele quis dizer que o nosso tempo é curto demais e, quando percebemos, já não estamos mais aqui.” (Jéssica Henriques)

“Estamos retrocedendo no tempo, pois nós não estamos dando oportunidades para novas ideias e, assim, ficamos presos ao passado.” (Fernando Silveira)

“O tempo passa e nada muda. Uma dessas questões é a evolução, onde todos querem tudo feito, o mais rápido possível, e acabam empacando na evolução daquilo que realmente interessa.” (Fabio Constantino)

“De acordo com o verso, o autor sofreu tanto em determinado tempo que parece que passou muito tempo; quando na verdade, passou ‘pouco’ tempo.” (Yasmim Cavalieri)

“O autor quis dizer que a cada hora que passa ele sofre mais; nunca está contente com o que faz porque sente um grande ‘vazio’.” (Gabriel Mantelato)

“As pessoas vem envelhecendo cada vez mais rápido, como ele diz, devido às horas ruins que passamos o que deixa certo desgaste, fazendo parecer que mais do que uma hora de tão longo que é o sofrimento... Uma hora parece com semanas.” (Marcelo Tadeu)

“A cada hora que passa, ele sofre mais. Ele se desgasta a ponto de parecer que se passaram dez semanas. O fato de sofrermos nos destrói rapidamente e em demasiado.” (Laísa Nascimento)

“O último verso afirma que o tempo passa rápido demais e; por isso, envelhecemos muito mais... A cada ano, tudo muda muito rápido e algumas coisas não fazem mais sentido.” (Beatriz Morroni)

“Por ele não ter motivos de alegria, acaba sentindo como se estivesse envelhecendo rápido demais. É como se nada na vida dele mudasse em dez anos.” (Mylena A. Cordeiro)

“Antigamente, as coisas eram mais simples. As pessoas conseguiam se divertir mais e não existiam tantos crimes com hoje em dia. Concordo com o pensamento do autor no último verso, pois quando nos divertimos, temos a sensação de que o tempo passa mais rápido. Porém, precisamos estar sempre alertas, com medo... Enfim, ainda é possível aproveitar a vida hoje em dia, mas com muito mais cuidado e atenção.” (Nicolas Magalhães)



►TERCEIRO  ANO DO ENSINO MÉDIO: “Metal contra as nuvens” - QUESTÃO DESENVOLVIDA: Relacione os versos: “E há quem se alimente do que é roubo? Mas vou guardar o meu tesouro / caso você esteja mentindo” Com o sentimento e com a necessidade de proteção:

“O autor afirma que as pessoas deixam seus ‘tesouros’ à mostra e as outras pessoas roubam. No caso, o eu lírico protege o seu para não ser enganado e roubado.” (Vitor Teló)

“Não é possível deixar livre o que se tem para ser ‘roubado’, enganado e acabar perdendo uma parte de si mesmo e se decepcionar.” (Eliel M.)

“A necessidade de proteção refere ao fato de que a gente vive de mentiras; coisas falsas e, por isso, devemos guardar nossos ‘tesouros’ (creio que nosso coração, nosso amor...). Todos nós precisamos de proteção, não no sentido de estarmos seguros; mas, sim, de proteção da nossa alma contra coisas ruins, pensamentos negativos. Precisamos de algo ou de alguém que nos proteja desse tipo de coisa.” (Victor Marques)
“Ele sente a necessidade de proteger o amor que sente por alguém, deixando esse amor guardado caso a pessoa amada esteja mentindo ou não tenha um sentimento recíproco por ele. Entendo que ele prefere proteger este sentimento para não se machucar emocionalmente.” (Júlia Toledo)

“O eu lírico quer relatar que existem aqueles que exploram o seu semelhante através de comportamentos falsos, aproveitando-se da carência sentimental do outro. Então, ele vai se cuidar para não ser enganado sentimentalmente por alguém.” (Thalita França)

“Há pessoas que vivem se alimentando da dor, dos sentimentos e dos segredos dos outros e esse é o tesouro de cada um. E esses “ladrões” são como as pessoas que enganam, mentem magoam e é verdade que o eu – lírico quer esconder seu tesouro, guardando somente para si o que sente.” (Valéria)



