POR MARI MONTEIRO
Escrevo por vários motivos: porque gosto; por prazer; para
conversar; mas o que gosto mesmo é de escrever par inquietar, para atazanar
quem lê. Sinto certo prazer em imaginar alguém pensando: “Lá vem ela com essas
idéias de gente doida!”.
Agora, por exemplo, quero escrever sobre o que e sobre quem
realmente importa na minha vida. Porque a vida é muito curta e, sendo ela muito
curta, não quero perder tempo com coisas e com pessoas que não me importam.
Caos, correria, estresse, competitividade; “obrigação” de
seguir os padrões ditados pela mídia... Todos estes aspectos corroboram pra que
não pensemos nas prioridades ou, pior, para acharmos que tudo é prioridade e;
por, isso, temos de fazer tudo ao mesmo tempo agora. E, dessa forma, fazemos
tudo cada vez mais SUPERFICIALMENTE. E o que é superficial pra mim, de verdade,
não me interessa; logo não me importa. Não dá pra amar superficialmente; se
curar de uma doença superficialmente; morrer superficialmente; viver
superficialmente.
Então, o que vejo somos nós, humanoides perdidos no espaço, orbitando
em torno de TUDO e fazendo NADA. Não temos raízes, se temos estamos deixando-as
fracas, até não suportarem mais o “peso” dos galhos (nossos corpos). Falta
“ADUBAGEM”. E, como é que ser aduba uma alma pra sentir mais, para estar mais
alerta aos sinais e às sutis belezas e alegrias dessa vida? Com ingredientes
que estão cada vez mais difíceis de encontrar: CONTEMPLAÇÃO; EMPATIA; REFLEXÃO;
AUTOCONHECIMENTO; PAZ DE ESPÍRITO .
Neste mundo caótico em
que vivemos, onde, raramente paramos para fazer coisas ESPECIFICAMENTE HUMANAS
(ou que deveriam ser inerentes ao ser humano), me flagrei querendo saber o que
realmente importa na minha vida. E jamais imaginei que a resposta chegasse tão
rápida e nítida na minha mente: O QUE REALMENTE IMPORTA É QUEM SE IMPORTA
COMIGO. Egoísmo? Não. Seletividade e otimização do meu tempo.
O que me importa, falando especificamente no sentido
material, responderia: “O SUFICIENTE”. Porém, quando se trata de
relacionamento, não tenho dúvidas: são as pessoas que realmente se importam
comigo. O que independente de fatores como distancia; grau de parentesco;
classe social; religião. Se parar pra pensar não é uma quantidade tão grande de
pessoas assim.
Uma das principais justificativas usadas para a falta de
contato e de comunicação social é: “não sobra tempo pra nada!”. Eu sinto medo
disso. É preciso ter coragem para sentir medo. E medo é uma sentimento que a gente só confessa ou demonstra pra pessoas
em que a gente realmente confia. E eu temo, inclusive, não dar a devida importância às pessoas e às coisas que merecem.
E o que significa se importar com o outro? Podemos explorar
isso juntos nos questionando sobre alguns aspectos como, por exemplo de quantas pessoas, normalmente, ouvimos, dentro ou fora de
casa, indagações como: “Como você está?”; “Vamos conversar?”; “Se eu fosse um
‘gênio da lâmpada’’, quais seriam seus desejos pra hoje?”... Perguntas não
faltam; falta quem queira saber e esteja disposto a deixar de lado a TV, o
celular e afins para conversar, para
ouvir... Defendo a tese de que quanto mais perdemos a capacidade de ouvir, mais perdemos a capacidade de falar, de argumentar... E vamos nos emudecendo,
diminuindo o vocabulário até chegarmos, como já disse José Saramago, a grunhirmos uns para os outros. E, paralelo a isso, outra coisa grave acontece: estamos deixando de sorrir, ficamos mais sisudos, caras amarradas... FEIOS DE ALMA.
