POR MARI MONTEIRO
Volta e meia eu penso no que “falta” para
entendermos e; sobretudo, para respeitarmos a pessoa que sofre de depressão.
Não entrarei aqui no mérito da discussão clínica sobre este mal. Já existem
muitos estudos e artigos sobre isso. O que me permite afirmar que não se trata
de falta de informação. FALTA NOÇÃO MESMO. Faltam bom senso e vontade de
COMPREENDER a situação e as circunstâncias que envolvem (e que ABSORVEM) uma
pessoa deprimida. Falta SENSIBILIDADE E EMPATIA.
Farei uso de muita metáfora e usarei de muita
licença poética para ser o mais fiel possível ao que sinto e ao que penso sobre
isso. A abordagem aqui é com base no meu “estado de depressão”.
Sofro deste mal (e de outros dele advindos há muitos anos). O motivo? Não há
um motivo específico no meu caso (e cada pessoa “desenvolve” a depressão por
motivos completamente diferentes). O que aconteceu foi que somatizei fatos por
anos, achando “BUNITO” ser forte. A sociedade (incluindo família, escola,
colegas, amigos...) me ensinou que gente boa
é gente que presta pra trabalhar e que não fica se lamentando e chorando pelos
cantos.
Resultado: uma hora surge um gatilho, que pode ser
uma demissão; um grito; uma ruptura ou um olhar de acusação. É o que chamo de “UMA
QUEDA EM SI”. E dói. Assim como num
tombo, com o sangue ainda quente, não sentimos a dor de imediato. Mas, à medida
em que nos “acomodamos” na cama, no travesseiro (na falta de um colo), a dor
surge devagarinho e mansa, encontrando um lugar ou vários lugares para se instalar como quem toma posse de um terreno.
Porém, diferentemente do tombo, seus hematomas não
são visíveis. Não posso engessar o membro quebrado; não posso tomar uma injeção
para baixar a febre e não aparecerá nada na tomografia feita no aparelho mais avançado
do Planeta. E assim começa a saga.
Primeiro, leva-se um tempo enorme pra que algum
médico (desses que agente encontra um em
cada 100), que te olha nos olhos, faz perguntas e levanta a hipótese de
depressão. E não estou falando de terapeutas, estou falando dos clínicos
gerais dos SUS, que é aonde vamos à busca da cura pro corpo, porque não
entendemos o cansaço, o desânimo, o sono ou a falta dele.
Enquanto o diagnóstico não chega, estamos - segundo os médicos – com virose. E, segundo
as pessoas mais próximas, estamos é com preguiça mesmo. E gente fica orbitando
entre estes “diagnósticos e essas acusações” por tempo indeterminado. E, pior,
nesse período sem prazo estimado para terminar, forçamos nosso corpo e nossa mente para agir
normalmente. E, quando não conseguimos, nos enchemos de CULPA.
Sofrimento dobrado. Os sintomas não somem. Quanto mais camuflamos – sim, porque chega uma hora que a culpa por sentir-se mal é tanta que a gente quer disfarçar, para evitar perguntas e mais acusações – mais ferozmente eles nos consomem por dentro. Uma tristeza absurda, uma escuridão que só a gente vê, uma voz que ninguém ouve porque a gente já não fala e, quando fala, a gente só sussurra temendo as represálias... Ou, simplesmente porque cansamos de ouvir coisas como:
- “Levanta, que preguiça é essa?”.
O corpo não quer levantar, está pesando uma
tonelada. E, por mais que eu saiba que tenho deveres e obrigações, ele não
obedece. Minha mente não tem “força” suficiente para “dar ordens” a ele. Aprendi
que forçar e não respeitar o próprio ritmo,
afim de – gradativamente – melhorar, só faz com que a gente se afunde. A cama vira areia
movediça.
- “Ah se você soubesse o que passei! E
olha: estou aqui?”. “ O que te aconteceu
não chega nem perto do que passei.”
Gente, não faz isso! É uma das piores coisas que
podem ser ditas a uma pessoa. Entre
outras consequências, pode fazer com que a gente pense que é um fracasso como
pessoa, como profissional, como tudo... DOR NÃO SE MEDE!
- "Olha, por que você não encontra
Jesus? Na minha igreja... bla, bla, bla...”.
Querido(a), a pessoa tem fé em algo. A questão
é a fraqueza em todos os âmbitos. Já vi
depoimentos de pessoas que praticaram
determinadas doutrinas ou frequentaram alguma igreja e melhoraram. Por algum tempo... Depois, na
recaída, cadê “todo mundo”? Não descarto e nem desmereço essa possibilidade. A
fé nos move. Seja lá fé em quê. Mas, já surtei algumas vezes quando me perguntam
(como se eu fosse cega): “Você quer conhecer Jesus? Quer aceitar Jesus na sua
vida?”. Ora, já o aceitei e o conheço à minha maneira. Quando estou com paciência,
peço que me descrevam Jesus. As respostas que mais ouço são: “Ah! Ele é maravilhoso!”;
“Ele é generoso!”; “Ele só quer nosso bem!”. Aí respondo: “Pois é esse moço mesmo.