“Ao ler esses versos, compreendi que há pessoas que se alimentam de coisas ruins e vivem para praticar o mal para o próximo. Por este motivo, o eu – lírico quer preservar seu tesouro (que é seu coração), dessas pessoas que mentem e que iludem.” (Bianca Rosário)

“Quando chegamos nestes versos, depende muito da interpretação e da condição emocional de cada um. Em minha opinião, a pessoa poderia mentir para ele e ele quase acreditar. Dois versos depois, ele fala; ‘E por honra, se existe verdade / Existem os tolos e existe o ladrão’, é quando eu entendo que ele se refere a certa quantidade de pessoas, possivelmente uma crítica à política e à sociedade em geral. Nos dois últimos versos, ele volta  a falar da pessoa que ele pode estar amando; nessa parte ele menciona um tesouro que ele vai deixar guardado. Creio que não são bens materiais; mas, sentimentos. Porque, no  começo e no fim da música, ele se refere a sentimentos por alguém e, caso a pessoa estivesse mentindo, ela nunca mais saberias de seus sentimentos, pois ele os deixaria guardados.” (Caio Ferreira)

“Nem sempre confiamos na pessoa certa, que pode se alimentar de nossa confiança em seu próprio benefício. Então, ele guarda sua esperança de modo que o faça se sentir mais seguro, dando mais ênfase para a possibilidade de mentiras. Um bom exemplo são os políticos que atuam como ‘ladrões’ com o objetivo de roubar e de se alimentar da confiança dos outros, geralmente para suprir as próprias ‘necessidades’. Mas, mesmo assim, eles nos passam uma lição de vida: não devemos confiar em todos.” (Leonardo Rinaldi)

“O eu – lírico tem consciência de que há muitas pessoas não confiáveis e também aqueles que sobrevivem de tudo o que é roubo; por isso, ele procura proteger seus tesouros a ferro e fogo. O eu lírico sabe que, em muitos momentos da vida, não se pode confiar em ninguém. Afinal, há muitas pessoas que se aproximam dos outros por interesse e com ‘objetivos negativos’.” (Maria Luiza Menezes)

“Collor, presidente da época, com seu rosto e palavras simpáticos, fez com que todos acreditassem que ele seria ‘O’ Presidente. Mas ficou provado que não era bem assim. Quando todos deram por conta e viram que ‘QUASE’ acreditaram que o rosto e as palavras poderiam mudar algo... e não lhes tomar o que era de direito. Eis então a parte em que ele dá a resposta: ‘Existem os tolos / E existe o ladrão’. Os tolos votam e o ladrão rouba o que é de todos, se alimenta e vive do que é roubo. E, como há os que não confiam nesse ladrão disfarçado de ‘boa índole’, guardam seus tesouros próprios, caso ele (o político) esteja mentindo mais uma vez.” (Vinícius Moreira)

“O eu – lírico diz que essas pessoas são aquelas que se alimentam das suas dores e das dores do outro. E que sofre em nome dos seus segredos e pela proteção deles. Entendo que se trata de alguém ‘machucado’ e que não quer se machucar mais.” (Simone)

“Quando ele diz que as pessoas se alimentam de roubo e que ele vai guardar o tesouro dele, está se referindo aos sentimentos para com as pessoas. Pois as pessoas, muitas vezes, se aproveitam da nobreza das outras e da boa vontade para tirar proveito de algo. Hoje em dia, isso é tão comum... O difícil mesmo é  encontrar alguém que nos ame de verdade, mão apenas pelo que  agente tem, mas pelo que  agente é. Sabemos que o ser humano é falho, mas uma coisa que não podemos ter são falhas em nosso caráter. A pior coisa que alguém pode ter é seu caráter corrompido, é como se um aparte da alma da pessoa se apagasse.  Quando o autor diz: ‘caso você esteja mentindo’, mão o culpo por isso., pois esta foi uma forma que encontrou para se proteger desse mundo tão impuro e com pessoas tão más de coração e de alma.” (Leticia Barbosa)






segunda-feira, 17 de março de 2014

ESCREVA – ME SOBRE AQUILO QUE VOCÊ GOSTARIA DE ESCREVER (WRITE - ME ABOUT WHAT YOU WOULD LIKE TO WRITE)

