POR MARI MONTEIRO
Com que direito uma pessoa olha pra outra, condena sua opção sexual,
julga e pune? Nunca consegui entender isso! Cada pessoa é livre para ser o que
é. Não é esse o discurso politicamente correto? SÓ DISCURSO! Porque a maioria
de nós carrega uma ou mais formas de preconceito. O que não dá a ninguém o direito de agredir o
outro pela sua identidade. Antes, de acrescentar outros comentários, segue a
notícia publicada pela mídia ontem (24/02/2016):
"Desde
o primeiro dia de aula, eu sabia que ia apanhar. Fui xingado e ofendido. No dia
que apanhei, estava com o coração apertado. Quando vi, já levei uma, duas
pauladas. Depois, socos, chutes e eu apaguei. E tudo isso por ser
homossexual." O autor da frase é um jovem de 18 anos, estudante no segundo
ano do ensino médio na escola estadual Lourdes Maria de Camargo, em São José
dos Campos, e a descrição se refere ao ataque sofrido por ele, por volta das
23h de segunda-feira (22), na saída das aulas.
Na
ocasião, um colega de classe dele, de 16 anos, comandou a pancadaria. Outros
quatro adolescentes, todos menores, participaram da agressão. Apesar de
identificados, eles foram liberados pela Polícia Civil após prestarem
depoimento.
Segundo
relato da vítima, ele já havia denunciado o caso para a direção da escola
anteriormente. "Desde o primeiro dia de aula, ele me xinga. Nunca teve
motivo. É uma coisa inexplicável", disse. "Ele disse claramente que
ia me matar, que ia me pagar na saída, que ia acabar comigo", contou.
Como
ameaças se intensificaram, no dia da agressão ele havia sido mudado de classe.
"A direção achou melhor e me disse para ficar tranquilo que nada
ocorreria. Mas, na saída, depois da aula, eu estava conversando com uma amiga
na porta da escola quando ele veio com o pau. Não deu tempo de dizer
nada", contou.
Durante
o espancamento, a vítima afirma ter ouvido os agressores gritarem frases
homofóbicas. Depois do primeiro golpe, ele afirma ainda ter visto outros quatro
jovens se aproximando, também armados com pedaços de madeira. "Eu tentei
correr pra dentro da escola, mas não deu tempo. Senti outras pauladas e
apaguei. Só acordei dentro do carro, quando estava sendo socorrido",
disse.
Ele
teve ferimentos em várias partes do corpo, em especial na cabeça e abdômen.
Abandonado na rua foi socorrido por populares e levado à UPA (Unidade de Pronto
Atendimento) do Campo dos Alemães. Ele foi medicado, recebeu sete pontos na
cabeça e foi liberado.” (http://educacao.uol.com.br/noticias/2016/02/24/aluno-gay-e-espancado-a-pauladas-por-cinco-jovens-em-frente-a-escola-em-sp.htm
- acesso em 25/02/2016)
Agressões contra gays já me emputecem quando acontecem com
adultos em vias publicas ou em outros locais. Agora, na porta da escola, é algo
aterrador sob meu ponto de vista. Por quê? Porque é na escola que se combate,
de maneira mais incisiva e didática (ao menos deveria ser assim) o preconceito.
E, mais, para a “coisa” acontecer fora da escola (na saída) como é o caso, é
porque começou no interior da escola, na sala de aula, nos intervalos,
corredores, conversas de banheiro etc.
Aí eu pergunto: “Nenhum professor notou ou supôs que algo
estaria acontecendo? Alguma piadinha? Mudanças no comportamento dos envolvidos?”
Claro que sim. Sou professora. A gente percebe quando alguma espécie de
bullying está acontecendo, por mais sutil que seja. Já passei por várias situações
em sala de aula em que, uma vez percebido isso, sempre dei um jeito de trazer a
temática “da discórdia” à tona: sejam através de redações, debates, fóruns etc.
O professor tem este feeling e tem esse “poder” em sala de aula.
Enquanto a escola, na qualidade de educação formal e os
professores, na condição de formadores de opinião, não tomarem pra si uma
parcela maior de comprometimento com relação ao combate ao preconceito e até
outros assuntos, que extrapolem os
conteúdos de ensino, o comportamento predominante na sociedade continuará
refletindo preconceitos; agressividade, falta de ética etc. Não estou, com
isso, apontando culpados ou responsáveis diretos para o que houve. Quero dizer
que é OBRIGAÇÃO DA EDUCAÇÃO FORMAL pensar em meios de implementar disciplinas
novas que possam dar conta de abordar as temáticas que causem polêmicas e que,
por isso mesmo, devem ser debatidas e trabalhadas.
Há quem diga: “mas isso me uma questão cultural!” ou “isso é
a sociedade quem deve resolver” ou, ainda, “quem deve resolver isso são as
autoridades competentes!” Pois, todas estas questões são parte da formação e da
construção do conhecimento e; portanto, passam sim pela educação formal. Além
disso, considero o ambiente escolar o mais propício e oportuno para que
questões polêmicas sejam tratadas, debatidas etc. Mas, ao contrário disso, ouço
muito: “ah! Não ganho pra isso”; Não quero problemas pro meu lado!”; Isso é
problema do aluno e da família dele!’... E nisso a escola se omite e “permite”
que as questões mal resolvidas ( algumas
sequer conversadas) como: respeito; individualidade; aceitação etc
evoluam para rivalidades e agressões sejam verbais ou físicas. O que é
lamentável de se ver... Mas, vemos.