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EDUCAR É, ANTES, SENTIR... E TODOS SÃO CAPAZES DISSO.

sexta-feira, 10 de abril de 2015

UM OLHAR SOBRE A OBRA: “O AMOR LÍQUIDO”, de ZYGMUNT BAUMAN (LIQUID LOVE)

POR MARI MONTEIRO
 
“O sociólogo polonês Zygmunt Bauman é um dos intelectuais mais respeitados da atualidade. Aos 87 anos, seus livros venderam mais de 200 mil cópias. Um resultado e tanto para um teórico. Entre eles, “Amor liquido” é talvez o livro mais popular de Bauman no Brasil. É neste livro que o autor expõe sua análise de maneira mais simples e próxima do cotidiano, analisando as relações amorosas e algumas particularidades da “modernidade líquida”. Vivemos tempos líquidos, nada é feito para durar, tampouco sólido. Os relacionamentos escorrem das nossas mãos por entre os dedos feito água.”
© obvious: http://lounge.obviousmag.org/de_dentro_da_cartola/2013/11/zygmunt-bauman-vivemos-tempos-liquidos-nada-e-para-durar.html#ixzz3WYCwtrDu



Sempre digo que me faltam duas coisas; dinheiro para comprar todos os livros que tenho vontade e TEMPO para lê-los (e reler também). No caso deste livro, ganhei de presente de uma aluna (era uma das minhas opções de amigo secreto).




 









Mais que caminhar e “se atualizar”, Zigmunty Bauman “SE FLEXIBILIZOU” o suficiente para entender o presente e as tendências relacionadas à modernidade e à evolução tecnológica. Graças a essa compreensão e visão apuradas dos fatos, Bauman nos oferece uma oportunidade de contemplar e de analisar as RELAÇÕES HUMANAS NA CONTEMPORANEIDADE. Confesso que, depois da leitura, o que mais “ficou” foi uma espécie de sinal de alerta sobre a fragilidade das relações interpessoais.


Não foi uma leitura simples e nem rápida. Pelo contrário, estudei a obra. Daí tantas anotações no livro.
 


O autor, com suas análises irrefutáveis, me fez pensar o quanto caminhamos incessantemente para o ISOLAMENTO e para o DISTANCIAMENTO
Vivemos num tempo em que tudo está se tornando DESCARTÁVEL; inclusive, as relações afetivas o que, particularmente, considero muito triste. Bauman, afirma que vivemos num tempo onde se busca a “SATISFAÇÃO INSTANTÂNEA. Temos pressa para tudo. E, contraditoriamente, temos pressa para encontrar o amor e, quando encontramos, geralmente, não somos “hábeis” e sensíveis o bastante para mantê-lo vivo, para que o desejo não seja passageiro.


“(...) Semear, cultivar e alimentar o desejo leva tempo (um tempo insuportavelmente prolongado para os padrões de uma cultura que tem pavor em postergar, preferindo a ‘SATISFAÇÃO INSTANTÂNEA). O desejo PRECISA DE TEMPO para germinar, crescer e amadurecer. Numa época em que o ‘longo prazo’ é cada vez mais curto, ainda assim a velocidade de maturação do desejo resiste de modo obstinado à aceleração. O tempo necessário para o investimento no cultivo do desejo para dar ‘lucros’ parece cada vez mais longo – irritante e insustentavelmente longo.” (Bauman, 2004:26). 


Ouço e presencio também sobre a rapidez e sobre a relativa facilidade com que se desfazem os relacionamentos atualmente. Não se tenta mais. É o tempo do “AMOR ATÉ SEGUNDO AVISO”, como diz Bauman. “A fila anda” é o clichê mais ouvido por aqueles que saem de um relacionamento.  Tenho pra mim que isso acontece de forma cada vez mais corriqueira, porque os relacionamentos já começam de forma SUPERFICIAL. A quem interessa aprofundar e solidificar as relações; estreitar laços (sem virar nó, como diria Mario Quintana)? Não há mais diálogo e, muito menos reciprocidade. Tudo paira sobre a relação, mas quase nada é aprofundado; tudo é dito com o menor número de palavras possível e de modo rápido (ninguém tem tempo a perder); nada é conversado, pensado... Sentido. Falta persistência, compreensão e sensibilidade e, pior, FALTA EXPRESSAR TUDO ISSO.