POR MARI MONTEIRO

"Mulher lendo" - Iman Leke

Costumo dizer aos meus alunos que, quando preparo uma atividade  avaliativa, cujos conteúdos independem da memorização de conteúdos, eles sempre terão boas surpresas. É o caso desta atividade.  Faço isso como PROVOCAÇÃO para que possam exercitar o ato de pensar. De um modo geral, isso resulta em perguntas como: “Cadê a resposta?”; “Mas Mari, isso não está no texto.” Quando estas perguntas começam a pipocar na classe, sei que alcancei meus objetivos. Isso porque se não está no texto, não existe. Não se tem o HÁBITO DE PENSAR; não se desenvolve no aluno a capacidade de “ler” a INTENCIONALIDADE DO AUTOR.  Então, já não conseguimos mais responder com nossos “pensamentos e argumentos”. Só sabemos escrever aquilo que outros autores já escreveram;  a partir daquilo que já foi pensado.

Diante disso, sempre elaboro, além das questões de “praxe”, questões que  exijam que eles pensem sobre o ato de ler. Neste caso, trata-se da última questão da prova. Fiz com eles mais ou menos o que Rubem Alves e seus colegas fizeram com os candidatos ao doutorado. Eu lhes pedi: “ESCREVA-ME SOBRE AQUILO QUE VOCÊ GOSTARIA DE ESCREVER.”

Não me lembro de um avaliação tão longa. Sobretudo, no que se refere à elaboração da resposta da referida questão. Eles se queixavam que foram sido pegos de surpresa; que tinha muita coisa da qual eles gostam, mas que não sabiam como começar... A maioria dos alunos levou cerca de três aulas para concluir  a prova. Isso não me importa muito. Afinal, eles estão sendo DESAFIADOS. Isso não pé fácil. Além disso, tenho plena consciência do quanto é difícil CORRIGIR e MENSURAR respostas discursivas. Contudo, de que outra forma saberei se estão dando conta de registrar SEUS pensamentos?


Porém, ao analisar as respostas, tive uma GRATA SURPRESA. Não apenas no que se refere à última questão; mas a outras tantas.  OS ALUNOS FORAM MARAVILHOSOS! Logo, não há registros apenas das respostas da última questão, mas também de outros tantos comentários PERTINENTES e INTELIGENTES.

Outra observação a ser feita é que a mesma atividade foi aplicada nas  séries do Ensino Médio. Contudo, na atribuição das menções, levei em conta a MATURIDADE e o DISCERNIMENTO dos alunos e de suas respectivas faixas etárias/série. Tive outra grata surpresa: ESTE CRITÉRIO NÃO PODE SER UMA REGRA!


Assim, seguem o OBJETIVO e o texto base da prova. Em seguida, e gradativamente, as postagens dos próprios alunos.

OBJETIVO: Constatar o aprendizado acerca do emprego da gramática normativa nas interpretações e nas INFERÊNCIAS TEXTUAIS; bem como o emprego desta na elaboração de respostas que satisfaçam a série em questão, demonstrando o nível de maturidade de cada aluno e/ou série.





Sobre os perigos da leitura (Por Rubem Alves)


Nos tempos em que eu era professor da UNICAMP fui designado presidente da comissão encarregada da seleção dos candidatos ao doutoramento, o que é um sofrimento. Dizer “esse entra”, “esse não entra” é uma responsabilidade dolorida da qual não se sai sem sentimentos de culpa. Como, em vinte minutos de conversa, decidir sobre a vida de uma pessoa amedrontada? Mas não havia alternativas. Essa era a regra. Os candidatos amontoavam-se no corredor  recordando o que haviam lido da imensa lista de livros cuja leitura era exigida. Aí tive uma ideia que julguei brilhante.

