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“Na hora que começa a briga, o professor
não intervém?” (REPÓRTER)
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“Somente após alguns minutos”.
(ALUNO)
Por Mari Monteiro
Engraçado, a pergunta deveria ter sido:
“E as autoridades educacionais não
intervém?”. Mas, agora, já é de praxe. A culpa é sempre do professor. Não
podemos esquecer que caso o professor tocasse nas alunas, as mesmas poderiam
alegar alguma forma de assédio e até agressão. E, desde quando estudamos “técnicas de MMA nos cursos normal Superior
ou nas Faculdades relacionadas à educação”?
A sala de aula há muito tempo, deixou
de ser local de respeito mútuo e de aprendizado. Na maioria dos casos, o
professor exerce múltiplos papéis e as aulas propriamente ditas ficam reduzidas
a 20 ou 30 minutos, devido às intervenções feitas: conversas solicitando
silêncio, temáticas envolvendo ética educação (aquela educação que já caberia
ao aluno trazê-la de casa, imbuída em seu comportamento...).
Contudo, cada vez que nós, professores,
fazemos tais intervenções (apagando fogueira), assumimos uma responsabilidade
que NÃO É NOSSA. Deste modo, fica bem fácil para
o governo e para a mídia (porque eu deveria poupá-la?) de colocar
a culpa no PROFESSOR, que também não passa, em
casos como este, de uma vítima da situação e que, por inúmeros motivos sente-se
“desarmado” e impotente para resolver situações de violência como esta.
Não são raros os casos em que os
professores (isso já aconteceu comigo ao
tentar separar uma briga no recreio) saem feridos. E quem lhes dá
assistência (médica ou psicológica) ou sequer razão? Não sei vocês, amigos, mas
quando vejo notícias como estas, sinto-me DESAMPARADA.
É como se os papéis tivessem sido invertidos totalmente. O professor não é mais
a autoridade (no sentido da RESPEITABILIDADE)
máxima na sala; portanto, para que prestar atenção às suas aulas, por que não
proferir palavrões em sua presença e por que não “sair na porrada”?
Por outro lado, percebo que os alunos
também estão desamparados, SEM REFERÊNCIAS.
Refiro-me às referências relacionadas aos valores à moral. Tudo em suas vidas é
muito instantâneo, imediato e efêmero. A inconsequência reina, pois eles não
possuem o hábito (assim como muitos adultos) de ponderar sobre as consequências
de seus atos.
Portanto, senhores repórteres e mídia
em geral e; sobretudo às AUTORIDADES EDUCACIONAIS
COMPETENTES (competentes?)
que, antes de perguntar se os professores não intervêm, procurem conhecer
melhor NOSSA REALIDADE e nossos limites enquanto
educadores. Somos educadores e, nosso currículo, não inclui artes marciais,
jiu-jitsu e outras modalidades. Quando conseguimos desenvolver uma boa aula na
qual somos ouvidos e conseguimos estabelecer um diálogo com nossos alunos já
nos damos por SATISFEITOS. E, da próxima vez,
não entrevistem um aluno, entrevistem um professor.