POR MARI MONTEIRO
São tantos temas e tantos dramas tão importantes e fugazes,
que mal assimilamos uma informação, chegam outras e mais outras... E a intenção
é esta mesmo: NÃO SOBRAR TEMPO PARA QUE NOS DEBRUCEMOS SOBRE NENHUM ASSUNTO AO
PONTO DE ENTENDÊ-LO. Assim tem sido em todos os âmbitos: político, social,
econômico e afetivo. E, como ouço desde criança, “vamos empurrando com a
barriga”. E algumas pessoas fazem isso literalmente. É o caso dos adultos cuja
obesidade tomou uma proporção imensa e a pessoa acha que está “tudo bem”.
Lamentavelmente, se isola e fica numa ZONA DE CONFORTO IMAGINÁRIA. Sem
generalizar, obviamente, mas não sabemos lidar com nossos dramas pessoais e a
obesidade é uma deles. E se, nós, adultos, não sabemos, imaginem as crianças.
No caso das crianças, a cada ano que passa é possível
observar o aumento da obesidade e suas consequências. Na maioria dos casos, a origem – além dos
péssimos hábitos alimentares – está no sedentarismo “hereditário”. O termo
“hereditário”, empregado no título, carece de uma breve justificativa. Ocorre
que, baseada em observações de grupos de famílias em locais de lazer como
praças de alimentação, restaurantes, praias e piscinas e também nas crianças em
ambientes escolares (especificamente no Ensino Fundamental I, cuja faixa etária
está entre 6 e 9 ou 10 anos de idade), é possível concluir, sem muito esforço,
que quando as crianças são obesas, os pais também o são ou, em alguns casos,
pelo menos um dos dois (pai ou mãe) o é.
A partir desta observação, é possível supor que, muito
provavelmente, os pais não praticam atividades físicas, nem de forma individual
e nem em grupo; ou seja, raramente, vemos os membros de uma família pedalando,
jogando bola ou caminhando juntos. Soma – se a esta constatação o fato de que
as crianças já nascem tendo tudo à mão. É a “Lei do Mínimo Esforço”.
Para fins de “justificativa”, tanto para o sedentarismo,
como para a obesidade, não faltam argumentos. Porém, o principal deles é a
famosa FALTA DE TEMPO: “não sobra tempo para o lazer”; “chegamos muito tarde em
casa”; “tenho dupla (ou tripla) jornada de trabalho e, quando chego em casa,
quero mais é me deitar”. Isso tudo procede na maioria dos lares? Sim! É muito
difícil conciliar trabalho, família, estudos e atividades físicas? Sim! Muito!
A questão é que precisamos pensar a médio e
a longo prazo. Ou seja, o que consideramos “saudável” e necessário à
nossa saúde e bem estar no momento, que é, PRIORITARIAMENTE DESCANSAR, COMER E
DORMIR, mais adiante nos trará vários problemas de saúde. Há uma parcela da população
apresentando problemas de saúde como diabetes e de pressão alta, por exemplo,
com idade cada vez menor.
Sobre nossos péssimos hábitos alimentares, as justificativas
são muito parecidas: “comenos muito fora, porque não tenho tempo pra fazer
almoço e jantar todos os dias”; “fazemos lanche no jantar, porque estamos
cansados e é mais prático.” Contudo, no caso da alimentação, há um agravante: o
ato de comer “por impulso”. Às vezes, comemos tão rapidamente que nem
saboreamos a alimentação ou prestamos atenção às suas cores e às texturas. E
tudo isso junto contribui para o aumento de peso, o que funciona mais ou menos
como um “efeito dominó”: os maus hábitos de alimentação mais o sedentarismo
levam à obesidade infantil, que leva à baixa autoestima, que leva ao isolamento,
que, eventualmente, leva à depressão e outros problemas que se agravam com a adolescência
como bulimia ou anorexia.
Nas fases da infância e da adolescência surge, ainda, outra
questão que carece de cuidados e de soluções: o bullying. Neste caso, o
bullying relacionado especificamente à obesidade. Não é raro andarmos pelos
corredores das escolas e salas de aula e nos depararmos com alunos com blusões
largos de moletom e com capuz. Às vezes, nem está frio, mas está lá a pessoa
tentando se esconder. Isso é triste. Ainda mais quando um adulto (adultos são
bons em questão de insensibilidade) diz na frente de todo mundo algo assim:
“ESTÁ DOENTE GAROTO (A)? TIRE ESTA BLUSA AGORA!”. É preciso ter um mínimo de
TATO, quando lidamos com GENTE, e isso deveria ser “OBRIGATÓRIO” nas escolas,
já que supostamente é um local onde (também supostamente) reina a educação (só
que não!).
“(...) A criança obesa é muito afetada pelo bullying, já que
a forma de seu corpo gera insultos e apelidos, causando isolamento e depressão.
É preciso ajuda mútua entre pais e professores para combater as agressões. Os
pais devem ficar atentos aos sinais dos filhos, como falta de interesse pela
escola, choros frequentes, sentimento de raiva. A escola tem o papel de
orientar o fim dessa prática e punir, visando à aprendizagem, os alunos que
realizarem o bullying.(...)” Fonte: PORTAL EDUCAÇÃO
É aí que entra o papel da escola que, é claro, não pode dar
conta de todos os “problemas extraclasses” inerentes aos alunos. Por isso,
acredito que o CURRÍCULO ESCOLAR CARECE DE UMA REVISÃO URGENTE no que se refere
aos conteúdos de ensino: o que é realmente importante ensinar e aprender? Neste
impasse, chegamos a trabalhar “no automático”; na correria dos dias e das
informações; porém com menos profundidade, com menos compreensão e com menos
DISCERNIMENTO. Deveríamos pensar numa maneira de incorporar questões
relacionadas à saúde (física e emocional) desde cedo nos conteúdos de ensino.
Muitos dirão (principalmente os profissionais mais conteudistas que
conhecemos): “pra isso existem as aulas de ciências e de Educação Física!”.
Não. Não é disso que estou falando. Isso é muito pouco, principalmente nas cargas
horárias destinadas a estas disciplinas. Falo de “ESPAÇO” no currículo para que
os professores (desde a Educação Infantil) possam trabalhar tais aspectos. O
que demanda menor número de alunos por sala; infraestrutura; formação etc.
Porém, enquanto isso não acontece, nós, enquanto docentes
ficamos duplamente frustrados. Isso porque, por um lado, os alunos não aprendem
de fato (DE FATO! com fluência na leitura e na interpretação e com habilidades
indiscutíveis em raciocínio lógico) e, por outro, porque não temos alunos
FELIZES CONSIGO MESMOS (muito menos nós ficamos felizes conosco mesmos),
críticos, corajosos, ousados, curiosos e POLIDOS...
Há, ainda, a questão do desperdício. É impressionante como
vemos nas escolas, em casa, em restaurantes o tanto de alimentos que são
deixados no prato e/ou jogados no lixo. Parte desta atitude abominável é fruto
de uma educação que não ensina à criança sobre a origem dos alimentos. Existem
crianças (com as quais já conversei) que acreditam cegamente que o leite “dá” em
caixinhas longa vida. Não conhecem nada (na prática ou “in loco”) sobre
agricultura, pecuária e similar. Esta
falta de conhecimento contribui para o desperdício; sobretudo, porque, parece
fácil demais conseguir alimentos. Estão nas prateleiras, nos “fast foods”. Eis
outra atividade que deveria ser contemplada no currículo escolar: o
reconhecimento e a valorização dos alimentos a partir do entendimento do
processo integral de produção.
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