Combinei com os meus colegas que faríamos a todos os candidatos uma única pergunta, a mesma pergunta. Assim, quando o candidato entrava trêmulo e se esforçando por parecer confiante, eu lhe fazia a pergunta, a mais deliciosa de todas: “Fale-nos sobre aquilo que você gostaria de falar!” Pois é claro! Não nos interessávamos por aquilo que ele havia memorizado dos livros. MUITOS IDIOTAS  TEM BOA MEMÓRIA. Interessávamos por aquilo que ele pensava.


Poderia falar sobre o que quisesse desde que fosse aquilo sobre que gostaria de falar. Procurávamos as idéias que corriam no seu sangue!  Mas a reação dos candidatos não foi a esperada. Foi o oposto. Pânico. Foi como se esse campo, aquilo sobre que eles gostariam de falar, lhes fosse totalmente desconhecido, um vazio imenso. Papaguear os pensamentos dos outros, tudo bem. Para isso eles haviam sido treinados durante toda a sua carreira escolar, a partir da infância. Mas falar sobre os próprios pensamentos – ah! Isso não lhes tinha sido ensinado. Na verdade nunca lhes havia passado pela cabeça que alguém pudesse se interessar por aquilo que estavam pensando. Nunca lhes havia passado pela cabeça que os seus pensamentos pudessem ser importantes. Uma candidata teve um surto e começou a papaguear compulsivamente a teoria de um autor marxista. Acho que ela pensou que aquela pergunta não era para valer.

Não era possível que estivéssemos falando a sério. Deveria  ser uma dessas “pegadinhas” sádicas cujo objetivo é confundir o candidato. Por via das dúvidas ela optou pelo caminho tradicional e tratou de demonstrar que ela havia lido a bibliografia. Aí eu a interrompi e lhe disse: “Eu já li esse livro. Eu sei o que está escrito nele. E você está repetindo direitinho. Mas nós não queremos ouvir o que já sabemos. Queremos ouvir o que não sabemos. Queremos que você nos conte o que você está pensando, os pensamentos que a ocupam…” Ela não conseguiu. O excesso de leitura a havia feito esquecer e desaprender a arte de pensar.



Parece que esse processo de destruição do pensamento individual é uma conseqüência natural das nossas práticas educativas. Quanto mais se é obrigado a ler, menos se pensa. Schopenhauer tomou consciência disso e o disse de maneira muito simples em alguns textos sobre livros e leitura. O que se toma por óbvio e evidente é que o pensamento está diretamente ligado ao número de livros lidos. Tanto assim que se criaram técnicas de leitura dinâmica que permitem que se leia “Grande Sertão – Veredas” em pouco mais de três horas.

Ler dinamicamente, como se sabe, é essencial para se preparar para o vestibular e para fazer os clássicos “fichamentos” exigidos pelos professores. Schopenhauer pensa o contrário: “É por isso que, no que se refere a nossas leituras, a arte de não ler é sumamente importante.” Isso contraria tudo o que se tem como verdadeiro e é preciso seguir o seu pensamento. Diz ele: “Quando lemos outra pessoa pensa por nós: só repetimos o seu processo mental.”
Quanto a isso, não há dúvidas: se pensamos os nossos pensamentos enquanto lemos, na verdade não lemos. Nossa atenção não está no texto. Ele continua: “Durante a leitura nossa cabeça é apenas o campo de batalha de pensamentos alheios. Quando esses, finalmente, se retiram o que resta? Perde-se, paulatinamente, a capacidade de pensar por conta própria… Este, no entanto, é o caso de muitos eruditos: leram até ficar estúpidos. Porque a leitura contínua, retomada a todo instante, paralisa o espírito ainda mais que um trabalho manual contínuo…”

Nietzsche pensava o mesmo e chegou a afirmar que, nos seus dias, os eruditos só faziam uma coisa: passar as páginas dos livros. E, com isso, haviam perdido a capacidade de pensar por si mesmos (…).E, no entanto, eu me daria por feliz se as nossas escolas ensinassem uma única coisa: O PRAZER DE LER! (Fonte: http://rubemalves.wordpress.com – acesso em 03/03/2014)







sexta-feira, 14 de março de 2014

A POSTURA DOCENTE EM RELAÇÃO AOS EDUCANDOS NASCIDOS NA ERA DIGITAL. (POSTURE TEACHERS REGARDING students BORN IN THE DIGITAL AGE.)


