POR MARI MONTEIRO
![]() |
"Mulher lendo" - Iman Leke |
Costumo dizer aos meus alunos que, quando preparo uma atividade avaliativa, cujos conteúdos independem da
memorização de conteúdos, eles sempre terão boas surpresas. É o caso desta atividade. Faço isso como PROVOCAÇÃO para que possam
exercitar o ato de pensar. De um modo geral, isso resulta em perguntas como: “Cadê
a resposta?”; “Mas Mari, isso não está no texto.” Quando estas perguntas
começam a pipocar na classe, sei que alcancei meus objetivos. Isso porque se não
está no texto, não existe. Não se tem o HÁBITO DE PENSAR; não se desenvolve no
aluno a capacidade de “ler” a INTENCIONALIDADE DO AUTOR. Então, já não conseguimos mais responder com
nossos “pensamentos e argumentos”. Só sabemos escrever aquilo que outros autores
já escreveram; a partir daquilo que já
foi pensado.
Diante disso, sempre elaboro, além das questões de “praxe”, questões
que exijam que eles pensem sobre o ato de
ler. Neste caso, trata-se da última questão da prova. Fiz com eles mais ou
menos o que Rubem Alves e seus colegas fizeram com os candidatos ao doutorado.
Eu lhes pedi: “ESCREVA-ME SOBRE AQUILO QUE VOCÊ GOSTARIA DE ESCREVER.”
Não me lembro de um avaliação tão longa. Sobretudo, no que se refere à elaboração da resposta da referida questão. Eles se queixavam que foram sido pegos de surpresa; que tinha muita coisa da qual eles gostam, mas que não sabiam como começar... A maioria dos alunos levou cerca de três aulas para concluir a prova. Isso não me importa muito. Afinal, eles estão sendo DESAFIADOS. Isso não pé fácil. Além disso, tenho plena consciência do quanto é difícil CORRIGIR e MENSURAR respostas discursivas. Contudo, de que outra forma saberei se estão dando conta de registrar SEUS pensamentos?
Não me lembro de um avaliação tão longa. Sobretudo, no que se refere à elaboração da resposta da referida questão. Eles se queixavam que foram sido pegos de surpresa; que tinha muita coisa da qual eles gostam, mas que não sabiam como começar... A maioria dos alunos levou cerca de três aulas para concluir a prova. Isso não me importa muito. Afinal, eles estão sendo DESAFIADOS. Isso não pé fácil. Além disso, tenho plena consciência do quanto é difícil CORRIGIR e MENSURAR respostas discursivas. Contudo, de que outra forma saberei se estão dando conta de registrar SEUS pensamentos?
Porém, ao analisar as respostas, tive uma GRATA SURPRESA. Não
apenas no que se refere à última questão; mas a outras tantas. OS ALUNOS FORAM MARAVILHOSOS! Logo, não há
registros apenas das respostas da última questão, mas também de outros tantos
comentários PERTINENTES e INTELIGENTES.
Outra observação a ser feita é que a mesma atividade foi aplicada
nas séries do Ensino Médio. Contudo, na
atribuição das menções, levei em conta a MATURIDADE e o DISCERNIMENTO dos
alunos e de suas respectivas faixas etárias/série. Tive outra grata surpresa:
ESTE CRITÉRIO NÃO PODE SER UMA REGRA!
Assim, seguem o OBJETIVO e o texto base da prova. Em
seguida, e gradativamente, as postagens dos próprios alunos.
OBJETIVO: Constatar o aprendizado acerca do emprego da
gramática normativa nas interpretações e nas INFERÊNCIAS TEXTUAIS; bem como o
emprego desta na elaboração de respostas que satisfaçam a série em questão,
demonstrando o nível de maturidade de cada aluno e/ou série.
Sobre os perigos da leitura (Por
Rubem Alves)
Nos tempos em que eu era professor da UNICAMP fui designado
presidente da comissão encarregada da seleção dos candidatos ao doutoramento, o
que é um sofrimento. Dizer “esse entra”, “esse não entra” é uma
responsabilidade dolorida da qual não se sai sem sentimentos de culpa. Como, em
vinte minutos de conversa, decidir sobre a vida de uma pessoa amedrontada? Mas
não havia alternativas. Essa era a regra. Os candidatos amontoavam-se no
corredor recordando o que haviam lido da imensa lista de livros cuja
leitura era exigida. Aí tive uma ideia que julguei brilhante.
