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EDUCAR É, ANTES, SENTIR... E TODOS SÃO CAPAZES DISSO.

domingo, 29 de junho de 2014

“NÓS E OS NOSSOS NÓS”

POR MARI MONTEIRO




Sempre que o assunto é RELACIONAMENTO A DOIS, a canção “O mundo anda tão complicado”, de Renato Russo me vem à mente como um ideário muito particular do que entendo sobre relacionamento. Chega a ser INTRIGANTE como um tema tão discutido e analisado em pesquisas e livros (sobretudo, de auto-ajuda) é ainda tão complicado. Complicado no sentido de que, basta um olhar à nossa volta para perceber o quanto existem pessoas sozinhas; pessoas com medo de assumir um relacionamento mais sério; pessoas “mergulhadas” em relacionamentos de fachada; relacionamentos CHEIOS DE NÓS, amarrados... Relacionamentos decadentes...

Sabem o que os “NÓS NÃO DESATADOS” fazem? Eles nos imobilizam. Impedem que nos movimentemos rumo à pessoa amada.  Eles nos fazem pensar que é preciso esperar que até que “ALGUÉM SEM NÓ APAREÇA”! Não há momento certo! Não há a pessoa perfeita. NÃO EXISTEM PESSOAS SEM NÓS PARA SEREM DESFEITOS. Portanto, caso esteja  esperando pela pessoa perfeita, linda e LIVRE DE PROBLEMAS, esqueça! Você  está fadado(a) a viver Sozinho(a)!



Posso fazer, no mínimo, três afirmações irrefutáveis sobre relacionamentos: Trata-se de um tema clichê; é um assunto inesgotável e, por fim, NADA que se diga se aplica a TODOS os relacionamentos. No máximo, o que pode acontecer é uma adaptação superficial daquilo que se lê e daquilo que se aprende.

Penso que TODO relacionamento envolve um MISTERIOSO aglomerado de “coisas”. É como se, o que contasse para dar certo, fosse o “conjunto da obra” e não a obra (entenda - se pessoa) em si. Ou seja, não se ama apenas a pessoa; mas TUDO que a envolve: suas atitudes; seus olhares para os mais diferentes cenários; sua índole; seu cheiro; sua pele; sua voz; seu sono; sua insônia; sua busca; seus sonhos; seus desejos; suas frustrações...

Cada ser possui, em maior ou menor quantidade, uma série de nós que não desatamos durante a vida. Estas situações, muitas vezes não resolvidas ou que nos decepcionaram, “amarram” os relacionamentos presentes e  futuros: minam a confiança no outro; fazem com que se acredite que tudo para dar certo tem de estar tão preso  e seguro quanto um nó bem dado...  Bem por isso, prefiro o titulo “NÓS E OS NOSSOS NÓS” em detrimento ao chavão "Relacionamento a dois". Relacionamentos somente dão certo quando os DOIS estão dispostos a desatarem seus nós, cada um a  seu tempo. Sabendo que há “nós” tão fortes que precisam de CUMPLICIDADE para ser desfeito.

Uma vez que acredito que qualquer relacionamento prescinde de CUMPLICIDADE  e de  CONFIANÇA, sinto-me à vontade para usar esta letra de Renato Russo para ilustrar  o que entendo como um relacionamento, literalmente, a dois.


“O MUNDO ANDA TÃO COMPLICADO

Gosto de ver você dormir
Que nem criança com a boca aberta

O telefone chega sexta-feira

Aperto o passo por causa da garoa

Me empresta um par de meias

A gente chega na sessão das dez

Hoje eu acordo ao meio-dia

Amanhã é a sua vez


Vem cá, meu bem, que é bom lhe ver

O mundo anda tão complicado

Que hoje eu quero fazer tudo por você.

Temos que consertar o despertador
E separar todas as ferramentas

Porque a mudança grande chegou

Com o fogão e a geladeira e a televisão

Não precisamos dormir no chão

Até que é bom, mas a cama chegou na terça

E na quinta chegou o som



Sempre faço mil coisas ao mesmo tempo
E até que é fácil acostumar-se com meu jeito

Agora que temos nossa casa

é a chave que sempre esqueço


Vamos chamar nossos amigos
A gente faz uma feijoada
Esquece um pouco do trabalho

E fica de bate-papo

Temos a semana inteira pela frente

Você me conta como foi seu dia

E a gente diz um p'ro outro:

- Estou com sono, vamos dormir!



