POR MARI MONTEIRO
Este artigo é dedicado a todos os docentes que AINDA se indignam com a situação da educação brasileira; que se RECUSAM A TRANSFORMAR EM LUGAR COMUM um aluno de 9º ano que não escreve espontaneamente e que não lê com fluência. Quero que saibam que, apesar do cenário "desenhado pelo sistema", NENHUM DE NÓS ESTÁ SOZINHO.
Não restam dúvidas de que a
profissão docente exige muito da PESSOA HUMANA. Faço questão de frisar: PESSOA
HUMANA. Isso porque, não raramente, lemos e estudamos textos (desatualizados,
diga-se... ou seja; que relatam a situação e a postura de um docente
“estudado/analisado” nas décadas de 70, 80, 90) que dão conta de um profissional cujo perfil não lhe permite "ser humano"; uma pessoa imune às mazelas educacionais e privado da capacidade de indignar-se. De um modo geral, o docente é visto como o grande “carrasco” do fracasso educacional brasileiro.
A ele cabe toda culpa e toda responsabilidade pelos péssimos índices da
Educação Básica Brasileira.
Confesso estar um tanto (aliás, um tantão) enojada destes discursos. A educação brasileira; a eficiência dos alunos e, consequentemente, a qualidade dos resultados obtidos estão INTIMAMENTE relacionados à falta de precisão e de “coerência” (ouso dizer: BOM SENSO) nas avaliações realizadas. Culpa dos docentes? NÃO! Assim desejo crer. Mas, de um sistema que atrela as notas e rendimentos obtidos pelos alunos a uma PSEUDOEVOLUÇÃO do aluno, por mais ínfima que seja.
Explico melhor: Adoeci. literalmente, participando de reuniões pedagógicas,
cursos de formação etc. em que, após a criação do que (por falta de terminologia
adequada) chamo de tabela classificatória: aquela em que o aprendizado do aluno
é, literalmente, FATIADO e analisado. Sob esta perspectiva, TUDO, exatamente
tudo, é considerado avanço. Nada contra prestar atenção à evolução dos alunos.
Sou RADICALMENTE CONTRA a “atitude” de nivelar por baixo o aprendizado;
subestimar o aprendizado. Cansei de debater com profissionais que conseguem ler
a palavra “ABACAXI” em “AAI”... Como
isso é possível? O infeliz que “ditou” a palavra sabe que ele TEVE A INTENÇÃO
DE ESCREVER ABACAXI; mas e se pedem pra alguém que não tem a menor ideia do que
foi pedido para escrever? Ah! Só para lembrar: EM XANGAI, 1º COLOCADO NO
RANKING DO PISA 2012, O SISTEMA DE ENSINO É TRADICIONAL. (Fonte: http://www.terra.com.br/noticias/educacao/infograficos/sistemas-de-ensino
acesso em 11/02/2014).
O exemplo mencionado, somado às sequelas da profissão
docente, já seriam motivos suficientes para “JUSTIFICAR” o título deste artigo.
Ora, um professor, decente (ético e dono de um mínimo de bom senso), só pode
ficar doente diante de um quadro educacional que, praticamente, lhe ORDENA:
“MINTA”; “FAÇA DE CONTA QUE ESTÁ TUDO BEM; QUE OS ALUNOS TERMINAM O ENSINO
FUNDAMENTAL I LENDO E ESCREVENDO FLUENTEMENTE.” “APROVE SEUS ALUNOS E DÊ BOAS
NOTÍCIAS AOS PAIS E RESPONSÁVEIS”. Ironicamente, neste caso, a "doença" é um "sintoma" da CURA... E, como a “cereja do bolo”, encontre meios
para sobreviver com seu salário mensal. Ou, se não consegue, quem se importa?
Para o sistema tanto faz se o professor trabalha em dois ou três empregos.
ALIÁS, “DOBRAR PERÍODO” AGORA VIROU UM “CONVITE FORMAL!”.
