por Mari Monteiro
Primeiramente, preciso definir a
expressão “zona de conforto” constante do título deste artigo. Trata-se de onde
nos encontramos neste exato momento (a maioria de nós). Livros na mão, giz e
lousa. Há quem chame isso de falta de estrutura e culpe o sistema, a escola,os
gestores... Enfim. Eu chamo isso de zona de conforto. Enumero os motivos:
- posso justificar a péssima qualidade
do meu trabalho;
- não preciso ir além das páginas do
livro;
- acomodo e me sinto confortável com o
que já sei;
- o conteúdo é considerado,
literalmente, DADO, o que não significa: discutido, desenvolvido, trabalhado...
- através dos registros nos livros e
das tarefas feitas, posso comprovar que as aulas foram dadas: coloco data e
considero aula dada;
Poderia continuar encontrando outros
motivos. Mas estes bastam para que possamos REVER NOSSO PAPEL. Tudo, absolutamente tudo, amanhece DIFERENTE à nossa volta, menos a escola e o que
fazemos nela.
Conteúdo. O QUE É O CONTEÚDO? “Assunto, teor, soma de conceitos e
ideias de texto, obra, filme etc. o conteúdo de um
artigo”. Read more: http://aulete.uol.com.br/conte%C3%BAdo#ixzz2cQuu7FU8
Costumo dizer que conteúdo é tudo
que está no GOOGLE e que está nos LIVROS DIDÁTICOS! E quem vai me contradizer? Faça as perguntas e o Google
responderá. Isso é confortável. Todos os estudante e professores fazem isso. O
que não é nenhum pecado. O mundo usa a internet para descobrir o que não sabe.
Mas NÃO É MUITO INTELIGENTE; sobretudo, se o leitor/usuário do
buscador não souber FILTRAR e INTERPRETAR os conteúdos oferecidos pelo Google.
Pronto. Chegamos onde queria. PRECISAMOS
DEIXAR ESTA ZONA DE CONFORTO. Por quê? Porque há uma imensa
diferença entre LER os conteúdos dos links e FILTRÁ-LOS e; sobretudo, INTERPRETÁ-LOS. Caso continuemos ignorando as ferramentas usadas pelos
alunos para realizarem suas pesquisas e lições, no máximo, estaremos
contribuindo para a formação de ANALFABETOS FUNCIONAIS. É bom que tenhamos completa clareza
deste termo:
“Termo que se refere ao tipo de
instrução em que a pessoa sabe ler e escrever, mas é incapaz de interpretar o
que lê e de usar a leitura e a escrita em atividades cotidianas. Ou seja, o
analfabeto funcional não consegue extrair sentido das palavras nem colocar
ideias no papel por meio do sistema de escrita, como acontece com quem
realmente foi alfabetizado. No Brasil, o analfabetismo funcional é atribuído às
pessoas com mais de 20 anos que não completaram quatro anos de estudo formal.
Mas a noção de analfabetismo funcional varia de acordo com o país. Na Polônia e
no Canadá, por exemplo, é considerado analfabeto funcional todo adulto com
menos de oito anos de escolaridade.
O conceito de analfabetismo funcional
foi criado na década de 30, nos Estados Unidos, e posteriormente passou a ser
utilizado pela UNESCO para se referir às pessoas que, apesar de saberem ler e
escrever formalmente, por exemplo, não conseguem compor e redigir corretamente
uma pequena carta solicitando um emprego. Segundo a Declaração Mundial sobre
Educação para Todos, mais de 960 milhões de adultos são analfabetos, sendo que
mais de um terço dos adultos do mundo não têm acesso ao conhecimento impresso,
às novas habilidades e tecnologias, que poderiam melhorar a qualidade de vida e
ajudá-los a perceber e a adaptar-se às mudanças sociais e culturais. Na
declaração, o analfabetismo funcional é considerado um problema significativo
em todos os países industrializados ou em desenvolvimento. Mais de um terço da
população adulta brasileira é considerado analfabeta funcional.” (http://www.educabrasil.com.br/eb/dic/dicionario.asp?id=132 – acesso em 19/08/2013)
Trocando em miúdos: O analfabeto
funcional lê e escreve, mas isso não lhe traz qualquer TRANSFORMAÇÃO e nem acréscimo intelectual ou social
uma vez que não entende o que lê ou escreve. Diante disso, o Google pode lhe
oferecer milhares de links e suas dificuldades continuarão as mesmas. Neste
caso nem Google e nem professor fazem o papel de “FACILITADORES DA CONSTRUÇÃO DE SENTIDO
DA LÍNGUA ESCRITA”. Denominação comprida não é? Porém,
não encontrei definição melhor para o “NOVO” PAPEL QUE O PROFESSOR DEVE ASSUMIR.
