Translate

EDUCAR É, ANTES, SENTIR... E TODOS SÃO CAPAZES DISSO.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

DOCENTE DECENTE E DOENTE (PROFESSOR HEALTHY OR SICK)

POR MARI MONTEIRO

Este artigo é dedicado a todos os docentes que AINDA se indignam com a situação da educação brasileira; que se RECUSAM A TRANSFORMAR EM LUGAR COMUM um aluno de 9º ano que não escreve espontaneamente e que não lê com fluência. Quero que saibam que, apesar do cenário "desenhado pelo sistema", NENHUM DE NÓS ESTÁ SOZINHO.


Não restam dúvidas de que a profissão docente exige muito da PESSOA HUMANA. Faço questão de frisar: PESSOA HUMANA. Isso porque, não raramente, lemos e estudamos textos (desatualizados, diga-se... ou seja; que relatam a situação e a postura de um docente “estudado/analisado” nas décadas de 70, 80, 90) que dão conta de um profissional cujo perfil não lhe permite "ser humano"; uma pessoa imune às mazelas educacionais e privado da capacidade de indignar-se. De um modo geral, o docente é visto como o grande “carrasco” do fracasso educacional brasileiro. A ele cabe toda culpa e toda responsabilidade pelos péssimos índices da Educação Básica Brasileira.


Confesso estar um tanto (aliás, um tantão) enojada destes discursos. A educação brasileira; a eficiência dos alunos e, consequentemente, a qualidade dos resultados obtidos estão INTIMAMENTE relacionados à falta de precisão e de “coerência” (ouso dizer: BOM SENSO) nas avaliações realizadas. Culpa dos docentes? NÃO! Assim desejo crer. Mas, de um sistema que atrela as notas e rendimentos obtidos pelos alunos a uma PSEUDOEVOLUÇÃO do aluno, por mais ínfima que seja.


Explico melhor: Adoeci. literalmente,  participando de reuniões pedagógicas, cursos de formação etc. em que, após a criação do que (por falta de terminologia adequada) chamo de tabela classificatória: aquela em que o aprendizado do aluno é, literalmente, FATIADO e analisado. Sob esta perspectiva, TUDO, exatamente tudo, é considerado avanço. Nada contra prestar atenção à evolução dos alunos. Sou RADICALMENTE CONTRA a “atitude” de nivelar por baixo o aprendizado; subestimar o aprendizado. Cansei de debater com profissionais que conseguem ler a palavra “ABACAXI” em “AAI”...  Como isso é possível? O infeliz que “ditou” a palavra sabe que ele TEVE A INTENÇÃO DE ESCREVER ABACAXI; mas e se pedem pra alguém que não tem a menor ideia do que foi pedido para escrever? Ah! Só para lembrar: EM XANGAI, 1º COLOCADO NO RANKING DO PISA 2012, O SISTEMA DE ENSINO É TRADICIONAL. (Fonte: http://www.terra.com.br/noticias/educacao/infograficos/sistemas-de-ensino acesso em 11/02/2014).


 Obviamente, não estou defendendo um retrocesso no modo de ensinar; ao contrário, todas as inovações e transformações devem ser levadas em conta no aprendizado. Contudo, não há como continuar “andando em círculos”; fechando os olhos para uma realidade vergonhosa: a educação brasileira, isso sob um ponto de vista muito otimista, NÃO FORMA APENAS INFORMA. O que faz com que grande parte dos indivíduos com certificado do Ensino Fundamental seja considerada ANALFABETOS FUNCIONAIS. Quem de nós, sobretudo no meio escolar, nunca ouviu um colega dizer algo como: “Fulano do 9º ano não sabe ler e, por isso, não interpreta...”. A esses indivíduos restam poucas oportunidades de continuidade de estudos no Ensino Médio e, consequentemente, no Ensino Superior. Daí a evasão escolar e o aumento das desigualdades sociais.


O exemplo mencionado, somado às sequelas da profissão docente, já seriam motivos suficientes para “JUSTIFICAR” o título deste artigo. Ora, um professor, decente (ético e dono de um mínimo de bom senso), só pode ficar doente diante de um quadro educacional que, praticamente, lhe ORDENA: “MINTA”; “FAÇA DE CONTA QUE ESTÁ TUDO BEM; QUE OS ALUNOS TERMINAM O ENSINO FUNDAMENTAL I LENDO E ESCREVENDO FLUENTEMENTE.” “APROVE SEUS ALUNOS E DÊ BOAS NOTÍCIAS AOS PAIS E RESPONSÁVEIS”. Ironicamente, neste caso, a "doença" é um "sintoma" da CURA... E, como a “cereja do bolo”, encontre meios para sobreviver com seu salário mensal. Ou, se não consegue, quem se importa? Para o sistema tanto faz se o professor trabalha em dois ou três empregos. ALIÁS, “DOBRAR PERÍODO” AGORA VIROU UM “CONVITE FORMAL!”.