Vem cá, meu bem, que é bom lhe ver

O mundo anda tão complicado

Que hoje eu quero fazer tudo por você
Quero ouvir uma canção de amor
Que fale da minha situação
De quem deixou a segurança de seu mundo
Por amor”




“(...) Hoje eu acordo ao meio-dia
Amanhã é a sua vez. (...)” 
Estes versos traduzem o que penso de um relacionamento em que há troca; em que há RECIPROCIDADE. Quando um sabe das dores e do cansaço do outro e, COM MUITO ZELO, propõe uma espécie de rodízio para que as mazelas e a rotina não consumam e nem se sobreponham aos sentimentos e ao afeto.

“(...) Vem cá, meu bem, que é bom lhe ver
O mundo anda tão complicado

Que hoje eu quero fazer tudo por você. (...)”




Já estes expressam o ato, neste caso, simbólico, de “pegar no colo”. Quem, um dia ou outro, não deseja (e precisa!) de  colo? Quanto ao verso “fazer tudo por você”, quase não encontro palavras, pois o verso é tão amplo e completo que vai desde um jantar surpresa, no final do dia, até a resolução dos mais diversos problemas que o outro, em determinado momento, não dá conta sozinho.


Em tempos de relacionamentos que ocorrem, digamos, no modo “INSTANTÂNEO”, a “oferta” é imensamente maior; assim como, as facilidades de acesso ao outro. Qual é o esforço gasto no processo de CONQUISTA? Em alguns casos, o “processo” nem existe. O acesso já é a passagem para “os finalmentes”. É como entrar num trem que te leva direto do ponto “A” ao “B” sem que você tenha apreciado o trajeto.  Viagem sem graça esta. Mas, há quem goste e, pior, quem, lamentavelmente, só fará viagens assim.


Já os relacionamentos mais sólidos exigem um   maior empenho. Quanto mais se conhece o outro, mais nós há para serem desatados.  É preciso caminhar JUNTOS; falar sobre as PAISAGENS. É preciso fazer por merecer cada gesto de carinho e, claro, retribui-lo... Cada um, à sua maneira, sem pressa, revelar suas mais íntimas vontades, virtudes e defeitos... Gostar ou não do que será mostrado é parte do processo. Gostar ou desgostar depende também do quanto o outro está disposto a valorizar e até mesmo a aceitar as diferenças. Graças a Deus somos diferentes.  Eu odiaria namorar uma "MARI". (rsrs). Gostar ou não está relacionado, inclusive, à predisposição para a CONQUISTA, ao tempo dedicado a  esta ARTE.


A letra que, de certa forma, esmiucei, é atemporal. Isso é perceptível no próprio título; pois, como negar que “o mundo anda tão complicado”? Letra pertencente ao CD V, lançado em 1991. Meu Deus! Passaram-se VINTE E TRÊS ANOS e a maioria de nós ainda não consegue se relacionar de modo recíproco e afetivo como propõe canção.  

Posso conjecturar em torno de alguns motivos que "justifiquem" este fato: somos HORRÍVEIS; somos EGOÍSTAS; exigimos DEMAIS do outro; não cultivamos AMOR PRÓPRIO para sermos BELOS aos olhos do outro; não confiamos; potencializamos os defeitos; não elogiamos e nem valorizamos as virtudes; não nos damos ao “trabalho” de falar com um tom de voz suave; somos COVARDES: temos medo de ser piegas ao dizer "eu te amo"... E não me venham com desculpas do tipo: dizer não importa. IMPORTA SIM! E, acreditem, quem ouve sempre sabe a verdade, se a fala foi real ou superficial... estas coisas a gente sente. Ah! como sente...

E o DIÁLOGO??? Cadê? Impressionante como quase tudo, facilmente, SUBSTITUI uma boa conversa: a TV; o Whats; imagens... Os textos viraram frases, as frases se tornaram palavras que tendem a virar – como disse em certa ocasião, José Saramago – GRUNHIDOS até silenciar... Quem dera os relacionamentos fosse similares à letra de Renato:


“(...) Vamos chamar nossos amigos
A gente faz uma feijoada

Esquece um pouco do trabalho

E fica de bate-papo

Temos a semana inteira pela frente

Você me conta como foi seu dia

E a gente diz um p'ro outro:

- Estou com sono, vamos dormir! (...)”

