POR MARI MONTEIRO
VALORES,
segundo o dicionário on line Houaiss: “(...) 12 Derivação: por extensão de
sentido. Conjunto de traços culturais, ideológicos ou institucionais, definidos
de maneira sistemática ou em sua coerência interna. (...)”. Ex.: valores da
família, da tradição, da vida militar.
VALORES,
segundo meu ponto de vista: conjunto de modos de pensar o mundo, de comportamento
e de atitudes pautadas pela ética. “Fazer ao outro naquilo que gostaria que
fizessem a mim.” (clichê que define bem o que penso sobre valores)
VALORES:
onde aprendê-los? Como leiga, mas muito curiosa que sou penso que trazemos
conosco uma carga genética que complementará nossa formação de caráter e,
inclusive, de valores. Porém, minha
convicção mais forte diz que a grande parte do que vivenciamos é o que determina
o aprendizado e a construção dos valores. Renato Russo escreveu um verso que
diz: “A MINHA ESCOLA NÃO TEM PERSONAGENS. A MINHA ESCOLA TEM GENTE DE VERDADE.”.
Foi o que aconteceu comigo. Hoje, quando abro minhas “malas”, percebo que boa
parte da bagagem que carrego comigo, foi aprendida através de exemplos, das
observações dos comportamentos dos outros, das minhas próprias reações às
intempéries da vida. E, neste percurso, além da minha relação com meus pais e
minha irmã, há três núcleos que me ENSINARAM muito sobre VALORES: a família da
DONA LINDOCA, Sr. ANTÔNIO MANUEL e o Sr. HECTOR.
Isso é
muito nítido para mim; sobretudo, porque, quando criança, tive a honra de
conhecer a família do Senhor Vicente de Souza e da Senhora LINDOCA MARIA DE
SOUZA. Um lindo casal de negros com seus sete filhos. Éramos vizinhos. Os
fundos do meu quintal davam direto para o cortiço onde moravam. Todos nós éramos
muito pobres, materialmente falando. Porém, desconheço uma casa e uma família
tão limpos e unidos. Foi com eles que aprendi boa parte do que carrego comigo
enquanto noção de FAMÍLIA, de COMPARTILHAR o que se tem, de RIR das pequenas
coisas, de oferecer CARINHO incondicional e desinteressadamente. Essa relação
permaneceu por anos a fio. Até que me casei, eles se mudaram e nos
distanciamos.
Impossível
esquecer a hora do jantar. Todos comiam juntos, apesar de não caberem na mesa.
E era um momento para colocar a conversa em dia... E todos falavam uns com os
outros sobre seus dias. AH! O DIÁLOGO. ONDE ESTÁ VOCÊ? Há uma fala do Senhor Vicente da qual jamais
esquecerei e, toda vez que me lembro dela me pego com um sorriso terno e
saudoso no rosto. Ele me olhava e dizia: “Sabe ‘zóio de folha’ (era assim que
ele me chamava), tá vendo essa negona linda aqui, gorda, pele bonita? Ela num
era assim não quando conheci. Ela era seca, magrela e cortava cana. Depois que
me conheceu tudo mudou. A gente cuidou um do outro e olha como ela é linda
agora!”. Em seguida, Dona Lindoca abria um sorriso lindo enquanto seus olhos
brilhavam olhando para Sr. Vicente. Sabem o que significa isso pra mim? UMA
LIÇÃO DE AMOR E DE DEVOÇÃO. São coisas assim que considero aprendizado de
valores. Algo aprendido, jamais esquecido e que sempre vai permear minhas
decisões.
Já o Sr.
Antonio Manuel é outro personagem inesquecível na minha vida. Só nos víamos nas
férias escolares, mas eram trinta dias nos quais aprendia muita coisa. Ele possuía
um afazenda, na qual minha tia era cozinheira. Sou fascinada até hoje por aquele lugar. Tenho
muitas fotos, além das lembranças. Quase todas as tardes, ele chamava a mim e
aos meus primos para sentar no tapete de sua biblioteca enorme e luxuosa. Ora
ele lia contos de livros, ora ele contava suas viagens pela Europa. E eu tinha
ali a oportunidade de “VER” mundos, personagens, linguagens totalmente alheios
ao meu cotidiano. Ele era muitíssimo culto, falava outras línguas e nos mostrava
os mundos dos livros. Falava baixo e
pausadamente. Aquilo me encantava. Não esqueço até hoje o timbre de sua voz.
ERAM LIÇÕES DE ZELO, DE COMPORTAMENTO, DE GOSTO PELA ARTE E PELOS LIVROS.
Diga-se de passagem: aprendi a comer com garfo e faca de prata e observando
como ele fazia. Abusada!
O Sr.
Hector e sua esposa Aurora eram argentinos e se tornaram nossos vizinhos por um
tempo. Eles não tinham filhos, então aos finais de semana, ele gostava de
reunir as crianças do cortiço para ensinar Inglês. Daí a minha familiaridade
sonora com este idioma e com o espanhol; não acerca da fluência. Mas, tudo que
ouço nestes dois idiomas me é muito familiar. Primeiro, porque eles falavam
mais em espanhol que em português. Aqueles momentos significavam muito para mim
e para as outras crianças, todos nós éramos alunos de escola pública e
estávamos ainda no Ensino Fundamental I, então ficávamos abismados com as
palavras que aprendíamos. Certa vez, ele promoveu uns passeios para as crianças
e seus respectivos pais ao cinema. Um dos mais luxuosos de São Paulo. Não me lembro
do nome do cinema e nem do desenho que assistimos. Só me lembro do quanto fiquei
maravilhada com aqueles carpetes vermelhos, poltronas imensas e com a tela
gigante. ESTAS FORAM LIÇÕES SOBRE A CULTURA E O GOSTO PELO APRENDIZADO.
Enfim, é a
este conjunto de vivências e de aprendizados incessantes, somados ao que
trazemos hereditariamente que dou o nome de VALORES. Valores com os quais me importo muito.
Sinto-me GRATA, PRIVILEGIADA e ABENÇOADA por ter tido a oportunidade de
conviver com estas pessoas. E, ainda hoje, COLECIONO LIÇÕES. Ainda estou
cercada de muitas pessoas que me ensinam coisas novas e reforçam meus valores
todos os dias. Caso eu me pautasse
apenas nestes personagens da minha vida e nesta pequena parte dela, já poderia afirmar
que sou uma pessoa muito protegida pelos ANJOS... Pois, estou certa que pessoas
assim, quando nos deixam, VIRAM ANJOS... E CONTINUAM POR PERTO A NOS GUIAR.
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