POR MARI MONTEIRO
O que você está prestes a ler são palavras IMPACTANTES;
sobretudo às Alma sensíveis dos educadores que AINDA ACREDITAM nas
possibilidades de aprender a LER e a ESCREVER com propriedade; com o
discernimento necessário para não ser manipulado ou ludibriado pelos meios de
comunicação ou por qualquer outra forma que exija uma interpretação mais
aguçada dos fatos. E não estou falando da “enganação” do clichê: “aprendemos a
ler e a escrever durante toda a vida”. ISSO É BALELA! Uma desculpa esfarrapada dos profissionais (há
muitas exceções) para justificar a grande soma de alunos que, ao final do
QUINTO ANO não leem com fluência e, muito menos, interpretam!
Este artigo
é sobre este FINGIMENTO GENERALIZADO que permeia o sistema de ensino
brasileiro. Somos uma VERGONHA MUNDIAL no quesito interpretação de texto.
Diante disso, as citações e argumentações aqui contidas são dirigidas a nós,
professores, porque antes de tudo, NÓS PRECISAMOS GOSTAR DE LER, DE ESCREVER E
DE INTERPRETAR... E conheço reinos “não tão distantes” em que os profissionais
da educação não leem, não interpretam e tem raiva de quem o faz!
“Ser escritor
é falar das coisas que
sabemos sem saber que o sabemos. Explorar esse saber e compartilhá-lo é um
PRAZER: o leitor visita um mundo que é ao mesmo tempo familiar e miraculoso.
Quando um escritor toma suas feridas secretas como ponto de partida, outorga
grande confiança à humanidade, conscientemente ou não. Minha confiança vem da
crença de que todos os seres humanos são SEMELHANTES, que outros carregam
feridas parecidas com as minhas e que, portanto, poderão compreender.” (ORHAN,
Parmuk)
Quando leio ou escrevo, me distancio do que sou agora. Posso
ser ou estar onde eu quiser. Neste suposto refúgio, eu me exponho. Exponho o
que, antes, era só meu. Compartilho. Ao compartilhar, mudo de ideia, tropeço em
minhas certezas, enxergo outras perspectivas... Vou seguindo, revendo
conceitos, revirando gavetas, redecorando meu ser em PERMANENTE CONSTRUÇÃO.
Neste sentido, compartilho da ideia de Catherine (texto abaixo):
“Quando estou muito
deprimida, vou ver uma exposição, procurando outra coisa, em outro lugar.
Quando o exterior é belo, me imagino bela no interior, é uma espécie de reflexo.
Uma coisa bela apaga todo o resto, é um modo de vencer as mesquinharias, as vicissitudes Eu poderia ficar ali por horas. Estou num mundo de equilíbrio, você
respira melhor. Isso me traz muita paz e tenho uma necessidade vital disso.
Para minha mãe, era a decoração: ela refazia o tempo todo o seu ‘interior’.”.
(Catherine – In. PETIT, Michèle – A arte de ler ou como resistir às
adversidades – São Paulo: Ed. 34, 2013).
Ao enxergar todas estas possibilidades, inevitável não
pensar nas pessoas que – por inúmeros motivos – foram privados da leitura, da
interpretação e da escrita. Tenho a
impressão de que vivem menos intensamente; não por conta do conhecimento
intelectual, mas por conta do quanto de ENCANTAMENTO há no fato de ler e de
compreender o lido. Isso lhes priva, ainda, de autonomia e cerceia as
possibilidades de ascensão social. Conheci algumas pessoas que viveram e
morreram sem saber ler e escrever. Pessoas ótimas, de caráter inquestionável,
generosas; porém, dependentes de amigos e de familiares para solucionar
questões que dependem da leitura e da escrita, o que nem sempre faziam de bom
grado. Considero isso TRISTE. Há os que dirão: “são coisas da vida”; “Questão
de escolha” etc. Eu não penso assim. Ouso dizer que é uma questão de
OPORTUNIDADE!
Lamentavelmente, temos situações muito parecidas acontecendo
ao nosso redor. Crianças com seus nove ou dez anos de idade (frequentando a
escola!) semi analfabetas. Diz-me: COMO
PODE UM INDIVÍDUO FREQUENTAR AS SALAS DE AULA POR CINCO ANOS E CONTINUAR
ANALFABETO OU ALFABETO FUNCIONAL? Não me conformo com coisas assim. Além do mais,
creio na questão das oportunidades e nas circunstâncias, mas, creio ainda mais
na ”vantagem” que há por detrás daqueles que nasceram e tiveram a oportunidade
(não creio em sorte!) de encontrar pessoas que se (PRE) OCUPARAM com elas, que
lhes ofereceram livros e... AFETIVIDADE. Digo isso com certa propriedade,
porque encontrei pessoas assim... E isso fez toda diferença na minha vida.
Saliento que acredito na relação entre AFETIVIDADE e
APRENDIZADO. Não aprendo quando gritam comigo. Aprendo quando me explicam,
educadamente, algo. Não aprendo quando me agridem fisicamente, mas quando me
abraçam... Por isso, creio que as palavras abaixo resume a importância desta
relação:
“Quando escrevemos, sentimos o mundo se mover, ágil,
transbordando de possibilidades, nem um pouco congelado. Enquanto escrevo,
mesmo agora, o mundo não se fecha sobre mim, não se torna mais estreito: ele
faz gestos de abertura e de FUTURO. Eu escrevo. Imagino. O simples fato de
imaginar me dá novamente vida. Não estou nem congelado, nem paralisado diante
do PREDADOR. Eu escrevo e percebo que o emprego correto e preciso das palavras
é como remédio para uma doença. Um meio de purificar o ar que respiro dos
miasmas e das manipulações dos criminosos da linguagem. (...). De repente, não
estou mais condenado a essa dicotomia absoluta, falaciosa e sufocante, a essa
escolha desumana de ser VÍTIMA ou AGRESSOR sem que haja uma terceira via MAIS
HUMANA. Quando escrevo, posso ser humano. (...). Eu escrevo também o que não
podemos fazer REVIVER. Escrevo também o INCONSOLÁVEL. (...). Ponho o dedo n
aferida e no luto como se toca com as mãos nuas a corrente elétrica e,
entretanto, NÃO MORRO. (...)”. (David Grossman – Conferência no Pen Club, 29 de
abril de 2007. Grossman escreveu essa conferência após seu filho ter sido morto
durante a última guerra no Líbano).
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