Combinei com os meus colegas que faríamos a todos os
candidatos uma única pergunta, a mesma pergunta. Assim, quando o candidato
entrava trêmulo e se esforçando por parecer confiante, eu lhe fazia a pergunta,
a mais deliciosa de todas: “Fale-nos sobre aquilo que você gostaria de falar!”
Pois é claro! Não nos interessávamos por aquilo que ele havia memorizado dos
livros. MUITOS IDIOTAS TEM BOA MEMÓRIA.
Interessávamos por aquilo que ele pensava.
Poderia falar sobre o que quisesse desde que fosse aquilo
sobre que gostaria de falar. Procurávamos as idéias que corriam no seu
sangue! Mas a reação dos candidatos não foi a esperada. Foi o oposto.
Pânico. Foi como se esse campo, aquilo sobre que eles gostariam de falar, lhes
fosse totalmente desconhecido, um vazio imenso. Papaguear os pensamentos dos
outros, tudo bem. Para isso eles haviam sido treinados durante toda a sua
carreira escolar, a partir da infância. Mas falar sobre os próprios pensamentos
– ah! Isso não lhes tinha sido ensinado. Na verdade nunca lhes havia passado
pela cabeça que alguém pudesse se interessar por aquilo que estavam pensando.
Nunca lhes havia passado pela cabeça que os seus pensamentos pudessem ser
importantes. Uma candidata teve um surto e começou a papaguear compulsivamente
a teoria de um autor marxista. Acho que ela pensou que aquela pergunta não era
para valer.
Não era possível que estivéssemos falando a sério.
Deveria ser uma dessas “pegadinhas” sádicas cujo objetivo é confundir o
candidato. Por via das dúvidas ela optou pelo caminho tradicional e tratou de
demonstrar que ela havia lido a bibliografia. Aí eu a interrompi e lhe disse: “Eu
já li esse livro. Eu sei o que está escrito nele. E você está repetindo
direitinho. Mas nós não queremos ouvir o que já sabemos. Queremos ouvir o que
não sabemos. Queremos que você nos conte o que você está pensando, os
pensamentos que a ocupam…” Ela não conseguiu. O excesso de leitura a havia
feito esquecer e desaprender a arte de pensar.
Parece que esse processo de destruição do pensamento
individual é uma conseqüência natural das nossas práticas educativas. Quanto
mais se é obrigado a ler, menos se pensa. Schopenhauer tomou consciência disso
e o disse de maneira muito simples em alguns textos sobre livros e leitura. O
que se toma por óbvio e evidente é que o pensamento está diretamente ligado ao
número de livros lidos. Tanto assim que se criaram técnicas de leitura dinâmica
que permitem que se leia “Grande Sertão – Veredas” em pouco mais de três horas.
Ler dinamicamente, como se sabe, é essencial para se
preparar para o vestibular e para fazer os clássicos “fichamentos” exigidos
pelos professores. Schopenhauer pensa o contrário: “É por isso que, no que se
refere a nossas leituras, a arte de não ler é sumamente importante.” Isso
contraria tudo o que se tem como verdadeiro e é preciso seguir o seu
pensamento. Diz ele: “Quando lemos outra pessoa pensa por nós: só repetimos o
seu processo mental.”
Quanto a isso, não há dúvidas: se pensamos os nossos
pensamentos enquanto lemos, na verdade não lemos. Nossa atenção não está no
texto. Ele continua: “Durante a leitura nossa cabeça é apenas o campo de
batalha de pensamentos alheios. Quando esses, finalmente, se retiram o que resta?
Perde-se, paulatinamente, a capacidade de pensar por conta própria… Este, no
entanto, é o caso de muitos eruditos: leram até ficar estúpidos. Porque a
leitura contínua, retomada a todo instante, paralisa o espírito ainda mais que
um trabalho manual contínuo…”
Nietzsche pensava o mesmo e chegou a afirmar que, nos seus
dias, os eruditos só faziam uma coisa: passar as páginas dos livros. E, com
isso, haviam perdido a capacidade de pensar por si mesmos (…).E, no entanto, eu
me daria por feliz se as nossas escolas ensinassem uma única coisa: O PRAZER DE
LER! (Fonte: http://rubemalves.wordpress.com
– acesso em 03/03/2014)