Doravante, cada um de nós deve
redirecionar sua prática pedagógica. Não podemos nos ater somente aos conteúdos
de ensino. Eles estão ao alcance dos alunos em todo lugar. Redirecionar, neste
caso, implica em mais oralidade e questionamento acerca de tudo que é lido e
“descoberto”. O aluno precisa aprender a CURIOSIDADE e a DESCONFIANÇA SAUDÁVEL sobre as informações que lhes são
enfiadas goela abaixo. O aluno deve saber que tudo que foi dito ontem como
verdade absoluta, pode não ser tão absoluta assim. Este comportamento deve ser
instigado em sala de aula pelo professor.
O novo papel do professor implica ainda
em fazer inferências e ensinar seus alunos a fazê-las também. Por exemplo, lido
um texto ou uma informação, não cabe querer saber o óbvio sobre o conteúdo,
pois o óbvio está explícito nos conteúdos (mídias, textos etc.). É preciso
aprender a ler as entrelinhas, perceber a INTENCIONALIDADE dos autores, dos jornalistas, da mídia
em geral. Caso contrário, aí sim seremos apenas “DADORES DE AULAS”.
Acredito na profissão de educador,
aliás, foi bem por isso que a escolhi, porque a vejo como uma possibilidade de
transformação social. Não falo aqui de milagres ou de transformações em massa.
Falo de uma transformação paulatina, da diferença que um professor PROVOCADOR e ABUSADO pode fazer na vida do educando. De que
adianta conhecimento sem prática? Teoria sem entendimento? Tirar dez na prova
se esquece de tudo amanhã? Costumo dizer que o que FICA da vida escolar não são
os conceitos aprendidos (a maioria deles é efêmera e esquecida...). O que fica
são as PROVOCAÇÕES; os OLHARES SURPRESOS com algum a revelação feita pelo
professor e que não estava no texto; o NÓ NA GARGANTA diante de uma fala emotiva; a AUTENTICIDADE do professor percebida pelos alunos; os VALORES e os PRINCÍPIOS que condizem com a prática...
Enfim, não sei quanto a vocês leitores,
mas eu preciso (e tento isso a cada dia) redirecionar minha prática. Penso
muito no que não está ao alcance dos alunos e descubro que eles ( a maioria)
não tem “acesso” a diálogos, argumentações, direito de questionar,
textos e obras literárias de boa qualidade, o mesmo vale para a música e
para a arte. ENTÃO, O QUE FAZER? Não sei. Não há receita. O que há é uma VONTADE QUE NÃO CABE EM MIM de não me conformar com o que está
posto como educação, porque se isso funcionasse, não ocuparíamos uma COLOCAÇÃO TÃO VERGONHOSA no ranking mundial de educação. Assim,
continuarei provocando, orientando a filtrar conteúdos e informações,
interpretar, argumentar, formar o próprio ponto de vista e defendê-los com bons
argumentos e não com gritos ou violência. Pois mesmo o CORRETOR DO WORLD não é capaz de exercer esse papel. Ele
“diz”, em suas alternativas, onde está o erro ortográfico, dá algumas
sugestões, mas é incapaz de perceber que, no texto digitado, não há coesão ou
coerência. Ou seja, no world ainda não há a opção: MELHORE SEUS ARGUMENTOS. Logo, isso continua sendo uma tarefa nossa. Intransferível
e muito mais relevante que a “decoreba” de conteúdos. Mesmo porque
conteúdo e informação é o que não falta. Faltam SELEÇÃO, CRITICIDADE e ATITUDE.
Eu que vejo é uma geração de zumbis doutrinados a questionar e criticar sem a menor noção do que estão fazendo. Fazem protesto por esporte. A democracia permite qualquer um criticar. Mas quem tem decência, sabe que para criticar é preciso antes de tudo ter MORAL.
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