Por Mari Monteiro
Não me refiro às obrigações diárias (curriculares) e relevantes. Falo das BUROCRACIAS que "inventamos" para nós mesmos. Por exemplo, constatei que PILHAS DE ATIVIDADES em folhinhas xerocadas NÃO LEVAM MUITO LONGE; pois, se assim fosse, tudo estaria resolvido: não existiria um aluno com defasagem de aprendizado. Porque - nem precisa de cálculo - basta olhar para saber que a quantidade de folhas coladas nos cadernos, em pastas, soltas... ou perdidas não equivale aquilo que o aluno sabe (ou deveria saber). O QUE ESTE PROCEDIMENTO GEROU? Mais trabalho para o professor: planejamento; elaboração; xerox; correções (quando são feitas a contento)...
E as PROVAS? Quantas provas! Há a prova propriamente dita (para provar o que? Não sei!). Os alunos demonstram ou não seus saberes todos os dias em suas ações, suas falas, em suas produções nos cadernos e livros. Há as provas "adjacentes", aquelas que chamamos de ATIVIDADES. Não bastasse tudo isso, há ainda a PROVA DE RECUPERAÇÃO. Aí está um instrumento de avaliação ABOMINÁVEL. Explico. Primeiro, porque se é preciso usá-lo, é porque algo deu errado no percurso (durante o bimestre TODO, TUDO deu errado?); segundo, o aluno não faz as atividades anteriores com a devida RESPONSABILIDADE, porque sabe que terá uma segunda chance; terceiro, porque É MAIS UM TRABALHO GERADO POR NÓS MESMOS e quarto, porque NÃO ACREDITO NOS RESULTADOS DA RECUPERAÇÃO, porque se fossem sempre melhores que os anteriores (porque é esse o objetivo) por que o aluno não sabia antes? E, o MAIS PERNICIOSO dos aspectos é que se instala, assim, A CULTURA DA RECUPERAÇÃO.
O aluno deve perceber que TUDO É IRRECUPERÁVEL; sobretudo, o tempo que perdemos (alunos, professores...). Mas, ao contrário, ele passa a pensar que durante toda sua vida de estudante será assim: segunda chance sempre. E transfere isso para todos os aspectos de sua vida: "Posso deixar rolar, pôr tudo a perder, depois eu recupero, porque sempre terei uma segunda chance".
Enfim, não se trata somente de gerar ou não mais trabalho para nós mesmos, trata-se de não contribuir, em absolutamente nada, para o crescimento intelectual e pessoal do aluno, sempre que damos a ele inúmeras oportunidades de "recuperar". Desta maneira, ele não encara a RESPONSABILIDADE e o COMPROMETIMENTO como algo que deve fazer parte da sua vida, do seu comportamento, do seu caráter; mas como algo que, esporadicamente, retira do bolso e usa somente quando é necessário ou quando alguém lhe diz: "chegou a hora de recuperar, pegue aí 200 gramas de responsabilidade e mais 300 gramas de comprometimento e você estará aprovado na escola." E na vida? Como fica a vida? E a reputação e o valor do professor? CADÊ? QUANDO VAMOS RECUPERAR? QUEM NOS DARÁ UMA SEGUNDA CHANCE?
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