O que a gente diz um pro outro? Queixas? Isso cansa! Vez por outra, dizemos. Não somos feitos de ferro! Mas, essas coisas são viciantes. Viram rotina num instante. E, logo, perdemos o jeito. Ficamos sem assunto. Até as queixas já não fazem mais sentido. E os amigos que são comuns aos dois? Aparecem apenas quando tem festa em ocasião especial? Por que não para um bate-papo no meio da semana?

O engraçado é que é fácil enumerar o que não é bom para o relacionamento. Então, basta fazer o contrário! E para fazer? Façamos isso em meio a tudo que for do cotidiano, em meio à correria (que, aliás, serve de desculpa pra tudo...). Ligar no meio da tarde. Conversar até de madrugada. Desligar os celulares... (Nossa! Para algumas pessoas, isso equivale a desligar os aparelhos que os mantém vivos!!! Rsrrsrs)

“(...) Vem cá, meu bem, que é bom lhe ver. (...)”
 Este é o que chamo de “VERSO DA SAUDADE”. É bom ver e rever a pessoa amada. Contemplá-la sem pressa... Sem medo que  ela se vá  e não volte...


“(...) Quero ouvir uma canção de amor
Que fale da minha situação

De quem deixou a segurança de seu mundo

Por amor.”

Quanto a ouvir canções de amor, sempre haverá alguma que fale da nossa situação. No meu caso, não tenho “uma canção”, tenho uma trilha sonora.

Finalmente, quem disse que amar é seguro? Haverá sempre novos nós a serem desatados. Por vezes, estarão frouxos, bastará puxar uma das pontas e pronto! Outras vezes, estarão apertados, cada um terá que SEGURAR DE UM LADO e esforçar-se para desatar. Amar envolve conflitos e  riscos. O que é bom, porque quando há conflitos, aprendemos  a resolver. E quando há riscos, são necessários CUIDADOS. Não aquele cuidado que sufoca como um nó apertado ou como quem mata uma planta afogada com medo que ela seque... Cuidados como aqueles que se tem com um recém-nascido: afagar sempre; velar o sono; atentar para o primeiro sinal de "instabilidade"; cuidar para crescer com saúde. Porque o amor, PARA DURAR, tem de ser assim: recém-nascido sempre e para sempre...




domingo, 22 de junho de 2014

DOZE ANOS DE ESCRAVIDÃO (“12 YEARS A SLAVE”): FILME RECOMENDADO

POR MARI MONTEIRO


Inquietante.

Intenso.

Sensível.

Uma vez que se assiste a um filme sabendo que o mesmo é baseado em FATOS REAIS, o enredo possui um “peso” diferente. A primeira coisa que me veio à mente ao terminar de ver este filme foi: “E se amanhã eu acordasse totalmente da liberdade que gozo hoje e longe de todos que conheço?” Passei algum tempo pensando sobre esta questão e conclui que, muito provavelmente, não teria a CORAGEM e a RESILIÊNCIA que Solomon Northup teve durante longos e sofridos DOZE ANOS.


Entremeando a trama do enredo central, encontramos questões polêmicas como:  a violência psicológica; o abuso moral; o VALOR e o PODER da ESCRITA e a força interior que nos move quando temos PARA QUEM e PARA ONDE  voltar.

Enfim, há aspectos abordados durante o filme que, por mais que neguemos, não mudaram tanto assim no mundo contemporâneo... Se disser mais, “darei o spoiler”. Então, sinta-se à vontade para descobrir por si mesmo o quanto é possível sobreviver às mais terríveis humilhações quando isso, em determinando momento, é somente o que se tem.

“ Breve sinopse: 1841. Solomon Northup (Chiwetel Ejiofor) é um escravo liberto, que vive em paz ao lado da esposa e filhos. Um dia, após aceitar um trabalho que o leva a outra cidade, ele é sequestrado e acorrentado. Vendido como se fosse um escravo, Solomon precisa superar humilhações físicas e emocionais para sobreviver. Ao longo de doze anos ele passa por dois senhores, Ford (Benedict Cumberbatch) e Edwin Epps (Michael Fassbender), que, cada um à sua maneira, explora seus serviços. “ ( In. http://www.adorocinema.com/filmes/filme-196885 - acesso em 22/06/2014)

RECOMENDO!!!  Pois, assim como sempre digo com relação  a obras literárias, vale o mesmo para filmes. Obra boa é aquela que te inquieta e remexe o que temos ali guardadinho... Coisas que, por vezes, nem sabíamos que possuíamos até então... Ou seja, até precisarmos tanto delas...

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