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EDUCAR É, ANTES, SENTIR... E TODOS SÃO CAPAZES DISSO.

quarta-feira, 24 de abril de 2013

(IN) SATISFAÇÃO DOCENTE

Por Mari Monteiro

Vivemos um paradoxo. Por um lado, a maioria de nós (quero crer) gosta do que faz e, portanto, está SATISFEITA. Por outro, somos mal remunerados, trabalhamos em mais de um emprego por dia, enfrentamos a pressão constante do “sistema” para aprovar alunos que mal sabem ler e escrever - trabalhamos com classes superlotadas e mais uma série de fatos que ESTAMOS CANSADOS DE SABER.


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Inegavelmente, esta é uma situação perturbadora para um profissional que, minimamente, precisa de tranquilidade e de equilíbrio para exercer suas funções. Estamos na contramão das empresas do Primeiro Mundo, que se preocupam com o bem estar físico e mental de seus funcionários, tais empresas costumam investir em “descansos” remunerados e intercalados em horário de trabalho, ginástica laboral e até em massagens expressas ao longo do período (conheço alguns bancos aqui em São Paulo que já fazem isso).

Durante o período em que estamos com os alunos ocorrem as mais diversas situações. O que é normal (e até encantador a meu ver – não há monotonia!); porém, lidar com tantas situações e dificuldades adversas causa um desgaste que, gradativamente, mina nossa resistência, nossa satisfação e nosso prazer em ensinar. Há alguns anos, observando os colegas de profissão num apalestra, percebi que quase todos tinham uma fisionomia muito parecida: a testa tensa e franzida, lábios “duros” e inclinados para baixo (denotando uma expressão triste) e olhos opacos. Neste dia, fiz um pacto com uma amiga (até hoje falamos sobre isso e reparamos uma na outra). Prometemos que quando começássemos a perceber estes sinais de INSATISFAÇÃO uma na outra, no sentido de nos tornarmos carrancudas e amargas, imediatamente, comunicaríamos o fato.

Diante disso; ou seja, dos problemas e das consequências advindas da insatisfação docente, costumo optar por uma decisão muito particular e radical: ou trabalho feliz ou me afasto. O que não pode acontecer é descontar nos colegas de trabalho, na equipe gestora e muito menos nos alunos, as nossas frustrações profissionais (e PESSOAIS; sim, porque PROFESSOR TEM VIDA PESSOAL!). E isso ocorre com muita frequência. Não vou mentir. Sempre senti um certo “desprezo” (raiva até) pelos docentes que berram (o que  é diferente daqueles cujo tom de voz é naturalmente alto) com seus alunos. AS PALAVRAS PESAM de acordo com os sentimentos contidos nas falas. Então, o problema não é exatamente o tom de voz, que é peculiar de cada professor, mas a carga emocional que é somada à palavra. E, neste caso, um berro ou um cochicho ameaçador ao pé do ouvido podem machucar  na mesma proporção.

Neste instante me vêm à mente os versos de Cecília Meireles, interpretados por Fagner na música “canteiros”:



“(...) E eu ainda sou bem moço pra tanta tristeza.
E deixemos de coisa, cuidemos da vida,
Pois se não chega a morte ou coisa parecida
E nos arrasta moço sem ter visto a vida. (...)”








Isso nos remete à constatação de que docentes insatisfeitos envelhecem muito mais rapidamente. Observem. SOMOS MUITO JOVENS, como diz o verso de Cecilia Meireles, pra tanta tristeza. E, o convite pra cuidar da vida, não quer dizer: “vamos deixar de lecionar” e sim “VAMOS LECIONAR COM A DIGNIDADE QUE MERECEMOS!”; no sentido de ter VIDA PRÓPRIA. Sei bem a diferença entre lecionar para 10-12 alunos e lecionar para 35-40. A qualidade de ensino e de vida é outra. Merecemos atuar com satisfação. Não reivindicar isso é o mesmo que se AUTO VILIPENDIAR. E a primeira vítima será o aluno e, depois, nós mesmo, geralmente de forma tardia, quando já estamos nos privando de uma série de atitudes que nos tornam melhores (passeios em família, namoro, cinema, boas leituras etc.). A propósito, já repararam na quantidade de docentes que estão “sozinhos” (divorciados, solteiros)... Isso me ocorreu porque pessoas insatisfeitas, via de regra, são MUITO CHATAS.

Enfim, a satisfação é essencial. A alegria é essencial. O desejo é essencial. NOSSA VIDA É ESSENCIAL. Estar com quem amamos é essencial. Fazer o que amamos (no caso lecionar) é essencial. E isso tudo não pode “se perder” sob uma pilha de provas pra corrigir no final de semana; numa dor de cabeça que senti durante o trabalho e, que piorou ao chegar em casa; nos gritos que não se ouvia até bem pouco tempo atrás... Então, reivindiquemos salário, jornada menor, menor número de alunos por sala; mas, sobretudo, MAIS QUALIDADE DE VIDA PARA O DOCENTE, esta espécie em extinção.

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