E as coisas vão piorando. Na etapa seguinte, caso o mesmo aluno coloque um “B” para esta mesma palavra, VIVA! Rojões são soltos e a felicidade fica estabelecida. A ordem é: O ALUNO NÃO É ANALFABETO! VAMOS MUDAR A CLASSIFICAÇÃO DELE E PINTAR A FICHA DELE DE OUTRA COR. Mas, para mim, este aluno CONTINUA NÃO SABENDO ESCREVER!


Isso não exclui minha crença no PROCESSO DE ENSINO. Mas, não me venha fazer aprovar aluno que escreve “AAI” no lugar de “ABACAXI”. Gente, aos OITO ANOS DE IDADE, se o aluno não escreve e nem lê palavras e sentenças simples, ELE NÃO ESTÁ ALFABETIZADO E PRONTO! Estive no Ensino Fundamental I o suficiente para assistir cenas como esta. E, mais, ouvir coisas assim: “olha, como ele melhorou!”; “progrediu muito, vamos aprovar!”. Ora, tenha um pouco de BOM SENSO. Basta fazer um a analogia básica e  responder ao seguinte questionamento: POR QUE UM  ALUNO DE OITO ANOS DE UMA BOA ESCOLA PARTICULAR LÊ E ESCREVE DE FORMA SATISFATÓRIA PARA A IDADE E OS ALUNOS DA ESCOLA PÚBLICA AINDA SÃO “SILÁBICOS COM OU SEM VALOR”? 


E, não me venham com a balela de que se trata de estrutura familiar e social (obviamente, isso pesa e muito; mas não determina). E que, por isso, o aluno da escola privada é “mais favorecido” pelos fatores externos. Independentemente da classe econômica, toda criança que ingressa nas séries iniciais traz consigo milhares de horas de TV; imagens aleatórias registradas em sua memória de acordo com seu meio; relações com familiares e amigos... Ou seja, TODA criança já ouviu incontáveis PALAVRAS e guarda em sua memória incontáveis IMAGENS.

Então, qual a diferença?

O que mais me incomoda é que esta mesma ANÁLISE MEDÍOCRE se estende por todo o Ensino Fundamental. E, pior, norteia o trabalho pedagógico da grande maioria dos docentes (felizmente, conheço professores que se negam, apesar de sofrer REPRESÁLIAS, a nivelar o aprendizado por baixo). O que resulta numa formação debilitada do aluno para servir de base para a continuidade dos estudos no Ensino Fundamental II. Mas, convenhamos, A QUEM INTERESSA QUE OS ALUNOS APRENDAM DE VERDADE? QUE, EM DECORRÊNCIA DE UM ENSINO EFICAZ, ELE SEJA CAPAZ DE ANALISAR E DE ARGUMENTAR CRITICAMENTE?


Esta abordagem, de um modo muito conciso e sem a merecida consideração e aprofundamento, representa MINHA DEFESA EM PROL DO PROFESSOR, cuja culpabilidade ocupa um espaço muito maior do que seus DILEMAS PEDAGÓGICOS. O que passa pelo “sistema” e, quando digo “sistema”, quero dizer TODOS OS FATORES E SETORES QUE FAZEM PARTE DO PROFESSOR. E ele, na sua lida diária, nem sempre TEM ou ESTÁ em condições (físicas ou emocionais) para “bater de frente” com o “sistema” e dizer: “QUERO ALUNOS DE TERCEIRO ANO COM NÍVEL DE APRENDIZADO DE TERCEIRO ANO! PARA REALIZAR UM TRABALHO SATISFATÓRIO, NO QUAL MEU ALUNO APRENDA O QUE LHE É DE DIREITO.”


Enfim, DESAFIO, melhor, convido  a todos os leitores (professores; diretores; pais; alunos e público em geral...) a me CONVENCER, COMO SE EU TIVESSE OITO ANOS DE IDADE, DE QUE O “SISTEMA” ESTÁ CORRETO E QUE, CONSEQUENTEMENTE, A EDUCAÇÃO BRASILEIRA É ÓTIMA; APENAS NÃO É MELHOR POR PURA INCOMPETÊNCIA DOCENTE.

Com afeto (e com pesar),
Mari Monteiro




COMENTE!