Perniciosamente, estamos nos acomodando; acostumando-nos com a ACEITAÇÃO PASSIVA; COM O DESCARTE DE SENTIMENTOS; COM A VIDA QUE PASSA RÁPIDO DEMAIS; COM O SILÊNCIO (nosso e dos outros) que ocupa o lugar das conversas que ratificam nossa condição de humanos; com o “TCHAU” e com o próximo “OI”... Muitos relacionamentos: RÁPIDOS; FÚTEIS e SUPERFICIAIS. 


“(...) À deriva, a frágil balsa do relacionamento oscila entre as duas rochas nas quais muitas parcerias esbarram: a submissão e o poder absolutos, a aceitação humilde e a conquista arrogante, destruindo a própria autonomia e sufocando o parceiro. Chocar-se contra uma dessas rochas afundaria até mesmo uma boa embarcação com tripulação qualificada – o que dizer de uma balsa com um marinheiro inexperiente que, criado na era dos acessórios, nunca teve a oportunidade de FAZER REPAROS? Nenhum marinheiro atualizado perderia tempo consertando uma peça sem condições para a navegação, preferindo trocá-la por outra sobressalente. Mas, na balsa do relacionamento não há peças sobressalentes.” (Op. Cit. 31)
 Ao mesmo tempo em que prezo o diálogo, a profundidade dos relacionamentos e os sentimentos honestos, defendo a FLEXIBILIDADE; a nossa capacidade (diria essencial, quase uma questão de sobrevivência) de adaptar-se às mudanças sem; contudo, perder a essência e os valores. Tarefa nada fácil já que tais mudanças incluem a “pressa”; a correria; o tempo curto; a substituição de quase tudo... Em vez do “reparo”, que caracterizam este “mundo fluido”, conforme afirmação de Bauman.
 


Outro aspecto muito interessante da obra é a crescente perda da habilidade de manter RELAÇÕES HONESTAS E SAUDÁVEIS. Percebam.  Melhor, façam os testes. As pessoas evitam a troca de olhares. Olhares demorados então? Nem pensar! É mais ou menos como se olhar nos olhos irritasse as pessoas ao ponto de elas acharem que estão, por exemplo, sendo encaradas. Menciono isso, não somente porque isso muito me interessa: GOSTO DE OLHAR NOS OLHOS; mas porque é uma questão que vem se agravando com o avanço tecnológico.  As “coisas” nas telas dos mais diversos aparelhos aparecem e somem muito rapidamente. Então nossos olhos não “DESCANSAM” mais. É uma pena, porque a exemplo de Chico Buarque também “acho uma delícia quando você esquece seus olhos em cima dos meus.” Tudo é efêmero!
 


“O advento da proximidade virtual torna as conexões humanas simultaneamente mais frequentes e mais banais, mais INTENSAS e mais BREVES. As conexões tendem a ser demasiadamente breves e banais para poderem condenar-se em laços. Centradas no negócio à mão, estão protegidas da possibilidade de extrapolar e engajar os parceiros além do tempo e do tópico da mensagem digitada e lida – ao contrário daquilo que os relacionamentos humanos, notoriamente difusos e vorazes, são conhecidos por perpetrar. Os contatos exigem menos esforço e menos tempo para serem estabelecidos e também para serem rompidos. A distância não é obstáculo para se entrar em contato – mas, entrar em contato não é obstáculo para se permanecer à parte. Os espasmos da proximidade virtual terminam, idealmente, sem sombras nem sedimentos permanentes. Ela pode ser encerrada, real e metaforicamente, sem nada mais que o apertar de um botão.” (Op. Cit.: 82). 






Precisamos ser cada vez mais corajosos para amar e, mais ainda, para ASSUMIR e para DEMONSTRAR amor. Caso contrário, este nobre sentimento não passará de um líquido que escorre por entre os dedos.  Para tanto, há muitas coisas para se fazer e um longo caminho para percorrer (e percorrer até que a busca pelo equilíbrio se torne um hábito): harmonizar máquinas e homens; não se deixar hipnotizar pelas tentações das telas ao ponto de mergulhar no isolamento; evitar o distanciamento que nos conduz ao isolamento e cultivar a sensibilidade que nos HUMANIZA. Enfim, viver e conviver na (e com a) modernidade, mantendo nossas essências e estabelecendo RELAÇÕES HUMANAS REAIS, permeadas por um amor real... E sólido o bastante para sobreviver ( e viver COM PRAZER) numa sociedade cada vez mais fluida; superficial; descartável e fútil.



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