Por Mari Monteiro
Vivemos
um paradoxo. Por um lado, a maioria de nós (quero crer) gosta do que faz e,
portanto, está SATISFEITA. Por outro, somos mal
remunerados, trabalhamos em mais de um emprego por dia, enfrentamos a pressão
constante do “sistema” para aprovar alunos que mal sabem ler e escrever - trabalhamos
com classes superlotadas e mais uma série de fatos que ESTAMOS
CANSADOS DE SABER.
........
Inegavelmente, esta é uma
situação perturbadora para um profissional que, minimamente, precisa de
tranquilidade e de equilíbrio para exercer suas funções. Estamos na contramão
das empresas do Primeiro Mundo, que se preocupam com o bem estar físico e mental
de seus funcionários, tais empresas costumam investir em “descansos”
remunerados e intercalados em horário de trabalho, ginástica laboral e até em
massagens expressas ao longo do período (conheço alguns bancos aqui em São
Paulo que já fazem isso).
Durante o período em que
estamos com os alunos ocorrem as mais diversas situações. O que é normal (e até
encantador a meu ver – não há monotonia!); porém, lidar com tantas situações e
dificuldades adversas causa um desgaste que, gradativamente, mina nossa resistência,
nossa satisfação e nosso prazer em ensinar. Há alguns anos, observando os
colegas de profissão num apalestra, percebi que quase todos tinham uma
fisionomia muito parecida: a testa tensa e franzida, lábios “duros” e
inclinados para baixo (denotando uma expressão triste) e olhos opacos. Neste
dia, fiz um pacto com uma amiga (até hoje falamos sobre isso e reparamos uma na
outra). Prometemos que quando começássemos a perceber estes sinais de INSATISFAÇÃO uma na outra, no sentido de nos tornarmos
carrancudas e amargas, imediatamente, comunicaríamos o fato.
Diante disso; ou seja, dos
problemas e das consequências advindas da insatisfação docente, costumo optar
por uma decisão muito particular e radical: ou trabalho feliz ou me afasto. O
que não pode acontecer é descontar nos colegas de trabalho, na equipe gestora e
muito menos nos alunos, as nossas frustrações profissionais (e PESSOAIS; sim,
porque PROFESSOR TEM VIDA PESSOAL!). E isso
ocorre com muita frequência. Não vou mentir. Sempre senti um certo “desprezo”
(raiva até) pelos docentes que berram (o que
é diferente daqueles cujo tom de voz é naturalmente alto) com seus
alunos. AS PALAVRAS PESAM de acordo com os
sentimentos contidos nas falas. Então, o problema não é exatamente o tom de
voz, que é peculiar de cada professor, mas a carga emocional que é somada à
palavra. E, neste caso, um berro ou um cochicho ameaçador ao pé do ouvido podem
machucar na mesma proporção.
Neste
instante me vêm à mente os versos de Cecília Meireles, interpretados por Fagner
na música “canteiros”:
“(...) E eu ainda sou bem moço pra
tanta tristeza.
E deixemos de coisa, cuidemos da
vida,
Pois se não chega a morte ou coisa
parecida
E nos arrasta moço sem ter visto a
vida. (...)”
Isso nos remete à constatação
de que docentes insatisfeitos envelhecem muito mais rapidamente. Observem. SOMOS MUITO JOVENS, como diz o verso de Cecilia
Meireles, pra tanta tristeza. E, o convite pra cuidar da vida, não quer dizer:
“vamos deixar de lecionar” e sim “VAMOS LECIONAR COM A
DIGNIDADE QUE MERECEMOS!”; no sentido de ter VIDA
PRÓPRIA. Sei bem a diferença entre lecionar para 10-12 alunos e lecionar
para 35-40. A qualidade de ensino e de vida é outra. Merecemos atuar com
satisfação. Não reivindicar isso é o mesmo que se AUTO
VILIPENDIAR. E a primeira vítima será o aluno e, depois, nós mesmo, geralmente
de forma tardia, quando já estamos nos privando de uma série de atitudes que
nos tornam melhores (passeios em família,
namoro, cinema, boas leituras etc.). A propósito, já repararam na
quantidade de docentes que estão “sozinhos” (divorciados, solteiros)... Isso me ocorreu porque pessoas
insatisfeitas, via de regra, são MUITO CHATAS.
Enfim, a satisfação é
essencial. A alegria é essencial. O desejo é essencial. NOSSA VIDA É ESSENCIAL. Estar com quem amamos é essencial. Fazer o
que amamos (no caso lecionar) é
essencial. E isso tudo não pode “se perder” sob uma pilha de provas pra
corrigir no final de semana; numa dor de cabeça que senti durante o trabalho e,
que piorou ao chegar em casa; nos gritos que não se ouvia até bem pouco tempo
atrás... Então, reivindiquemos salário, jornada menor, menor número de alunos
por sala; mas, sobretudo, MAIS QUALIDADE DE VIDA PARA O
DOCENTE, esta espécie em extinção.
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