POR MARI MONTEIRO
“Tentei não me manifestar SOBRE
ORLANDO. Mas, sou mãe e alguém que possua o mínimo grau de empatia não fica
indiferente a algo assim: o filho se despedindo da mãe (de dentro da boate). Aí
o pai do assassino se desculpa e diz que o "o filho não precisava fazer
isso, porque Deus julgará os gays depois."... Ah!!! PQP!!! Vamos dar
"um reset" , definitivamente, a humanidade não deu certo...” (Post na
minha timeline/ Facebook em 13/06/2016).
Quando escrevo repetidas vezes que
TUDO passa pela EDUCAÇÃO (seja ela formal ou informal e, preferencialmente, as
duas), não estou exagerando. Não vejo espaço nas grades curriculares – ao menos
aqui no Brasil – para atividades e/ ou discussões que incentivem a cultura da
paz; da tolerância; da empatia.
Dirão-me: “Mas existem as Leis, os
PCNs (Parâmetros Curriculares Nacionais), que oferecem ‘espaço e suporte’ para
atividades relacionadas a Temas Transversais.” Si. Existem. Mas, na prática,
NUNCA VI NINGUÉM FAZER USO DELES. É como um vestido lindo e caro que compramos
e deixamos no cabide, de enfeite, para colorir o guarda – roupa.
Sem me limitar apenas a discussões acerca da intolerância homofóbica ou religiosa, quero abranger todas as formas de intolerância; pó que chamarei de
INTOLERÂNCIA AO DIFERENTE, seja este “diferente” no que for: cor; raça; etnia;
credo; gênero... Isso é muito complexo? Pode ser. Então, comecemos pensando
raso: os intolerantes a um determinado gênero musical por exemplo. O que há de
errado nisso? O que nos impede de CONHECER e de RESPEITAR as pessoas que são e
que não gostam dos mesmos gêneros musicais que nós? Não gosto de funk; mas,
tolero. O que não significa que vou CONSUMIR as músicas e frequentar bailes funk e que, muito menos, vou entrar num baile com uma arma potente e atirar em
dezenas de pessoas, porque não gostam do mesmo estilo musical que eu, porque
não se comportam como eu acho que deveriam.
É exatamente isso que ESCOLAS e
FAMÍLIAS devem ensinar desde cedo: compreender os diferentes e respeitá-los.
NÃO HÁ TOLERÂNCIA SEM COMPREENSÃO. E, quando digo, “desde cedo”, quero dizer,
desde o nascimento até a morte. O que é difícil para nós adultos. Alguns de nós
crescemos sem a mínima tolerância (por parte dos adultos em geral: professores;
parentes etc) com nossos hábito e jeito de ser. E, uma vez que eu, adulta,
estou escrevendo este artigo, me ocorre que isso é uma prova de que a
TOLERÂNCIA É APRENDIDA. Eu, assim como muitos outros da minha geração, aprendi a
ser tolerante, justamente a partir da intolerância dos outros.
Nesse aprendizado, os “porquês’ são essenciais; porém, até com as perguntas não há mais paciência, não há tolerância. Diante de um questionamento, a maioria de nós se esquiva ou responde que não sabe. Por exemplo, o que você responderia hoje para um aluno de sete anos que lhe perguntasse algo como: “Por que mataram aquele monte de gente lá nos Estados Unidos?” Já posso ouvir dizerem; “Ah, mas uma criança de sete anos jamais perguntaria isso?” É exatamente aí que está o problema. O correto seria perguntar. Vivemos na Era Digital; as crianças são perspicazes. A questão é o “direcionamento’ dado em casa; o que assiste; o que vê na internet; quais são as brincadeiras etc. Pois há lares em que as crianças são proibidas de ver os noticiários porque traumatizam; mas, podem brincar com games violentos; ver novelas... “Malhação” e afins.
Enfim, seria saudável se as crianças
perguntassem e – mais saudável
ainda se os professores respondessem com
base nos FATOS – isso em todas a s séries do ensino e iniciassem discussões a
respeito. Porém, ao contrário, tanto a escola como a família, “fogem” do
enfrentamento, da discussão (por preguiça, despreparo, sei lá...). Fato é
que, isso contribui indiretamente para a
manutenção do ódio. Estaria eu sendo por demais áspera? Creio que não. E mais.
Acredito que não há ninguém, neste momento, em uma sala de aula (independente
de série) promovendo um debate sobre este assunto. Tudo “se restringe” a
desabafos e a protestos nas Redes
Sociais, o que – convenhamos – já é alguma coisa. Mas não o suficiente para
EDUCAR PARA A TOLERÂNCIA.