POR MARI MONTEIRO




“Nossas teorias sociológicas, nossa filosofia política, nossa economia e nossas doutrinas educacionais derivam-se de uma tradição ininterrupta de grandes pensadores e exemplos práticos desde a época de Platão... até o final do século passado. Toda essa tradição está dominada pela premissa de que cada geração vive substancialmente em meio às condições que governaram as vidas de seus progenitores e que serão transmitidas para moldar com igual força as vidas de seus filhos. Estamos vivendo no primeiro período da história humana para qual esta suposição é falsa.” (Alfred North Whitehead – Em “The Adventure Of Ideas”).


A afirmação de Whitehead é muito oportuna para iniciar este artigo, porque fala sobre uma mudança necessária de postura na educação. Segundo ele, não é mais possível pautar e conduzir nossas ações tal como nas gerações passadas. O que é diferente de desvalorizar a história; ao contrário, valorizar os conhecimentos históricos é fundamental. A forma de fazê-lo é que precisa ser modificada.


 Há algum tempo, percebi que os interesses de nossos alunos, mudaram drasticamente. O que ocorreu basicamente por conta do avanço tecnológico e da ampliação da facilidade de acesso à internet. Diante disso, tornou-se urgente repensar nossa postura. Sobretudo, porque não podemos mais imaginar e, muito menos tratar, nossos alunos da mesma forma como fomos tratados. SEUS INTERESSES SÃO OUTROS.


Desde então, tenho empreendido esforços no sentido de entender a nova relação que deve ser estabelecida para que o processo de ensino e aprendizagem não diminua ainda mais sua QUALIDADE e seu  SIGNIFICADO. A partir de então, realizei diversas leituras e estudos a fim de elaborar o TCC (Trabalho de Conclusão de Curso) sobre “A importância das narrativas digitais no Ensino Médio”. Inevitavelmente, a pesquisa se estendeu e alcançou patamares inesperados; mas, muito oportunos. Constatei, por exemplo, que, com o avanço tecnológico e com o acesso cada vez mais fácil à internet, aumentou consideravelmente a DISTÂNCIA ENTRE O ALUNO E O PROFESSOR não apenas no Ensino médio, mas em todos os níveis de ensino, obviamente em escalas diferenciadas.



Um dos primeiros aspectos constatados foi a RESISTÊNCIA DA MAIORIA  DOS PROFESSORES  no que se refere às ferramentas disponibilizadas na internet.  Em segundo lugar, e em decorrência do primeiro aspecto, constatei a questão comportamental, tanto do aluno como do docente. Aspecto este que me chamou muito a atenção e; por isso, independentemente do TCC, decidi realizar uma pesquisa mais profunda.


A respeito da resistência dos professores, confesso não ter ficado surpresa. Sou educadora, convivo com educadores e com alunos e sei da reação de ambos no que se refere à internet. Enquanto para os alunos o mundo virtual é um ambiente extremamente familiar; para a maioria de nós não é. É exatamente desta constatação que decorre o segundo aspecto: A REPRESENTATIVA  DIFERENÇA COMPORTAMENTAL ENTRE PROFESSORES E ALUNOS, que cria um “abismo” (até mesmo em termos de linguagem) entre alunos e professores, fato este suficiente para desencadear uma série de CONFLITOS EM SALA DE AULA.

Constatações à parte, o TCC sobre narrativas digitais foi aprovado (com média 10) e minha vontade de continuar as pesquisas e de “transformar”, paulatinamente, minha prática pedagógica só fizeram aumentar. E, por minha conta e risco, comecei a colocar algumas ações em prática. Isso fez muito bem para mim e para meus alunos. Nossas motivações foram renovadas. Quando digo que desenvolvi algumas ações em sala de aula, confesso que NÃO FAÇO ISSO PENSANDO EXCLUSIVAMENTE PENSANDO NO ALUNO; penso em mim também. PRECISO SENTIR PRAZER AO ENSINAR... O professor precisa e merece trabalhar feliz (como diz a Professora Vera Lovato) e eu concordo plenamente!



