POR MARI MONTEIRO
O diálogo a que me refiro no título é o diálogo em forma de
conversa, no sentido mais simples de sua concepção que, de acordo com o
dicionário Priberam de Língua Portuguesa, significa: conversa entre duas ou
mais pessoas. Logo, vamos conversar sobre a morte da conversa. Redundante? Sim.
Irreal? Não.
Pensemos. Estamos vivendo numa Era em que a informação e
nunca foi tão acessível. Sabemos de tudo ou de quase tudo na hora em que temos
CURIOSIDADE, desde como fazer um drink até a leitura de uma tese se doutorado.
Mas, passado este momento, esquecemos ou nos entretemos imediatamente com outra
coisa, que também está à disposição na rede. Isso não é ruim. O ruim é que
sabemos superficialmente de milhões de coisas que não nos servirão para nada se não forem
internalizadas. E, certamente, não daríamos conta (e nem precisamos disso!) de
internalizar o que não é CONVERSADO e, conseqüentemente, não é entendido.
Então, estou dizendo que para compreender determinado
assunto, é necessário conversar sobre o mesmo? Sim! Do contrário, ele é apenas
uma informação. E o que nos tornamos quando acessamos informações? MEROS
REPRODUTORES DO QUE JÁ FOI DITO POR OUTRA PESSOA. E, nesse hábito de nos
informar cada vez mais e conversar cada vez menos, perdemos nossa capacidade de
argumentar, de entender, de ser capaz de enxergar a partir de diferentes pontos
de vista... O que já é uma das tantas implicações da morte do diálogo.
Ao invés de usarmos
todas as ferramentas tecnológicas disponíveis, incluindo as Redes Sociais, para
nos tornarmos mais pensantes e articulados, nós fazemos o contrário: sintetizamos
cada vez mais nossa comunicação; reduzimos nosso vocabulário (escrito ou
falado), repetimos idéias alheias (o que é diferente de compartilhar... isso é
bom!) como sendo nossas, e reproduzimos isso em nossa casa, no trabalho e em
nossos relacionamentos afetivos. ESTAMOS NOS TORNANDO SERES MONOSSILÁBICOS!
Estou culpando a tecnologia por isso? ABSOLUTAMENTE NÃO! Antes eram os periódicos, depois a TV e assim por diante... Ao
contrário, entendo a tecnologia uma facilitadora para a ampliação do diálogo.
Pois assunto é o que não falta nas reses. A questão é saber filtrá-los e, caso
sejam relevantes, CONVERSAR SOBRE ELES. Mas, reparem nas postagens
(especificamente falando das redes), quando elas são um pouco maiores (tipo
cinco ou mais frases, poucos leem rsrrs e raros comentam). Estamos ficando
preguiçosos ou, pior, NÃO QUEREMOS NEM SABER O QUE O OUTRO PENSA!
Em que eu acredito? Na conciliação da tecnologia e do
diálogo. Mais que isso. Acredito que a tecnologia deve nos servir e nos
humanizar e humanizar implica em dialogar. Telefonema virou luxo. Olhar nos
olhos então, já tem pessoas que se sentem constrangidas se começamos a
fitá-las. Basta pensarmos em qual foi a última vez que conseguimos conversar
longamente com alguém olhando nos olhos da pessoa, sem que um toque de celular
atrapalhasse. Entendo que o celular é essencial; mas, chego a ser radical
quando; por exemplo, preciso de dez minutos com alguém (MÍSEROS DEZ MINUTOS!!!)
e a pessoa n;ao desliga ou silencia o celular. Eu faço isso! Sempre que alguém
diz: “Mari, preciso falar com você!”, a primeira coisa – depois do susto! Rsrs
– que faço é silenciar o celular. É grosseiro, estarmos conversando com a
pessoa e a criatura visualizando whatsApp... Com raras exceções, isso pode esperar
um pouco né?
E, de tanto ver muito e de conversar pouco, estamos
desaprendendo a ouvir. E, quem não ouve, não conversa. A nossa impaciência
aliada à pressa e à fluidez das coisas está fazendo com que acreditemos que
conversar é perder tempo. Se repararem bem, falta assunto, quando não há
programas de TV, posts, piadinhas, fofocas de artistas... E falar sobre nós
mesmos? Pra quê? Com quem? A quem interessa? Pensar sobre isso e concluir que
conversamos cada vez mais é sinal de que ao estamos apenas nos calando; mas,
também, nos anulando.
É preciso se sentir à vontade com ö outro”, falar de nós
mesmos e ouvir o que ele tem a dizer. Se nós, adultos, estamos conversando cada
vez menos entre nós,com que direito reclamamos dos adolescentes que passam a
maior parte do dia trancada em seus quartos on line? E, nem precisa ser
adolescente (meã culpa). Neste exato momento, estou no meu quarto trabalhando
enquanto minha mãe está on line no Facebook e
acabou de me mandar um vídeo pelo Whats. Moramos na mesma casa e nos
encontramos pela manhã, depois na cozinha para almoçar e..., por vezes, uma
“visita o quarto da outra”. Isso é muito louco! Rsrsrs Rio agora, mas, sei que
lamentaremos isso um dia: Ah, porque não conversamos mais enquanto podíamos!” E
é assim que ocorre na maioria dos lares...
Enfim, não se trata aqui de levantar bandeira contra ou a
favor de determinada postura, mas de repensar até que ponto isso nos faz
melhores ou piores em termos de civilidade, de cultura, de educação e de
afetividade. Mais um tempo assim, e não sentiremos mais a falta de ouvir as
vozes de quem amamos... Isso não entra na minha cabeça. Nós ainda escrevemos.
Sim, escrevemos. Mas, muita coisa se perde na escrita: o olhar, a entonação, o
timbre da voz... Tudo pode COEXISTIR: celulares, abraços, whatsApps; conversar
ao vivo; posts no Face; encontros reais; amizades virtuais; fotografias;
viagens... Uma atitude não anula a outra. Posto fotos e selfies, porque
vivenciei algo bom e quero compartilhar, posto um encontro com amigos, porque
estive com ele e CONVERSEI COM ELES... Importa estar junto, DIALOGAR, tocar o
outro com palavras e com afagos... Em tempo. Ou seja, feliz daqueles que ousarem olhar para "cima" e procurar outros olhares que não estejam fixados numa tela. ‘’E no meio de tanta
gente eu encontrei você. No meio de tanta gente chata sem nenhuma graça.” (Marisa Monte)
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