Gradativamente, estamos nos tornamos
“SERES INSTANTÂNEOS E MONOSSILÁBICOS”. Basta pensar um pouco sobre a seguinte
questão: A CONVERSA, SEJA EM CASA OU NO TRABALHO – e mesmo nas baladas _ TEM
QUALIDADE? OU SEJA, A CONVERSA FLUI? Na maioria dos casos não. Ou então nos
limitamos a falar dos outros, de piadas, dos fatos que todos já viram na
internet... E, nesse ritmo, perdemos a oportunidade de CONHECER MELHOR O OUTRO
e de NOS CONHECERMOS. Porque não falamos de nós mesmos. Não debatemos nossos
dilemas pessoais e, muito menos, os dilemas dos outros. Ainda assim, nos sentimos no direito de falar de fulano e de beltrano e de julgá-los.
Estamos chegando a um ponto em que ficamos “sem jeito” para
conversar com os outros. Olhamos para os lados, falamos coisas triviais do
tipo: “será que chover?” e não sabemos onde colocar as mãos. Na verdade,
sabemos sim, estamos sempre com as mãos ocupadas com o celular (rsrsrs); o que,
aliás, “resolve” o problema de quem não quer conversar; principalmente, quando
temos um head phone em mãos... Pronto. Isso é como colocar uma placa na testa
com o aviso: NÃO QUERO CONVERSAR!
E nisso, vamos deixando de dar e de receber afeto. Precisamos dizer coisas boas às pessoas importantes da nossa vida. Mas dizemos? Não ou muito raramente. Tentem pensar no seguinte: "O que você diria para a pessoa mais importante da sua vida
se você soubesse que esse seria o último encontro?" Respondida pra si mesmo a
questão. Faça isso agora ou amanhã ao acordar. De preferência, marque um
encontro ou telefone... Porque até mesmo um telefonema virou luxo no mundo do
WhatsApp. Sinta-se importante quando alguém te telefonar (claro, que não seja
secretária do seu médico, dentista, cobrador, telemarketing e afins), porque
você poderá ouvir a voz da pessoa. Mas... Nada, absolutamente nada substitui o
olho no olho.
Justamente porque a vida é um sopro, tudo deve ser FEITO EM
VIDA, EM TEMPO...
- Fale o que sente.
- Olhe nos seus próprios olhos e pergunte o que você
realmente deseja?
- Contemple pessoas, paisagens, animais...
- Abrace sem medo e sem pressa. (já viram aquelas pessoas
que NÃO sabem abraçar? Não é culpa delas. Você as abraça e elas ficam paradas como
uma coluna do templo; ficam meio de lado, querendo se desvencilhar, abraçam de
modo frouxo... sem entrega. Este tipo de abraço nem conta.)
- Ouça as batidas do seu próprio coração antes de dormir, quando
tudo for silêncio.
- Importe-se com o que é importante. (outro dia fiz uma lista
de coisas que supunha importantes, guardei numa gaveta. Depois de dois dias, reli e a reduzi pela metade. Logo, terei mais tempo para cada “coisa” que me
importa... acho até que, periodicamente, refarei esta lista.).
Se já fiz ou se faço isso? Faço um pouquinho de cada vez. E
não é nada fácil, principalmente olhar pra nós mesmos na frente do espelho. É
assustador; sobretudo, porque a imagem mental que temos de nós mesmos não
corresponde à imagem real que os outros fazem de nós e a que o espelho mostra, quando resolvemos olhar pra ele demoradamente e de cara limpa. Mas, garanto que nada é
pior que a sensação de tempo perdido como dizia Renato Russo: “Todos os dias
quando acordo, não tenho mais o tempo que passou.” E, irônica e sabiamente ele
continuava: “Mas tenho muito tempo. Temos todo tempo do Mundo.”.
Enfim, pra facilitar as coisas (ou complicá-las...): SOMENTE
É IMPORTANTE QUEM SE IMPORTA E SOMENTE SE IMPORTA QUEM É IMPORTANTE. E, se
assim é, no final, tudo se resume a uma única palavra: RECIPROCIDADE. Mesmo porque, só nos ouvirá quem se importa conosco e só vamos querer
falar para que for importante pra nós. Pra que sair falando pelos cotovelos pra
quem não nos conhece; não dá a mínima; não sabe e nem quer saber da nossa história. Na maioria das vezes, quando contamos algo para alguém, a gente não
quer ser julgado e jogado na fogueira. De repente, a gente só quer ser ouvido
ou escutar: “Estou aqui.”.
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