POR MARI MONTEIRO
Sobre o título, cabe uma breve definição do termo “touch screen”:
refere-se ao toque em um determinado tipo de tela. Ela sensível ao toque é um
display eletrônico visual que pode detectar a presença e localização de um
toque dentro da área de exibição, por meio de pressão. O termo refere-se
geralmente ao toque no visor do dispositivo com o dedo ou a mão, que também
podem reconhecer objetos, como uma caneta. Telas sensíveis ao toque estão se
tornando cada vez mais comuns. “(In. http://www.tecmundo.com.br/multitouch/177-o-que-e-touch-screen-.htm
acesso em 22/07/2014).
Muito raramente faço
refeições na praça de alimentação de algum shopping. Aquele burburinho, misturado
com música que não dá pra identificar qual é. Não dá pra ouvir direito quem
está com você e nem falar baixo. Enfim, é algo que não me agrada.
Porém, hoje foi um
daqueles dias sem escolha. Aproximadamente um ano depois, lá estava
eu sentada com minha refeição. Tenho o hábito de comer muito devagar, o que faz com que eu tenha
tempo para observar muita coisa. E, como não pude deixar de notar o comportamento das pessoas. Fiz o que denominei de "lista de atitudes". Não é uma lista positiva. A
propósito, talvez possa adjetivá-la de depressiva.
A problemática maior é a
INTENSIDADE DAS MINHAS PERCEPÇÕES NESTE MOMENTO. Grande parte disso eu atribuo
ao fato de estar na metade da leitura da obra: “A SOCIEDADE DO ESPETÁCULO”, de
Mario Vargas Llosa, escritor peruano, que ganhou o Prêmio Nobel de Literatura em 2010. A leitura desta obra fez com que eu mudasse meu olhar para o que Llosa chama de "Sociedade do espetáculo", cenário que envolve o fascínio pelo IMEDIATISMO e pelas IMAGENS em detrimento a toda forma de cultura que envolva um pouco mais de "empenho" e de paciência.
Não é novidade que estamos
nos isolando socialmente no mundo real. Faz tempo que isso acontece. E a
internet não é a única vilã. TEMOS ESCOLHAS. Talvez nos falte discernimento na
maioria dos casos... E não é questão de idade. Tem muito marmanjo que,
encantado com a tecnologia, já passou mais tempo com seu celular do que com a
namorada; muita esposa que já tocou “N” vezes mais a tela touch de seu aparelho
do que o corpo de seu esposo... E não? Essa observação é a primeira citada
simplesmente porque é GRITANTE! Casais, cada qual com os olhos pregados nas
suas telas. Crianças PEQUENAS (bem
pequenas) pedindo a atenção da mãe ou do pai que está muito mais interessado
(a) na conversa ao celular. Pessoas sozinhas, que comem com uma mão e com a
outra visualiza seus feeds e, na hora de usar a faca, ainda continuam olhando
para a tela.
Segunda observação: Como
as pessoas comem rápido! Mas não é um rápido comum, é RÁPIDO DEMAIS! E não é
para ficar abraçadinho um ao outro (quando se trata de casais) ou para conversar entre si
(quando estão em grupo), é para trocar whats; posts; atualizar feeds etc...
Terceira observação: Fisionomias
fechadas. Algumas já "deformadas" pelo costume. Verdadeiras "carrancas do São Francisco" (me perdoem as carrancas). Rubem Alves (cuja partida me entristeceu muito), certa vez,
escreveu que gosta de observar rostos. Faço mais ou menos isso quando saio sozinha. Até um tempo atrás, eu corria o risco de alguém pensar que estaria flertando;
mas, agora, para que alguém deixe de olhar os celulares e olhe pra você, é
preciso chamar a pessoa pelo nome ou xingá-la sem motivos. Logo,
não corro este risco.
Outro comportamento que
seria cômico se não fosse trágico, é o da pessoa que usa o fone do celular e
que, paradoxalmente, fala mais alto do que quando usa o aparelho. Quando vejo isso, não posso evitar o pensamento
de que se trata de uma pessoa ENSANDECIDA andando a pé e falando sozinha.
Percebeu como eu demoro para fazer uma refeição? Deu tempo de fazer todas estas observações e pensar sobre cada uma
delas ao ponto de “memorizá-las” para dividir com vocês. Confesso que não foi
agradável, mas era o melhor que eu tinha a fazer. Entre checar minhas
notificações, preferi olhar para as pessoas, analisá-las no que deveria ser um
“habitat” favorável a conversas, a olhares mais demorados entre namorados,
familiares...
Confesso que fiquei mexida
com isso. Como afirmei no começo do artigo, o isolamento social no mundo real
não é nenhuma surpresa. Há quem passe muito mais tempo no mundo virtual. Mas,
depois deste meu “trabalho de campo” (permaneci ali por uns quarenta minutos),
estou estarrecida. NÃO HÁ MAIS DIÁLOGO. As
pessoas não se tocam mais. AFETIVIDADE ZERO. Não sei você, mas quanto a mim, já faz um
tempo que considero um LUXO e uma PROVA DE APREÇO pela minha pessoa, quando vou
falar com alguém e a pessoa coloca o celular “no mudo” ou o deixa “de canto”.
Certamente, faço o mesmo. É o mínimo que alguém que ainda tem ao menos um dos pés no
mundo real deve fazer.
Enfim, de um modo geral, o
que conclui é que a maioria das pessoas possui um aparelho touch screen; os toques são CONTÍNUOS e, ao mesmo tempo, SUAVES.
Isso até soaria romântico se eu não estivesse falando de um aparelho de
celular. Um aparelho que, como qualquer outro recurso, não chorará por mim; não
vivenciará minhas emoções; não acariciará em meu lugar... Mas, imagine sair sem
ele, nem pensar. Ficar sem bateria? Passar 24 horas off? Isso é inconcebível. Nesse quesito, chego a INVEJAR OS ANIMAIS, que nunca deixarão de SE TOCAR, seja por instinto de sobrevivência ou por puro gosto pelo toque mesmo; experimente afagar um gato ou um cão... Acredito que uma POSSIBILIDADE ANIMADORA é a EDUCAÇÃO PARA O USO DAS TECNOLOGIAS EM GERAL (assunto sobre o qual escreverei em breve). Não quero ser fatalista; porém, chegará
o dia em que o isolamento social será UM MEIO DE VIDA para a maioria;
simplesmente porque, sem perceber, o ser humano falará cada vez menos; seu
vocabulário se limitará e, em alguns casos, até reduzirá; suas mãos já não
tocarão mais a outra pessoa, pois faltará iniciativa e quem sabe até mesmo
vontade. Afinal, a tela touch screen,
sensível ao toque, ironicamente, NÃO RETRIBUI, NÃO TOCA EM MIM...
OBS. Nas próximas semanas, meus alunos do Ensino Médio postarão suas CONTRIBUIÇÕES sobre o tema abordado através de textos opinativos; artigos de opinião e editoriais. Será um imenso prazer saber como eles percebem este comportamento social...