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EDUCAR É, ANTES, SENTIR... E TODOS SÃO CAPAZES DISSO.

quarta-feira, 26 de março de 2014

MUSILHANDO: RELATO DE EXPERIÊNCIA SOBRE MÚSICA E INTERPRETAÇÃO

POR MARI MONTEIRO

Truman Capote (1924-1984): escritor norte americano que escreveu seu primeiro conto aos dez anos de idade; aos onze, começou a escrever durante três horas continuamente.

“Para que o aluno elabore boas respostas, as questões devem ser provocadoras.” (Mari Monteiro).


Para obter uma participação significativa dos alunos e respostas bem elaboradas, é preciso fazer boas perguntas; é preciso contar com um bom “conteúdo” e/ou recurso. Há tempos uso LETRAS DE MÚSICA para ensinar e para aprender. E como aprendo! Meu principal objetivo é, através de determinadas letras, PROVOCAR o aluno; chamá-lo para a “briga”, no sentido de fazer com que ele argumente e exponha seus sentimentos e seus pontos de vista.

Neste caso específico, o contexto se refere à análise e audição de três letras de músicas da banda Legião Urbana, previamente selecionadas de acordo com o suposto nível de maturidade de cada turma. Considerando que as composições de Renato Russo são atemporais, outro critério de seleção foi o grau de intensidade de cada letra. Diante disso, as letras trabalhadas foram: “TEMPO PERDIDO” (1º EM); “TEATRO DOS VAMPIROS” (2º EM) e “METAL CONTRA AS NUVENS” (3º EM).

Impressionante como cada turma apresentou diferentes reações às músicas e às questões propostas. No 1º ano do Ensino Médio, por exemplo, os alunos quiseram manusear a capa do CD para ver os títulos das demais músicas. Pediram para ouvir faixas que alguns já conheciam e acabaram ouvindo parcialmente todas as músicas do CD. Particularmente, considerei este momento um aprova do quanto a GERAÇÃO DIGITAL está carente de boas composições.

No 2º ano do Ensino Médio, a maioria dos alunos demonstrou uma grande preocupação com o ENTENDIMENTO DOS ENUNCIADOS; provavelmente porque tivemos apenas uma aula e; por isso, pedi que concluíssem em casa.

No 3º ano do Ensino Médio, os alunos quiseram ouvir os dois CDs inteiros e – como perceberam que não daria tempo – resolveram “pular” alguns trechos. O interesse demonstrado foi gratificante. A maioria dos alunos quis conversar mais profundamente sobre determinadas questões.


Mas nada. ABSOLUTAMENTE NADA, se compara ao fato mais marcante deste dia. Um dos meus alunos do Ensino Médio (obviamente, preservarei sua identidade) me parou no corredor e disse: “Professora, posso te dar um abraço?”. Foi um abraço fraternal. A princípio, não associei o abraço às atividades com música. Foi quando a pessoa me disse que era incrível como eu conseguia (ATRAVÉS DA MÚSICA) “tirar” as coisas de dentro dela. Nesse momento, houve choro. Um choro de alívio. E abraço, agora em forma de gratidão, é parte das coisas MAIS SIGNIFICATIVAS que já aconteceram na minha carreira. Fiquei feliz por mim, atingi meu objetivo. E, mais feliz ainda, pela pessoa que, tenho certeza, se “LIBERTOU” de algumas amarras invisíveis que a prendiam.

Enfim, diante do significado desta atividade PARA MIM E PARA OS ALUNOS (como eles me ensinam e me mantém “antenada”... Ouso dizer que, se dermos as costas para o que nossos alunos têm a dizer NOS TORNAREMOS JURÁSSICOS NA VELOCIDADE DA LUZ rsrs), seguem algumas considerações registradas por eles acerca das letras interpretadas. Ah!!! E, nos dias que se seguiram, pude ler várias postagens no Face, feitas pelos alunos, alusivas a trechos das letras trabalhadas na sala de aula... ISSO É BOM DEMAIS! Rsrsrsrs



► PRIMEIRO ANO DO ENSINO MÉDIO: “TEMPO PERDIDO” - QUESTÃO DESENVOLVIDA: De acordo com sua VIVÊNCIA, o que significa perder tempo?

