POR MARI MONTEIRO
E se lhe pedissem para traçar seu próprio perfil como aluno?
Que tipo de aluno você foi ou ainda é? Numa conversa descontraída e bem
humorada Rubem Alves e Gilberto Dimenstein abordam suas peripécias,
curiosidades e desejos durante o período escolar. A obra “Fomos maus alunos”,
escrita na forma de diálogo, incita-nos a relembrar muitos momentos da nossa
vida escolar. O que é muito interessante; sobretudo para pais e educadores,
pois nos mostra o quanto as posturas mudam de geração para geração.
Outra reflexão pertinente, trazida pela obra, é sobre a
ESTAGNAÇÃO da escola (física e pedagogicamente). A maioria dos professores de
hoje ainda espera que seus alunos se comportem como ele se comportou e, pior,
que REAJA aos mesmos “ESTÍMULOS” que lhe foram oferecidos. Doce ilusão. Trágica
constatação!
No decorrer da obra, os pensadores conversão sobre os mais variados
temas; inclusive, elaborando reflexões bem profundas a respeito de suas
próprias escolas, como demonstram os trechos a seguir sobre experiência de
confluência:
Dimenstein - Por que você virou educador?
Alves - Tenho a seguinte teoria (eu disse só a teoria, pois
não tenho provas para isso): todos nós nascemos com determinados saberes. A
aranha nasce sabendo fazer teia, o caramujo nasce sabendo fazer a concha. Meu
conterrâneo de Boa Esperança, Nelson Freire, é um pianista absolutamente
fantástico. Por que ele ficou um pianista fantástico? Não foi porque foi
ensinado, não foi porque estudou muito. Porque eu estudei muito mais do que ele
e nunca aprendi a tocar piano. É porque tinha algo dentro dele. Aliás, você que
é judeu. Tem um dos salmos, terrível, que diz assim: Inútil te será levantar de
madrugada e trabalhar o dia todo porque Deus, àqueles a quem ele ama ele dá enquanto
dormem. Eu acho que nasci educador. De repente, descobri que é uma delícia
comunicar ideias. Primeiro tem o projeto de gestação. Porque você tem de ter
uma ideia para comunicar, aquela coisa que pega, dá paixão, e que para mim é um
jeito de fazer amor com o outro. Isso tem a ver também com a sua tradição.
Porque lá na Bíblia, quando diz que o marido transou com a mulher, como é que
diz? Ele conheceu a sua mulher,
que é um ato essencialmente prazeroso. Acho que o ato de educar é
essencialmente sexual e prazeroso.
Dimenstein - É interessante, porque conhecer, do latim, vem de nascer com.
Alves - Eu não sabia!
Dimenstein - Só se conhece, de fato, alguma coisa quando nascemos
com ela. Só entendemos a poesia quando nos emocionamos na descoberta de suas metáforas.
Alves - Às vezes, as pessoas me perguntam: Quem foi que influenciou você? Eu digo: Ninguém. Não tenho
memória de alguém que tenha me influenciado. Influenciar é uma coisa que vem de
fora para dentro. Eu tenho a experiência de confluência. Confluência é quando
você bate com uma pessoa. Sabe quando você tem duas taças de cristal? Você bate
as taças e as duas, então, reverberam. Há pessoas que bateram em mim e eu
descobri coisas dentro de mim que ninguém me ensinou,
mas eu descobri que as coisas estavam dentro de mim. Então, para mim, o
educador tem muito a ver com isso. Você vai lá provocar, não para ensinar
alguma coisa à pessoa. Isso é a teoria socrática da educação. Sócrates dizia
que todos nós estamos grávidos de beleza, e que a tarefa do educador, como na
história de A Bela Adormecida,
é dar o beijo, o beijo para despertar uma inteligência que estava adormecida. (...)”
(Op. cit.)
Gilberto Dimenstein e Rubem Alves |
Sempre admirei muito Rubem Alves. Há aqueles que o acusam de “autor de autoajuda para professores”. Não concordo. Mas, ainda que o fosse QUEM DISSE QUE, NÓS, OS PROFESSORES NÃO NECESSITAMO DE AJUDA? Pois, eu sempre precisei. E, confesso, sempre que o desânimo me alcança (e CANSA!), meus percorrem minhas estantes à procura das palavras de Rubem Alves. Há trechos, textos, versos, poemas, crônicas e causos para toda ocasião. Ou então, o que é mais eficiente ainda, eu vejo um DVD dele que veio num de seus livros. E COMO O SEU FALAR PAUSADO ME ACALMA...
O efeito sobre mim deve ser maior, porque já tive o prazer de ouvi-lo ao vivo. Num espaço para aproximadamente 1000 pessoas (completamente lotado), restou-me sentar na última fileira. Pensei: “não ouvirei nada." Para minha surpresa, quando Rubem começou a falar, com seu sotaque macio, era possível ouvir até sua RESPIRAÇÃO. Que encantamento. Saí de lá embevecida e pensando sobre a relação que ele faz entre o PÔR DO SOL e a MORTE. A morte de cada dia; por isso: CARPE DIEM!
Nesta tarde, após a palestra, ao invés de ir para a faculdade, procurei um lugar na cidade de onde pudesse ver o sol se por completamente. O aspecto urbano do local não maculou meu encanto. Vi um por de sol como nunca havia visto. E, desta tarde em diante, aprendi que morremos um pouco a cada dia/ que a vida é UMA CONTAGEM REGRESSIVA e que, portanto, devo viver cada momento com intensidade e com vontade... sem desperdícios. Algum tempo depois tatuei: " TEMPUS FUGIT. CARPE DIEM"...
Nenhum comentário:
Postar um comentário