Sendo o diálogo, em minha opinião, uma das maneiras mais eficazes de aproximar professor, aluno e conhecimento, decidi que também aprenderia mais com meus alunos se eu “fizesse parte do mundo deles”. Entenda, por gentileza, este “fazer parte” como uma espécie de oportunidade de conhecê-los melhor virtualmente e de PERMITIR que eles também me conheçam melhor. Fiz isso aceitando os convites dos alunos e adicionando-os ao Facebook. Tenho o mesmo perfil na rede desde 2009 e sempre tive alunos como AMIGOS. Observe que, no Face, não há a opção “ADICIONAR ALUNO”, mas sim “ADICIONAR AMIGO”. Este detalhe que, a princípio, parece simples faz toda a diferença na RELAÇÃO estabelecida no ambiente escolar. Um perfil diz muito sobre o “seu proprietário”: através do meu perfil, meus alunos conhecem minha família (e eu a deles); eles sabem das minhas preferências culturais em relação à música; à leitura; ao cinema; ao esporte etc. (e eu conheço as deles). Além disso, há a evidente questão de que o perfil diz muito do que eu sou através das minhas expressões escritas; dos meus posts etc. Estas informações jamais seriam COMPARTILHADAS no “MUNDO REAL”; pois entre uma aula e outra não temos tempo para isso. Contudo, esta atitude é muito comum e erroneamente confundida com EXPOSIÇÃO DO PROFESSOR em relação aos seus alunos. 


Minhas pesquisas e minha prática pedagógica estavam exatamente neste ponto quando, para minha surpresa, a gestora Maria Helena da E.E. Carlos Drummond de Andrade me fez um convite: conversar com os professores, no PLANEJAMENTO 2014, sobre esta necessidade de (RE) APROXIMAÇÃO dos professores e alunos, usando o BLOG CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE (blog este que administro em conjunto com a gestão há quase um ano), no qual publico, basicamente, RELATOS DE EXPERIÊNCIAS; EVENTOS REALIZADOS PELA ESCOLA; DESENVOLVIMENTO DOS PROJETOS EXISTENTES  E TEXTOS DE FORMAÇÃO PARA PROFESSORES. E, consequentemente, sobre o USO DAS REDES SOCIAIS e a Educação, lembrando que a SECRETARIA DA EDUCAÇÃO mantém uma página no Facebook. E, não raramente, uso o Face e os e-mails para divulgar os novos artigos. Adoro este trabalho! 

No início, confesso, fiquei insegura: como será a receptividade em relação ao tema? Contudo, Maria Helena é uma pessoa “abusada”. Aceita os desafios propostos e, com argumentos e encorajamento de sobra, me forneceu a CONFIANÇA e o respaldo de que eu necessitava. Assim, nasceu a conversa em torno do tema: "A POSTURA DOCENTE EM RELAÇÃO AOS EDUCANDOS NASCIDOS NA ERA DIGITAL.”  


Diante deste compromisso, me dispus a planejar a ação através de fundamentação teórica (Usei, basicamente Zigmunt Baumman e John Palfrey & Urs Gasser) e da seleção de imagens relacionadas ao tema. Meu objetivo primeiro era, humildemente, mas muito bem fundamentada em meus estudos, e com muita HUMILDADE INTELECTUAL (expressão esta, aliás, muito usada pela Gestora Helena) “minar” as eventuais resistências ao tema. A primeira sequência de argumentos escolhidos para isso foi pautada nos seguintes aspectos: demonstração do acesso ao blog; do “pico” de acessos (e que não eram propriamente advindos do corpo docente); da necessidade de se tornar membro do blog da escola em que trabalha e de tornar visíveis as atividades docentes realizadas em sala de aula publicados e INTERAGIR com os mesmo através dos comentários.