- “Perder tempo, para mim, é quando você não aproveita a vida como deve ser aproveitada. E nunca se arrependa dos seus atos!” (João Leonardo)

- “Não fazer o que você deseja não se expressar, não falar, não se defender na hora necessária e, principalmente, não fazer o que deveria ser feito na hora certa.” (Mariana Alves)

- “Perder tempo é não fazer o que tem que fazer como eu que perdi um ano da escola e agora vejo o que perdi.” (Thiago Laureano)

- “Perder tempo significa que o que podemos fazer hoje, não podemos deixar para amanhã; porque amanhã é outro dia e não sabemos o que pode acontecer. Perder tempo para quê? Temos tão pouco tempo.” (Milena Caetano)



- “Eu acredito que é não fazer nada, não dedicar seu tempo a alguma coisa ou, por exemplo, perder seu tempo discutindo com alguém que não valha a pena”. (Nathalia Ramos)

- “Perder tempo significa deixar para depois, deixar de falar as coisas que estou pensando a respeito de outra pessoa. Sendo bom ou ruim, é preciso falar na hora certa”. (Victor vallim)

- “Perder tempo com algo sem importância, sem valor que não vai te acrescentar em nada. Perder tempo também pode ser não fazer nada: tempo vazio; tempo perdido. Mas sempre é tempo de mudar.” (Rafaela Cruz)

- “Perder tempo é fazer algo contra vontade, mal feito, algo desnecessário ou deixar de fazer algo e cair no arrependimento, perdendo um tempo que não volta atrás.” (Vitória Oliveira)

- “É fazer algo que não gosto de fazer e faço ou ficar parado.” (Alexandre Placido)

- “Perder tempo significa que deixei de fazer alguma coisa e até mesmo deixar de falar alguma coisa que deveria ter sido dita.” (Wellington Vieira)

- “É fazer alguma coisa que não usarei no meu futuro. Exemplo: você faz quatro anos de faculdade; mas aí você percebe que não era aquilo que você queria.” (Lucas de Góis)

- “É estar com vontade de fazer algo e não fazer por receio de alguma coisa. Não somos imortais. Então, vamos viver sem perder tempo, antes que a vida termine.” (Larissa Silva)

- “Para mim, perder tempo é ficar fazendo coisas inúteis, como passar a tarde inteira no computador ou fazer coisas que não gosto e não vão acrescentar em nada no meu futuro.” (Johnny Ayslan)

- “É lavar a louça e não ir secando e guardando; pedir pra pessoa ajudar e ela ficar enrolando... E você continua pedindo.” (Letícia Andrade)





► SEGUNDO ANO DO ENSINO MÉDIO: “TEATRO DOS VAMPIROS” - QUESTÃO DESENVOLVIDA: Releia a sétima estrofe e elabore um comentário crítico sobre o último verso: “(...) Voltamos a viver / Como a dez anos atrás / E a cada hora que passa envelhecemos dez semanas. (...)” :


“A cada dia que passa as pessoas valorizam o ‘TER’. Querem sempre algo inovador, por exemplo, comprar um celular bom. Depois de dois anos, é preciso ter um bem melhor. Por isso, estamos “envelhecendo dez semanas”, as coisas se tornam ultrapassadas rápido demais. Nunca temos o suficiente.” (Giovanna Cristina de Oliveira)

“Apesar das dificuldades, ele espera que um dia possa se encontrar e viver com quem ama... Não importando o tempo que leve para isso e o tanto que envelheça de tanto sofrer.” (Marcos Vinicius)

“O último verso trata das coisas que envelhecem rápido demais, que são ultrapassadas com frequência. O mundo está avançando tão rápido que ‘a cada hora que passa as coisas vão envelhecendo’, e as pessoas também.” (Henrique Morroni)

“Com esse verso, o autor quis dizer que temos que aproveitar a vida, amar, respeitar, conviver em harmonia, pois a vida acaba muito rapidamente, em um piscar de olhos.” (Guilherme Martins)

“O tempo está passando cada vez mais rápido e nós não estamos fazendo quase nada. O tempo é precioso em nossas vidas e o autor tinha esperança que reencontraria seu amor. Enfim, eles teriam uma vida de paz e de tranquilidade... Seriam felizes para sempre.” (Higor Augustus)


