POR MARI MONTEIRO
Não está
fácil!
Alguns dias
se passaram desde a publicação da parte I e, tendo eu cumprido o combinado,
devo dizer que é uma das coisas MAIS DIFÍCEIS QUE JÁ FIZ. O ato de SE EDUCAR,
de EDUCAR (ou reeducar) OS PENSAMENTOS chega a ser doloroso. Tento, tento todos
os dias e a todo o momento fazer a troca do negativo pelo positivo. Raras vezes
dá certo. A impressão que tenho é que temos uma tendência pessimista incutida
em nossa mente. De que forma isso ocorre? Posso arriscar algumas
possibilidades. Crescemos ouvindo que isso e aquilo outro não vai dar certo;
engolindo as desgraças veiculadas pela mídia; deparamo-nos com pessoas
negativas pelo menos uma vez ao dia... Isso soa um tanto desigual.
Penso numa outra
possibilidade. Que há uma luta INTERNA e DESLEAL dentro da gente. Quando eu era
criança, sempre ouvi dos adultos: “Olha lá viu, quem muito ri, depois chora.” E
eu, imediatamente engolia o riso. Isso só poderia fazer mal mesmo. Então
preciso DESAPRENDER muitas coisas. Especificamente, esta coisa do riso eu já
desencanei. Assim que conheci este texto de José Saramago sobre Sorriso:
PARA VOCÊ, UM SORRISO SUTIL. POIS GOSTO MESMO É DE CHORAR DE ALEGRIA!!! |
“Sorriso,
diz-me aqui o dicionário, é o ato de sorrir. E sorrir é rir sem fazer ruído e
executando contração muscular da boca e dos olhos.
O sorriso,
meus amigos, é muito mais do que estas pobres definições, e eu pasmo ao
imaginar o autor do dicionário no ato de escrever o seu verbete, assim a frio,
como se nunca tivesse sorrido na vida. Por aqui se vê até que ponto o que as
pessoas fazem pode diferir do que dizem. Caio em completo devaneio e ponho-me a
sonhar um dicionário que desse precisamente, exatamente, o sentido das palavras
e transformasse em fio-de-prumo a rede em que, na prática de todos os dias,
elas nos envolvem.
Não há dois
sorrisos iguais. Temos o sorriso de troça, o sorriso superior e o seu contrário
humilde, o de ternura, o de cepticismo, o amargo e o irónico, o sorriso de
esperança, o de condescendência, o deslumbrado, o de embaraço, e (por que não?)
o de quem morre. E há muitos mais. Mas nenhum deles é o Sorriso.
O Sorriso
(este, com maiúsculas) vem sempre de longe. É a manifestação de uma sabedoria
profunda, não tem nada que ver com as contrações musculares e não cabe numa
definição de dicionário. Principia por um leve mover de rosto, às vezes
hesitante, por um frémito interior que nasce nas mais secretas camadas do ser. Movem-se
músculos é porque não tem outra maneira de exprimir-se. Mas não terá? Não nos
conhecemos sorrisos que são rápidos clarões, como esse brilho súbito e
inexplicável que soltam os peixes nas águas fundas? Quando a luz do sol passa
sobre os campos ao sabor do vento e da nuvem, que foi que na terra se moveu? E,
contudo era um sorriso.”.
Quero dizer
com isso que crescemos cercados de crendices, que nem sempre fazem jus à
verdade. E, muitas delas, só fazem aumentar nossos medos. Como o MEDO DE
SORRIR, por exemplo. Sempre parava de rir na metade, pra não chorar no dia
seguinte. Sabe-se lá durante quanto tempo, fiz isso.
Enfim, não
desisti. Apenas confesso minha dificuldade e assumo minha necessidade de
DESAPRENDER muita coisa está arraigada no meu interior, dificultando minhas
superações. Continuarei a dizer das minhas dificuldades... Não mais com o
título de “Demônios interiores”; pois eles estão, DEVAGAR,SILENCIOSA E DOLOROSAMENTE se
afastando, claro... Deixando cicatrizes, algumas bem profundas. Mas não me
importo com elas... QUERO REAPRENDER; quaro rir sem medo; chorar sempre que for
preciso exorcizar a dor (por enquanto, este é o único jeito que conheço) e
dizer o que sinto, com sutileza, mas dizer, sem engasgar ou guardar dentro do
peito pra ficar dando náusea como s e eu
tivesse engolido um grande novelo de lã.
Aprendi mais uma coisa. Uma coisa que não quero fazer: ficar esperando
uma receita do além para não sentir dor. Mesmo porque, como dizia Renato Russo:
“(...) TODA DOR VEM DO DESEJO DE NÃO SENTIRMOS DOR. (...)”.
DERROTANDO, POUCO A POUCO, COM AS PARCAS "ARMAS" DE QUE DISPONHO, MAS COM MUITA FÉ, OS MEUS DEMÔNIOS INTERIORES. |
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