E as coisas vão piorando. Na etapa seguinte, caso o mesmo
aluno coloque um “B” para esta mesma palavra, VIVA! Rojões são soltos e a
felicidade fica estabelecida. A ordem é: O ALUNO NÃO É ANALFABETO! VAMOS MUDAR
A CLASSIFICAÇÃO DELE E PINTAR A FICHA DELE DE OUTRA COR. Mas, para mim, este
aluno CONTINUA NÃO SABENDO ESCREVER!
Isso não exclui minha crença no PROCESSO DE ENSINO. Mas, não
me venha fazer aprovar aluno que escreve “AAI” no lugar de “ABACAXI”. Gente,
aos OITO ANOS DE IDADE, se o aluno não escreve e nem lê palavras e sentenças
simples, ELE NÃO ESTÁ ALFABETIZADO E PRONTO! Estive no Ensino Fundamental I o
suficiente para assistir cenas como esta. E, mais, ouvir coisas assim: “olha,
como ele melhorou!”; “progrediu muito, vamos aprovar!”. Ora, tenha um pouco de
BOM SENSO. Basta fazer um a analogia básica e
responder ao seguinte questionamento: POR QUE UM ALUNO DE OITO ANOS DE UMA BOA ESCOLA
PARTICULAR LÊ E ESCREVE DE FORMA SATISFATÓRIA PARA A IDADE E OS ALUNOS DA
ESCOLA PÚBLICA AINDA SÃO “SILÁBICOS COM OU SEM VALOR”?
E, não me venham com a balela de que se trata de estrutura
familiar e social (obviamente, isso pesa e muito; mas não determina). E que,
por isso, o aluno da escola privada é “mais favorecido” pelos fatores externos.
Independentemente da classe econômica, toda criança que ingressa nas séries iniciais
traz consigo milhares de horas de TV; imagens aleatórias registradas em sua
memória de acordo com seu meio; relações com familiares e amigos... Ou seja,
TODA criança já ouviu incontáveis PALAVRAS e guarda em sua memória incontáveis
IMAGENS.
Então, qual a diferença?
O que mais me incomoda é que esta mesma ANÁLISE MEDÍOCRE se
estende por todo o Ensino Fundamental. E, pior, norteia o trabalho pedagógico
da grande maioria dos docentes (felizmente, conheço professores que se negam,
apesar de sofrer REPRESÁLIAS, a nivelar o aprendizado por baixo). O que resulta
numa formação debilitada do aluno para servir de base para a continuidade dos
estudos no Ensino Fundamental II. Mas, convenhamos, A QUEM INTERESSA QUE OS
ALUNOS APRENDAM DE VERDADE? QUE, EM DECORRÊNCIA DE UM ENSINO EFICAZ, ELE SEJA
CAPAZ DE ANALISAR E DE ARGUMENTAR CRITICAMENTE?
Esta abordagem, de um modo muito conciso e sem a merecida
consideração e aprofundamento, representa MINHA DEFESA EM PROL DO PROFESSOR,
cuja culpabilidade ocupa um espaço muito maior do que seus DILEMAS PEDAGÓGICOS.
O que passa pelo “sistema” e, quando digo “sistema”, quero dizer TODOS OS
FATORES E SETORES QUE FAZEM PARTE DO PROFESSOR. E ele, na sua lida diária, nem
sempre TEM ou ESTÁ em condições (físicas ou emocionais) para “bater de frente”
com o “sistema” e dizer: “QUERO ALUNOS DE TERCEIRO ANO COM NÍVEL DE APRENDIZADO
DE TERCEIRO ANO! PARA REALIZAR UM TRABALHO SATISFATÓRIO, NO QUAL MEU ALUNO
APRENDA O QUE LHE É DE DIREITO.”
Enfim, DESAFIO, melhor, convido a todos os leitores (professores; diretores;
pais; alunos e público em geral...) a me CONVENCER, COMO SE EU TIVESSE OITO ANOS DE IDADE, DE QUE O “SISTEMA” ESTÁ
CORRETO E QUE, CONSEQUENTEMENTE, A EDUCAÇÃO BRASILEIRA É ÓTIMA; APENAS NÃO É
MELHOR POR PURA INCOMPETÊNCIA DOCENTE.
Com afeto (e com pesar),
Mari Monteiro