“Quando ele diz: ‘ E a cada hora que passa envelhecemos dez semanas’, ele quer dizer que o tempo não para; que quando percebemos, já passou muito mais tempo do que pensávamos. Ele está correto; afinal, a gente acaba fazendo a maioria das coisas sem perceber.” (Agatha Fernandes)

“Ele quis dizer que o nosso tempo é curto demais e, quando percebemos, já não estamos mais aqui.” (Jéssica Henriques)

“Estamos retrocedendo no tempo, pois nós não estamos dando oportunidades para novas ideias e, assim, ficamos presos ao passado.” (Fernando Silveira)

“O tempo passa e nada muda. Uma dessas questões é a evolução, onde todos querem tudo feito, o mais rápido possível, e acabam empacando na evolução daquilo que realmente interessa.” (Fabio Constantino)

“De acordo com o verso, o autor sofreu tanto em determinado tempo que parece que passou muito tempo; quando na verdade, passou ‘pouco’ tempo.” (Yasmim Cavalieri)

“O autor quis dizer que a cada hora que passa ele sofre mais; nunca está contente com o que faz porque sente um grande ‘vazio’.” (Gabriel Mantelato)

“As pessoas vem envelhecendo cada vez mais rápido, como ele diz, devido às horas ruins que passamos o que deixa certo desgaste, fazendo parecer que mais do que uma hora de tão longo que é o sofrimento... Uma hora parece com semanas.” (Marcelo Tadeu)

“A cada hora que passa, ele sofre mais. Ele se desgasta a ponto de parecer que se passaram dez semanas. O fato de sofrermos nos destrói rapidamente e em demasiado.” (Laísa Nascimento)

“O último verso afirma que o tempo passa rápido demais e; por isso, envelhecemos muito mais... A cada ano, tudo muda muito rápido e algumas coisas não fazem mais sentido.” (Beatriz Morroni)

“Por ele não ter motivos de alegria, acaba sentindo como se estivesse envelhecendo rápido demais. É como se nada na vida dele mudasse em dez anos.” (Mylena A. Cordeiro)

“Antigamente, as coisas eram mais simples. As pessoas conseguiam se divertir mais e não existiam tantos crimes com hoje em dia. Concordo com o pensamento do autor no último verso, pois quando nos divertimos, temos a sensação de que o tempo passa mais rápido. Porém, precisamos estar sempre alertas, com medo... Enfim, ainda é possível aproveitar a vida hoje em dia, mas com muito mais cuidado e atenção.” (Nicolas Magalhães)



►TERCEIRO  ANO DO ENSINO MÉDIO: “Metal contra as nuvens” - QUESTÃO DESENVOLVIDA: Relacione os versos: “E há quem se alimente do que é roubo? Mas vou guardar o meu tesouro / caso você esteja mentindo” Com o sentimento e com a necessidade de proteção:

“O autor afirma que as pessoas deixam seus ‘tesouros’ à mostra e as outras pessoas roubam. No caso, o eu lírico protege o seu para não ser enganado e roubado.” (Vitor Teló)

“Não é possível deixar livre o que se tem para ser ‘roubado’, enganado e acabar perdendo uma parte de si mesmo e se decepcionar.” (Eliel M.)

“A necessidade de proteção refere ao fato de que a gente vive de mentiras; coisas falsas e, por isso, devemos guardar nossos ‘tesouros’ (creio que nosso coração, nosso amor...). Todos nós precisamos de proteção, não no sentido de estarmos seguros; mas, sim, de proteção da nossa alma contra coisas ruins, pensamentos negativos. Precisamos de algo ou de alguém que nos proteja desse tipo de coisa.” (Victor Marques)
“Ele sente a necessidade de proteger o amor que sente por alguém, deixando esse amor guardado caso a pessoa amada esteja mentindo ou não tenha um sentimento recíproco por ele. Entendo que ele prefere proteger este sentimento para não se machucar emocionalmente.” (Júlia Toledo)

“O eu lírico quer relatar que existem aqueles que exploram o seu semelhante através de comportamentos falsos, aproveitando-se da carência sentimental do outro. Então, ele vai se cuidar para não ser enganado sentimentalmente por alguém.” (Thalita França)

