POR MARI MONTEIRO
Sempre que o assunto é RELACIONAMENTO A DOIS, a canção “O mundo
anda tão complicado”, de Renato Russo me vem à mente como um ideário muito
particular do que entendo sobre relacionamento. Chega a ser INTRIGANTE como um
tema tão discutido e analisado em pesquisas e livros (sobretudo, de auto-ajuda)
é ainda tão complicado. Complicado no sentido de que, basta um olhar à nossa
volta para perceber o quanto existem pessoas sozinhas; pessoas com medo de
assumir um relacionamento mais sério; pessoas “mergulhadas” em relacionamentos
de fachada; relacionamentos CHEIOS DE NÓS, amarrados... Relacionamentos
decadentes...
Sabem o que os “NÓS NÃO DESATADOS” fazem? Eles nos imobilizam.
Impedem que nos movimentemos rumo à pessoa amada. Eles nos fazem pensar que é preciso esperar
que até que “ALGUÉM SEM NÓ APAREÇA”! Não há momento certo! Não há a pessoa
perfeita. NÃO EXISTEM PESSOAS SEM NÓS PARA SEREM DESFEITOS. Portanto, caso
esteja esperando pela pessoa perfeita,
linda e LIVRE DE PROBLEMAS, esqueça! Você está fadado(a) a viver Sozinho(a)!
Posso fazer, no mínimo, três afirmações irrefutáveis sobre relacionamentos:
Trata-se de um tema clichê; é um assunto inesgotável e, por fim, NADA que se
diga se aplica a TODOS os relacionamentos. No máximo, o que pode acontecer é
uma adaptação superficial daquilo que se lê e daquilo que se aprende.
Penso que TODO relacionamento envolve um MISTERIOSO aglomerado de
“coisas”. É como se, o que contasse para dar certo, fosse o “conjunto da obra”
e não a obra (entenda - se pessoa) em
si. Ou seja , não se ama apenas a pessoa; mas TUDO que a
envolve: suas atitudes; seus olhares para os mais diferentes cenários; sua
índole; seu cheiro; sua pele; sua voz; seu sono; sua insônia; sua busca; seus sonhos; seus
desejos; suas frustrações...
Cada ser possui, em maior ou menor quantidade, uma série de nós
que não desatamos durante a vida. Estas situações, muitas vezes não resolvidas
ou que nos decepcionaram, “amarram” os relacionamentos presentes e futuros: minam a
confiança no outro; fazem com que se acredite que tudo para dar certo tem de estar
tão preso e seguro quanto um nó bem dado... Bem
por isso, prefiro o titulo “NÓS E OS NOSSOS NÓS” em detrimento ao chavão "Relacionamento a dois". Relacionamentos somente dão certo quando os DOIS estão dispostos a desatarem seus nós, cada um a seu tempo. Sabendo que há “nós” tão fortes
que precisam de CUMPLICIDADE para ser desfeito.
Uma vez que acredito que qualquer relacionamento prescinde de CUMPLICIDADE e de CONFIANÇA, sinto-me à vontade para usar esta letra de
Renato Russo para ilustrar o que entendo como um relacionamento,
literalmente, a dois.
“O MUNDO ANDA TÃO COMPLICADO
Gosto de ver você dormir
Que nem criança com a boca aberta
O telefone chega sexta-feira
Aperto o passo por causa da garoa
Me empresta um par de meias
A gente chega na sessão das dez
Hoje eu acordo ao meio-dia
Amanhã é a sua vez
Vem cá, meu bem, que é bom lhe ver
O mundo anda tão complicado
Que hoje eu quero fazer tudo por você.
Temos que consertar o despertador
E separar todas as ferramentas
Porque a mudança grande chegou
Com o fogão e a geladeira e a televisão
Não precisamos dormir no chão
Até que é bom, mas a cama chegou na terça
E na quinta chegou o som
Sempre faço mil coisas ao mesmo tempo
E até que é fácil acostumar-se com meu jeito
Agora que temos nossa casa
é a chave que sempre esqueço
Vamos chamar nossos amigos
A gente faz uma feijoada
Esquece um pouco do trabalho
E fica de bate-papo
Temos a semana inteira pela frente
Você me conta como foi seu dia
E a gente diz um p'ro outro:
- Estou com sono, vamos dormir!
Vem cá, meu bem, que é bom lhe ver
O mundo anda tão complicado
Que hoje eu quero fazer tudo por você
Quero ouvir uma canção de amor
Que fale da minha situação
De quem deixou a segurança de seu mundo
Por amor”
( http://www.vagalume.com.br/legiao-urbana/o-mundo-anda-tao-complicado.html#ixzz35h3iqoAk
– acesso em 27/06/2014 )
“(...) Hoje eu acordo ao meio-dia
Amanhã é a sua vez. (...)”
Estes versos traduzem o que penso de um relacionamento em que há
troca; em que há RECIPROCIDADE. Quando um sabe das dores e do cansaço do outro
e, COM MUITO ZELO, propõe uma espécie de rodízio para que as mazelas e a rotina
não consumam e nem se sobreponham aos sentimentos e ao afeto.
“(...) Vem cá, meu bem, que é bom lhe ver
O mundo anda tão complicado
Que hoje eu quero fazer tudo por você. (...)”
Em tempos de relacionamentos que ocorrem, digamos, no modo
“INSTANTÂNEO”, a “oferta” é imensamente maior; assim como, as facilidades de
acesso ao outro. Qual é o esforço gasto no processo de CONQUISTA? Em alguns
casos, o “processo” nem existe. O acesso já é a passagem para “os finalmentes”.
