Hoje li um trecho da Literatura de Cordel
de Patativa do Assaré (1909-2002). Diante das características do estilo do
autor, desatei a pensar no tanto de conhecimento e sabedoria que, soltos por
aí, por não serem formais e nem acompanhados do tão perseguido “deproma”,
deixam de ser disseminados e conhecidos... Pensei sobre o prejuízo que é não
poder usufruir de tamanha sapiência popular.
Expliquei aos alunos que ele (o Patativa) pode, com toda propriedade do
mundo, dizer e escrever “SENHÔ” ao invés de “SENHOR”, sem que isso seja
considerado um "erro ortográfico", pois, a ele cabe, além da
sabedoria popular, o uso da oralidade e da licença poética. Além disso,
trata-se de um autor que não passou mais que quatro meses na escola formal;
cuja base da escrita é a oralidade e os fatos do cotidiano, observados com a
mais profunda sensibilidade.
“Obteve
popularidade a nível nacional, possuindo diversas premiações, títulos e
homenagens (tendo sido nomeado por cinco vezes Doutor Honoris Causa). No
entanto, afirmava nunca ter buscado a fama, bem como nunca ter tido a intenção
de fazer profissão de seus versos. Patativa nunca deixou de ser agricultor e de
morar na mesma região onde se criou (Cariri) no interior do Ceará. Seu trabalho
se distingue pela marcante característica da oralidade. Seus poemas eram feitos
e guardados na memória, para depois serem recitados. Daí o impressionante poder
de memória de Patativa, capaz de recitar qualquer um de seus poemas, mesmo após
os noventa anos de idade.”
(Acesso em 19/02/2013)
Como se vê, definitivamente, não é a
apenas escola formal e suas estruturas físicas e humanas as únicas responsáveis
pela formação do cidadão. Sobretudo neste caso, a vivência e a humildade foram
ingredientes fundamentais para a constituição de um saber que, distanciado dos
grandes negócios editoriais, teve, merecidamente, suas honras. Hoje aprendi
muita coisa com Patativa e com seus versos que contam a realidade, mas expõem
também seus sonhos.
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