POR MARI MONTEIRO
O título deste artigo até parece um
daqueles anúncios de tarô e afins colados nos postes da cidade. Não é o caso. A
pergunta é LITERAL e VISCERAL. Tenho um amigo muito querido, de longa data,
cujo nome é Mailson e trabalhamos muito tempo juntos. Outro dia nos
reencontramos rapidamente (depois de mais ou menos uns três anos); tempo
suficiente para relembrarmos algumas passagens bem “punks” das nossas vidas.
Ele me disse algo interessante. “Mari, sempre que ouço alguém reclamando de
banalidades; mas banalidades mesmo: ‘Eu quero uma calça de 500 reais e só posso
comprar no mês que vem! ’; ‘Putz! Não irei ao próximo show internacional! ’; ‘MINHA
MÃE PEGA MUITO NO MEU PÉ! ’ e por aí vai... A vontade que tenho é dizer: ‘Vem
cá amigo, então você tem um problema? Vou te contar uma história. ’ E dizer
daquilo que ocorre de mais forte em nós, que nos ARRASTA e nos deixa à deriva,
sem bote salva-vidas E SEM MÃE PRA PEGAR NO PÉ...”.
Problemas? Os problemas têm um jeito
próprio de machucar e de abater a cada pessoa. O fato é que todos têm (em maior
ou menos grau). A questão é que alguns deles nos colocam DIANTE DE UM ESPELHO
para o qual não queremos olhar e dizem: “E agora?”. Aí, nos olhamos, com certo
desconforto, e devolvemos a pergunta: “E AGORA?”. E lá está você, o espelho e
sua fé. Porque, acredite, nestes momentos, o espelho não reflete mais ninguém.
Apenas você. Seus amigos estão longe, seu pai e seus irmãos também. E SUA MÃE NÃO
ESTÁ LÁ PARA PEGAR NO SEU PÉ.
Agora, como diz meu amigo Mailson, vem cá
que vou te contar uma história. Era uma vez um menino de oito anos chamado
Felipe, está no segundo ano, não sabe ler, nem escrever e já viu muita coisa
ruim nesta vida. Tive o prazer de conhecê-lo este ano. Era para ter sido uma
simples aula de leitura... Mas, que leitura?
(...) Estávamos no meio de um momento de leitura.
Quando eu, sem saber da história, sugeri ao Felipe que estudasse mais em casa,
que pedisse ajuda à sua mamãe. Infeliz momento.
FELIPE: Num
dá. Só estou com meu pai.
- Por quê?
FELIPE: Porque minha mãe bebeu soda.
(Imediatamente me lembrei de ter ouvido dizer que a
mãe de um aluno da escola havia ingerido soda cáustica).
- Por que ela bebeu soda?
FELIPE: Porque ela queria morrer.
- E por que ela queria morrer?
FELIPE: Pra ir pro céu (sic).
- Onde ela está agora?
FELIPE: No Magine (ele quis dizer Nardine – um
hospital público da região)
- Como ela está?
FELIPE: Ela está bem magrinha (e mostrou com os
dedinhos...).
- Você acha que ela iria para o céu se morresse?
FELIPE: Acho “móde (sic) que” ela tava ino
(sic) na igreja e depois não ia mais e o
diabo estava dentro dela. E tem uns que vai pra baixo... Pra treva. No dia que
ela bebeu soda, ela disse que eu só ia ter mãe naquele dia.
- Você quer ficar pra sua mãe ou com seu pai?
FELIPE: Quero ficar com minha mãe, mas num vô (sic)
podê (sic) só porque móde(sic) ela bebeu soda.
- E agora?
FELIPE: Ela vai pra Goiânia quando sai do hospital,
móde (sic) que meu irmão tá (sic) lá.
- Por que ele foi embora?
FELIPE: Foi com minha vó(sic). Quando eu ficar
grande eu vou também pra Goiânia móde (sic) que quero ficar com minha mãe.
- Você promete vir conversar comigo todo dia?
Promete?
FELIPE: se minha prô (sic) deixar, eu venho.
(...)