Em seguida, me vali de uma sequência de slides que foram das “desvantagens” da internet e das redes sociais até a NECESSIDADE DE BUSCAR O EQUILÍBRIO ENTRE O MUNDO VIRTUAL E O MUNDO REAL. Isso para nos convencer de que nossos alunos, NASCIDOS NA ERA DIGITAL, não conhecem outra realidade, uma realidade que foi a nossa, mas que NÃO EXISTE MAIS e, provavelmente por isso mesmo, eles não reconhecem o valor de nossas aulas (tal como sempre foram) como deveriam. Isso porque seus INTERESSES divergem cada vez mais dos nossos. Em contrapartida, a nós educadores, NASCIDOS NA ERA ANALÓGICA e, portanto, tendo vivenciado a transição dos estreitos laços de afeto para as relações virtuais, cabe a tarefa de trabalhar para que o EQUILÍBRIO SE ESTABELEÇA e para que AS FERRAMENTAS DA INTERNET SEJAM USADAS A NOSSO FAVOR e não como “inimigas” que afetam o aprendizado, que não nos deixa trabalhar. Esta tarefa também nos cabe porque temos, supostamente, MAIS MATURIDADE MAIS DISCERNIMENTO  que nossos alunos.



Enfim, o artigo ficaria muito extenso caso eu argumentasse sobre cada um dos slides e transcrevesse AS VALIOSAS CONTRIBUIÇÕES DOS PARTICIPANTES (do período diurno e noturno). Fato é que os dois encontros foram ótimos. As questões colocadas foram muito bem entendidas e discutidas. Sou muito grata à Gestão pelo convite e pela confiança depositada e aos colegas de profissão que tão bem me receberam, proporcionando uma TROCA SALUTAR de informações e de conhecimentos. Como brinquei na discussão com os colegas do noturno: “ALCANCEI MEU OBJETIVO: PLANTEI A ‘DISCÓRDIA’, AGORA É AGUARDAR O RESULTADO DAS REFLEXÕES.” Mesmo porque, apesar de ter dito isso num contexto em que estávamos conversando descontraidamente, NÃO HÁ COMO NEGAR, OS NOSSOS ALUNOS NASCERAM NA ERA DIGITAL e, de certa forma, temos muito que aprender com eles. Desconheço, na história da educação, época mais propícia e rica para TRANSFORMAR INFORMAÇÃO EM CONHECIMENTO. Assim como não dá para negar que o docente não é mais o “DETENTOR DO SABER” e, muito menos, o “TRANSMISSOR DE INFORMAÇÕES”; pois o GOOGLE executa esta tarefa com muita eficiência! Outro aspecto que preciso mencionar é que QUALQUER RESQUÍCIO DE INSEGURANÇA DE MINHA PARTE SE FOI... O que ficou não foi uma certeza, isso não seria bom; foi um desejo enorme de RECONSTRUIR SEMPRE MINHA PRÁTICA DOCENTE; DE, AO INVÉS DE SER “ARRASTADA” PELA TECNOLOGIA, APRIMORAR MEUS CONHECIMENTOS SOBRE ELA E SEGUI-LA POR LIVRE E ESPONTÂNEA VONTADE, COLOCANDO A MEU SERVIÇO E NÃO O CONTRÁRIO... 


segunda-feira, 3 de março de 2014

O QUE É REALMENTE NOSSO?: RELATO DE EXPERIÊNCIA (WHAT IS REALLY ?: OUR EXPERIENCE REPORT)

POR MARI MONTEIRO


Sempre, durante as aulas de Literatura, um trecho de livro ou características de determinados autores, permitem que eu faça algo que adoro:  a relação entre o que  estamos aprendendo ( e que aconteceu há séculos) com o que vivenciamos agora. Além de demonstrar a GENIALIDADE dos autores da nossa Literatura clássica, fica claro para nós que as BOAS OBRAS são atemporais.

Da última vez, agora antes do carnaval, conversávamos sobre “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, a mais famosa obra machadiana. Depois de lermos a biografia do autor e a famosa dedicatória da obra, os alunos demonstraram extremo interesse. Em seguida, lemos um fragmento da obra em que ele descreve seu funeral, o qual contou com onze “amigos” (“ONZE!”), aliás, exclama ele neste trecho.


Esta leitura, para minha alegria, desencadeou um produtivo debate relacionando o porquê da dedicatória “AO VERME QUE PRIMEIRO ROEU AS FRIAS  CARNES DO MEU CADÁVER...” e a ideia de que ele morrera insatisfeito com sua vida e certo de que possuía pouquíssimos (se é que possuía) amigos VERDADEIROS.




