Translate

EDUCAR É, ANTES, SENTIR... E TODOS SÃO CAPAZES DISSO.

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

“DOBRAR PERÍODO” NO ESTADO = OPERAÇÃO TAPA BURACOS

por Mari Monteiro
Decreto 59448/13 | Decreto nº 59.448, de 19 de agosto de 2013. VEJA MAIS EM: http://governo-sp.jusbrasil.com.br/legislacao/1035783/decreto-59448-13# (acesso em 21/08/2013)

O mais hediondo disso tudo é que, analisando pelo ponto de vista da Secretaria da Educação, QUERO CRER que o Decreto supracitado tenha surgido de uma FALSA IMPRESSÃO de que tudo nas escolas funciona com excelência. Com tanta excelência, qualidade e comprometimento que, obviamente, o professor terá O IMENSO PRAZER de “dobrar período”. Afinal, ele já terá ministrado cinco aulas no período da manhã; já terá feito seu planejamento semanal para uma turma... Não lhe custará nada fazer tudo em dobro e DE DIFERENTES FORMAS, pois é impossível que existam duas turmas exatamente iguais.  E ainda lhe sobrará tempo suficiente para corrigir CRITERIOSAMENTE e com ZELO todas as atividades realizadas. E mais! Terá condições emocionais equilibradíssimas para não alterar a voz com seu segundo período. Sim. Porque já fiz isso de trabalhar dois períodos e, verdade seja dita: o segundo período é sempre prejudicado em detrimento do anterior. É HIPOCRISIA dizer que rendemos igual. Detalhe: os alunos são outros e merecem a mesma atenção e disposição dispensadas aos alunos da manhã.

Sob o ponto de vista docente, percebo mais um agravante: a maioria dos professores vai se prestar a isso. Por quê? Pelo salário. Lamentavelmente, esta é a resposta. O que me obriga  a concordar que isso ocorre também porque UM SALÁRIO DE PROFESSOR NÃO É SUFICIENTE; sobretudo, para os muitos que são arrimo de família. Diante disso, OUSO afirmar que a maioria não optará pelos dois períodos preocupados se darão conta ou não da QUALIDADE. Quando digo qualidade, refiro-me também, e principalmente, à QUALIDADE DAS RELAÇÕES SOCIAIS estabelecidas na sala de aula.


Sei que, no final das contas, cada profissional optará pelo que quiser. A liberdade de escolha existe para isso. Agora, fazê-lo sem ponderar sobre a qualidade e sobre a própria SAÚDE e sem RESPEITAR os próprios limites, é uma atitude INSANA e CRUEL, consigo mesmo e com os alunos que sentirão o “efeito rebote” advindo do caos. Além disso, que tempo sobrará para a tão cobrada FORMAÇÃO CONTÍNUA? Temos outros anseios: pais; nosso lar;  filhos (as); namorado (a); sono; cansaço; necessidade de lazer e de ócio e fome... A FOME DE SER FELIZ E DE TRABALHAR FELIZ.

Enfim, restam duas alternativas: se autoflagelar e contribuir para “TAPAR OS BURACOS” que há na rede para que a sociedade continue achando que está tudo bem. Ou ACORDAR e, consequentemente, optar por um período e OBRIGAR a CONTRATAÇÃO de mais profissionais (se é que eles existem... pois os cursos de graduação voltados para a área da educação estão às moscas) e, acima de tudo SE VALORIZAR. Bem cabem aqui os versos de Rita Lee e Roberto de Carvalho: “Não quero LUXO, nem LIXO. Quero SAÚDE pra gozar no final.”. Porque o que mais vejo são professores que, ao final de suas carreiras, se encontram num estado de total  esgotamento e frustração,  que já não tem mais “saúde” para gozar do que "colhem" enquanto aposentados. Quanto a mim, não quero ficar só com sequelas. QUERO BOAS LEMBRANÇAS. Quero ter sempre um sorriso no rosto ao receber meus alunos. Quero voltar pra casa, literalmente, INTEIRA PARA MIM E PARA OS MEUS. Prioridades, meu caro, prioridades... 

COMENTE!