Alguns dias depois, para minha surpresa, apareceu um
rostinho na porta e se escondeu. Chamei: “Felipe?” Mal terminei de falar e ele
pulou nos meus braços e me abraçou com força. E A MÃE DE FELIPE NÃO ESTAVA MAIS POR
PERTO PARA LHE OFERECER COLO . Ela
havia partido três dias depois do nosso
encontro.
Penso que existem problemas que são grandes
demais para pessoas pequenas demais; não falo apenas sobre os dramas infantis
semelhantes ao de Felipe; falo de mim; falo de você; de nós que, quando
fragilizados, tomamos a forma e o tamanho de um bebê indefeso. Pedimos colo. E
NEM SEMPRE NOSSA MÃE ESTARÁ ALI PARA NOS OFERECER COLO. E quando você e eu acharmos que temos um
problema, olhemos para os lados, ouçamos outras histórias... NÃO PARA NOS
CONFORMARMOS (aquela coisa irritante de ouvir sobre zona de conforto, o clichê:
“tem gente passando coisa pior!”); mas para dizer NÃO! NÃO PODE SER PARA ISSO
QUE ESTAMOS AQUI. A vida não deve ser assim. Mesmo porque, segundo um poeta:
“reza a lenda que a gente nasce é para ser feliz!” ENTÃO QUAL É O PROBLEMA? O
problema é o percurso. É nele que nos perdemos e nem sempre nos reencontramos;
mas sempre há de ter algo de bom em cada dia vivido; porém, sem OLHOS ATENTOS e
CORAÇÕES HUMILDES, não veremos estes momentos. Vamos atropelá-los e, à noite,
nos deitaremos apenas com as amarguras.
SOLUÇÕES? Quem dera as tivesse. Mas, sou
abusada. Do contrário não estaria aqui pra contar a história. Tenho sensações,
INTUIÇÕES e a principal é a de que devemos aprender a fazer o contrário:
superestimar os risos e a presença discreta de qualquer traço de esperança, as
palavras ditas com doçura e os olhares. Ah! Os olhares! Estes são inesquecíveis;
aqueles que se demoram e que mergulham em outro olhar, dizendo muito apenas com
o silêncio e com suas cores; os abraços... Que, tomara, um deles seja o da
NOSSA MÃE QUE AINDA ESTARÁ POR PERTO... E, se não mais estiver fisicamente,
como a mãe do Felipe, que aconteça o que desejei a ele: que possamos nos
lembrar de SEU OLHAR, sentir seu CHEIRO DE MÃE e seu colo que cura todas as
dores deste mundo. Mas, enquanto ela estiver por perto, não passe um só dia sem
dizer que a ama; abrace-a sempre que possível... Sem pressa, deixe que seus
corações se encontrem. Converse olhando nos olhos dela. Decore sua íris...
Memorize seu cheiro... Valorize sua presença. Porque quando, finalmente,
restarem apenas lembranças, seus sentidos vão cobrar todas estas sensações e
você as terá guardadas no lugar mais sagrado que existe: NA SUA ALMA!
Mari, seu texto é inspirador!!!!!Pois é a realidade, quem de nós nunca se maldisse da sorte por um ou outro problema, quem de nós não se desesperou por uma "unha quebrada" enquanto pessoas sofrem dramas reais, morte, doença....a humanidade é desumana, o sol nasce pra todos só não sabe quem não quer......
ResponderExcluirMuitíssimo Obrigada Monica Jacomassi. São leitores com a sua sensibilidade e perspicácia que inspiram a minha escrita!!!
ResponderExcluirApareça sempre!
Bjus
Mari Monteiro
Ahhh como sempre me agregando de conhecimentos e aprendizados, e compartilhando emoções as quais adoroooo sentir...!!! Obrigada Mari!!!!!
ResponderExcluirSempre construindo....=]
Bjosssssssssssss
Camila, mimo...
ResponderExcluirChorei de emoção... Quanta generosidade e sensibilidade de sua parte!
Sou eu que agradeço a você SEMPRE!!! O mundo precisa muito de pessoas como vc!!!
Muitíssimo obrigada!
Bjus de Luz!