“Há pessoas que vivem se alimentando da dor, dos sentimentos e dos segredos dos outros e esse é o tesouro de cada um. E esses “ladrões” são como as pessoas que enganam, mentem magoam e é verdade que o eu – lírico quer esconder seu tesouro, guardando somente para si o que sente.” (Valéria)



“Ao ler esses versos, compreendi que há pessoas que se alimentam de coisas ruins e vivem para praticar o mal para o próximo. Por este motivo, o eu – lírico quer preservar seu tesouro (que é seu coração), dessas pessoas que mentem e que iludem.” (Bianca Rosário)

“Quando chegamos nestes versos, depende muito da interpretação e da condição emocional de cada um. Em minha opinião, a pessoa poderia mentir para ele e ele quase acreditar. Dois versos depois, ele fala; ‘E por honra, se existe verdade / Existem os tolos e existe o ladrão’, é quando eu entendo que ele se refere a certa quantidade de pessoas, possivelmente uma crítica à política e à sociedade em geral. Nos dois últimos versos, ele volta  a falar da pessoa que ele pode estar amando; nessa parte ele menciona um tesouro que ele vai deixar guardado. Creio que não são bens materiais; mas, sentimentos. Porque, no  começo e no fim da música, ele se refere a sentimentos por alguém e, caso a pessoa estivesse mentindo, ela nunca mais saberias de seus sentimentos, pois ele os deixaria guardados.” (Caio Ferreira)

“Nem sempre confiamos na pessoa certa, que pode se alimentar de nossa confiança em seu próprio benefício. Então, ele guarda sua esperança de modo que o faça se sentir mais seguro, dando mais ênfase para a possibilidade de mentiras. Um bom exemplo são os políticos que atuam como ‘ladrões’ com o objetivo de roubar e de se alimentar da confiança dos outros, geralmente para suprir as próprias ‘necessidades’. Mas, mesmo assim, eles nos passam uma lição de vida: não devemos confiar em todos.” (Leonardo Rinaldi)

“O eu – lírico tem consciência de que há muitas pessoas não confiáveis e também aqueles que sobrevivem de tudo o que é roubo; por isso, ele procura proteger seus tesouros a ferro e fogo. O eu lírico sabe que, em muitos momentos da vida, não se pode confiar em ninguém. Afinal, há muitas pessoas que se aproximam dos outros por interesse e com ‘objetivos negativos’.” (Maria Luiza Menezes)

“Collor, presidente da época, com seu rosto e palavras simpáticos, fez com que todos acreditassem que ele seria ‘O’ Presidente. Mas ficou provado que não era bem assim. Quando todos deram por conta e viram que ‘QUASE’ acreditaram que o rosto e as palavras poderiam mudar algo... e não lhes tomar o que era de direito. Eis então a parte em que ele dá a resposta: ‘Existem os tolos / E existe o ladrão’. Os tolos votam e o ladrão rouba o que é de todos, se alimenta e vive do que é roubo. E, como há os que não confiam nesse ladrão disfarçado de ‘boa índole’, guardam seus tesouros próprios, caso ele (o político) esteja mentindo mais uma vez.” (Vinícius Moreira)

“O eu – lírico diz que essas pessoas são aquelas que se alimentam das suas dores e das dores do outro. E que sofre em nome dos seus segredos e pela proteção deles. Entendo que se trata de alguém ‘machucado’ e que não quer se machucar mais.” (Simone)

“Quando ele diz que as pessoas se alimentam de roubo e que ele vai guardar o tesouro dele, está se referindo aos sentimentos para com as pessoas. Pois as pessoas, muitas vezes, se aproveitam da nobreza das outras e da boa vontade para tirar proveito de algo. Hoje em dia, isso é tão comum... O difícil mesmo é  encontrar alguém que nos ame de verdade, mão apenas pelo que  agente tem, mas pelo que  agente é. Sabemos que o ser humano é falho, mas uma coisa que não podemos ter são falhas em nosso caráter. A pior coisa que alguém pode ter é seu caráter corrompido, é como se um aparte da alma da pessoa se apagasse.  Quando o autor diz: ‘caso você esteja mentindo’, mão o culpo por isso., pois esta foi uma forma que encontrou para se proteger desse mundo tão impuro e com pessoas tão más de coração e de alma.” (Leticia Barbosa)






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