Eu o conheço bem e gosto dele."
- "Saia de casa, vá ler um livro, arranje um
namorado...”.
Existe uma frase que diz que se não sou um bom
ímpar, não serei um bom par. Logo, a
questão não é namorar, ficar ou pegar alguém. Nossa autoestima não nos encoraja.
Por outro lado, de uma coisa eu tenho certeza, estar só é o pior que pode acontecer.
Isso no meu caso, pode não ser para o seu... O problema é associarem toda forma
de depressão à falta de um(a) namorado(a).
- "Pense positivo, não se entregue”.
As coisas
mudam de dentro pra fora. Tenha bons pensamentos... A gente sabe tudo isso. Mas, e pra
fazer? A gente não consegue sem ajuda, seja dos amigos, de profissionais
especializados e de medicamentos. E
nisso sou boa! Faço de um tudo (quando posso, financeiramente falando. Sim, porque
a falta de dinheiro agrava a depressão rsrs; ou, no mínimo, inviabiliza alguns “paliativos”
e tratamentos): meditação; dança; cinemas/séries; livros (inclusive de autoajuda!
rs); viagens; projetos; cursos; vinhos; novos perfumes; maquiagem; conversas...
As pessoas
estão, em sua maioria, muito bem intencionadas. Não duvido disso. A questão é
que é tudo muito relativo. Não é possível padronizar a depressão, nem suas
causas e nem suas consequências. Logo, o que parece ser “luz” pra mim, pode ser “escuridão”
para o outro.
Quando paramos pra pensar, cansados de palpites,
já estamos viciados em tarjas pretas ou em outro vício qualquer, porque já não há mais conversa que resolva, não há viagem
que dê jeito, compras que aquietem o coração... Porque deixamos nossa alma com
sede por tanto tempo que ela quase secou...
Hoje entendo
melhor dois versos de Renato Russo. No primeiro, ele diz: “ANTES EU SONHAVA, AGORA JÁ NÃO DURMO.” Os
sonhos fazem muita falta. E, apesar de ser muito sonhadora, os “assassinos” de
sonos não perdem a viagem: se não nos
tiram o sonho, tiram o sono. O segundo é: “TENTEI CHORAR E NÃO CONSEGUI.” Chega
um ponto em o choro não flui com a mesma intensidade e facilidade de antes e
isso me incomoda muito. O choro sempre me fez bem, Porém, atualmente, não tenho
conseguido chorar e se tem uma coisa da qual eu tenho medo é de “SECAR” por
dentro. Acredito que já esteja colhendo os “frutos” dos tantos “palpites”
socados na minha mente. Por vezes, escuto uma voz dizendo: "Não chore!". Não gosto dela.
Ainda bem que ouço outras coisas rsrs. “Mas, como
pode? Você é tão alegre!” É a frase que mais ouvi e ouço, quando digo que tenho depressão. Já
cheguei até a confundir isso com bipolaridade, porque tenho muito senso de humor e dou muita risada. Li muito e entendi que posso ser
depressiva e, mesmo assim, ser bem
humorada. O que, no meu caso, é meu melhor remédio.
Esta “história” não acaba aqui...
Até breve.
O corpo não quer levantar, está pesando uma tonelada. E, por mais que eu saiba que tenho deveres e obrigações, ele não obedece. Minha mente não tem “força” suficiente para “dar ordens” a ele. Aprendi que forçar e não respeitar o próprio ritmo, afim de – gradativamente – melhorar, só faz com que a gente se afunde. A cama vira areia movediça.
Hoje entendo melhor dois versos de Renato Russo. No primeiro, ele diz: “ANTES EU SONHAVA, AGORA JÁ NÃO DURMO.” Os sonhos fazem muita falta. E, apesar de ser muito sonhadora, os “assassinos” de sonos não perdem a viagem: se não nos tiram o sonho, tiram o sono. O segundo é: “TENTEI CHORAR E NÃO CONSEGUI.” Chega um ponto em o choro não flui com a mesma intensidade e facilidade de antes e isso me incomoda muito. O choro sempre me fez bem, Porém, atualmente, não tenho conseguido chorar e se tem uma coisa da qual eu tenho medo é de “SECAR” por dentro. Acredito que já esteja colhendo os “frutos” dos tantos “palpites” socados na minha mente. Por vezes, escuto uma voz dizendo: "Não chore!". Não gosto dela.
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