É como entrar num trem que te leva direto do ponto “A” ao “B” sem que você
tenha apreciado o trajeto. Viagem sem graça esta. Mas, há
quem goste e, pior, quem, lamentavelmente, só fará viagens assim.
Já os relacionamentos mais sólidos exigem um maior empenho. Quanto mais se
conhece o outro, mais nós há para serem desatados. É preciso caminhar JUNTOS; falar sobre as
PAISAGENS. É preciso fazer por merecer cada gesto de carinho e, claro, retribui-lo... Cada um, à sua maneira, sem pressa,
revelar suas mais íntimas vontades, virtudes e defeitos... Gostar ou não do
que será mostrado é parte do processo. Gostar ou desgostar depende também do
quanto o outro está disposto a valorizar e até mesmo a aceitar as diferenças. Graças a Deus somos diferentes. Eu odiaria namorar uma "MARI". (rsrs). Gostar ou não está relacionado, inclusive, à predisposição para a CONQUISTA, ao tempo dedicado a esta ARTE.
A letra que, de certa forma, esmiucei, é atemporal. Isso é
perceptível no próprio título; pois, como negar que “o mundo anda tão
complicado”? Letra pertencente ao CD V, lançado em 1991. Meu Deus! Passaram-se VINTE
E TRÊS ANOS e a maioria de nós ainda não consegue se relacionar de modo recíproco e afetivo como propõe canção.
Posso conjecturar em torno de alguns motivos que "justifiquem" este fato: somos HORRÍVEIS; somos EGOÍSTAS; exigimos DEMAIS do outro; não cultivamos AMOR PRÓPRIO para sermos BELOS aos olhos do outro; não confiamos; potencializamos os defeitos; não elogiamos e nem valorizamos as virtudes; não nos damos ao “trabalho” de falar com um tom de voz suave; somos COVARDES: temos medo de ser piegas ao dizer "eu te amo"... E não me venham com desculpas do tipo: dizer não importa. IMPORTA SIM! E, acreditem, quem ouve sempre sabe a verdade, se a fala foi real ou superficial... estas coisas a gente sente. Ah! como sente...
Posso conjecturar em torno de alguns motivos que "justifiquem" este fato: somos HORRÍVEIS; somos EGOÍSTAS; exigimos DEMAIS do outro; não cultivamos AMOR PRÓPRIO para sermos BELOS aos olhos do outro; não confiamos; potencializamos os defeitos; não elogiamos e nem valorizamos as virtudes; não nos damos ao “trabalho” de falar com um tom de voz suave; somos COVARDES: temos medo de ser piegas ao dizer "eu te amo"... E não me venham com desculpas do tipo: dizer não importa. IMPORTA SIM! E, acreditem, quem ouve sempre sabe a verdade, se a fala foi real ou superficial... estas coisas a gente sente. Ah! como sente...
E o DIÁLOGO??? Cadê? Impressionante como quase tudo, facilmente,
SUBSTITUI uma boa conversa: a TV; o Whats; imagens... Os textos viraram frases, as
frases se tornaram palavras que tendem a virar – como disse
em certa ocasião, José Saramago – GRUNHIDOS até silenciar... Quem dera os relacionamentos fosse
similares à letra de Renato:
“(...) Vamos chamar nossos amigos
A gente faz uma feijoada
Esquece um pouco do trabalho
E fica de bate-papo
Temos a semana inteira pela frente
Você me conta como foi seu dia
E a gente diz um p'ro outro:
- Estou com sono, vamos dormir! (...)”
O que a gente diz um pro outro? Queixas? Isso cansa! Vez por
outra, dizemos. Não somos feitos de ferro! Mas, essas coisas são viciantes.
Viram rotina num instante. E, logo, perdemos o jeito. Ficamos sem assunto. Até
as queixas já não fazem mais sentido. E os amigos que são comuns aos dois?
Aparecem apenas quando tem festa em ocasião especial? Por que não para um bate-papo no meio da semana?
O engraçado é que é fácil enumerar o que não é bom para o
relacionamento. Então, basta fazer o contrário! E para fazer? Façamos isso em
meio a tudo que for do cotidiano, em meio à correria (que, aliás, serve de desculpa pra tudo...). Ligar no meio da tarde. Conversar até de madrugada. Desligar
os celulares... (Nossa! Para algumas pessoas, isso equivale a desligar os
aparelhos que os mantém vivos!!! Rsrrsrs)
Este é o que chamo de “VERSO
DA SAUDADE”. É bom ver e rever a pessoa amada. Contemplá-la sem pressa... Sem
medo que ela se vá e não volte...
“(...) Quero ouvir uma canção de amor
Que fale da minha situação
De quem deixou a segurança de seu mundo
Por amor.”
Quanto a ouvir canções de amor, sempre haverá alguma que fale da
nossa situação. No meu caso, não tenho “uma canção”, tenho uma trilha sonora.
Finalmente, quem disse que amar é seguro? Haverá sempre novos nós a serem desatados. Por
vezes, estarão frouxos, bastará puxar uma das pontas e pronto! Outras vezes,
estarão apertados, cada um terá que SEGURAR DE UM LADO e esforçar-se para
desatar. Amar envolve conflitos e riscos. O que é bom, porque quando há conflitos, aprendemos a resolver. E quando há riscos, são
necessários CUIDADOS. Não aquele cuidado que sufoca como um nó apertado ou como
quem mata uma planta afogada com medo que ela seque... Cuidados como aqueles
que se tem com um recém-nascido: afagar sempre; velar o sono; atentar para o primeiro sinal de "instabilidade"; cuidar para crescer com saúde. Porque o amor, PARA DURAR, tem de ser assim: recém-nascido sempre e para sempre...
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