Foi então que aproveitei para iniciar uma boa conversa em torno de um recorte que lhes contei, a fim de que, à luz da OBRA MACHADIANA, eles pensassem sobre o QUE VERDADEIRAMENTE TEMOS NESTA VIDA. 

Diante disso, Lembrei-me de um fato ocorrido anos atrás, envolvendo alguns alunos. Estava eu colocando alguns números de páginas na lousa, quando ouvi:

- Que isso “véi”? Este seu tênis ralé aí, que nem de marca é? O meu é original. Não sou como você que compra roupa no camelô!

Ah!!! Logo eu fui ouvir uma coisa destas... Pra que? Deixei tudo que havia planejado de lado.  Esperei pacienciosamente o garoto sentar. Aproximei-me dele devagar  e esperei que ele me dissesse algo. E ele disse:

- Que foi “SSÔRA”? (É assim mesmo que eu, como professora de Língua Portuguesa “enxergo” a palavra dita rsrs).

A partir de então, segue um diálogo improvisado, claro, pois eu não esperava isso... E, bocuda que sou, imagina se me calaria diante de tamanha ARROGÂNCIA e CONSTRANGIMENTO de outros alunos. Era a Mari que estava ministrando aquela aula  e não um SER INANIMADO, sem sangue nas veias. Não respondi e ele repetiu a pergunta. Queria me certificar que todos já haviam se dado conta do iria acontecer...

- Estou olhando seu tênis. Bonito neh? O – RI – GI – NAL  neh?

- É “ssôra”, só tenho roupa original.

- E a calça também é muito bonita. A camiseta também. E esse boné? Da Oakley neh? Sabia que a Oakley é uma empresa norte-americana? E que os norte - americanos nem sabem que você existe?

- E daí? Achei “da ora” e comprei. Mas não do camelô como esse bando de Zé Mané aqui da sala compra.

- Bando de Zé Mané??? Então, querido, tenho uma  SURPRESA pra você. Este tênis NÃO É SEU!

- Como não? Comprei p----!

- Mas não é seu! Esta calça não é sua! Esta camiseta que você nem sabe o que está escrito também não é sua. Esse boné não é seu!

- “Cê tá loca ssôra?”

- Quer ver como NADA DISSO É SEU? Digamos que você morresse amanhã... Sei lá de bala perdida, atropelamento... Estas fatalidades que sempre acontecem, na maioria das vezes com pobre, e a gente aqui é TUDO POBRE, e nunca sabemos quando vêm. Você não seria sepultado com estas roupas. Mas, suponhamos que fosse. AINDA ASSIM NADA SERIA SEU; pois apodreceria sob a terra. E, caso você fosse cremado, aí sim é que as roupas desapareceriam em segundos!

Durante algum tempo, ele ficou me olhando em silêncio. Nunca esquecerei o que me DISSE COM SEU OLHAR. Era um misto de raiva, de vergonha, de tristeza... Pediu licença. Saiu da sala por alguns minutos e, quando voltou, começou a acompanhar a aula que eu já havia iniciado.

ONDE ESTÁ A LITERATURA? Em tudo que ele disse e que eu disse, e no que ficou nas entrelinhas e nas pausas de nosso diálogo.  Isso porque a Literatura é algo transformador, nada assim instantâneo ou miraculoso, mas que faz a diferença.




ONDE ESTÁ MACHADO DE ASSIS? Na ousadia de ser REALISTA; de não calar pra uma sociedade hipócrita que impõe costumes e hábitos ao invés de se preocupar com valores. Tal como Machado de Assis, que fez uma retrospectiva e constatou com pessimismo o que havia vivenciado, eu também o fiz naquela noite. Mas, com uma diferença, em tempo de o aluno repensar sua vida EM VIDA. E, nesta aula sobre Machado de Assis e sobre as memória de Brás Cubas, percebi que meus alunos do EM apreenderam a “mensagem” da obra e do autor,  que representa um marco na Literatura Brasileira.


Quanto a mim, creio que, se vivêssemos na mesma época, eu e Machado teríamos nos tornado ótimos amigos... rsrs


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